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Imagem mostra criança, de costas, olhando na direção da entrada de uma escola que fica do outro lado da rua

Pandemia ameaça aprofundar desigualdades no Brasil

Livro traz sugestões para evitar alta de disparidades educacionais e intergeracionais
02/03/2021 19:36

Ao reagir para mitigar a transmissão do novo coronavírus, a sociedade e os governos brasileiros fecham escolas e reduzem a atividade dos trabalhadores. Em razão disso, crianças e adolescentes vulneráveis e a população não-idosa, já preteridos na partilha da renda nacional e das transferências públicas, tendem a ficar ainda mais para trás.

No livro “Legado de uma Pandemia”, lançado pelo Insper, Naercio Menezes Filho, Ricardo Paes de Barros e Laura Muller Machado discutem as repercussões educacionais e intergeracionais da pandemia no país. Também apresentam sugestões para combater seus desdobramentos indesejáveis na desigualdade social.

Quando o sistema de ensino interrompe abruptamente a instrução presencial de dezenas de milhões de crianças e adolescentes e passa a operar a distância, os efeitos sobre o aprendizado dos estudantes variam fortemente conforme a inserção socioeconômica, escreve Naercio. Quanto mais vulneráveis, pior tenderá a ser o seu desempenho.

Gráfico em barras horizontais mostrando a densidade de moradores por dormitório por classe de renda na região Sudeste do Brasil. Nos domicílios prbres, há 2,3 moradores, nos ricos, 1,6. Fonte: PNAD Contínua, 2019 em Menezes Filho(2021).

 

Habitações precárias, com baixo acesso a infraestrutura sanitária e alta densidade de pessoas sob o mesmo teto, tornam-se ambientes hostis à boa evolução das habilidades cognitivas na primeira infância (0 a 6 anos). Insegurança na renda familiar, ao que a população pobre está desproporcionalmente exposta, também é fator de risco.

Sem apoio de creches e educadores especializados, que contribuem também na nutrição, e com o fim do auxílio monetário emergencial, crianças pequenas estarão submetidas a condições ainda mais adversas ao desenvolvimento intelectual e emocional. Na ausência de políticas corretivas, os danos à renda e à saúde dessa geração tendem a ser perenes.

Gráfico em barras horizontais mostrando a porcentagem de alunos do ensino fundamental cujos pais tem ensino médio, por classe de renda, para o Brasil. Para domicílios pobres, 36% dos pais tem o nível médio e 96% dos pais nos domicílios ricos. Fonte: PNAD Contínua, 2019 em Menezes Filho(2021).

 

Os prejuízos para os alunos vulneráveis do ensino fundamental ao médio relacionam-se ao acesso restrito às ferramentas da instrução a distância, bem como à baixa capacidade de pais ou responsáveis de incentivar e colaborar com o aprendizado domiciliar.

Gráfico em barras horizontais mostrando a porcentagem de alunos do ensino fundamental cujos domicílio tem internet, por classe de renda, para o Brasil. 73% dos domicílios pobres tem acesso à internet e 99% dos domicílios ricos. Fonte: PNAD Contínua, 2019 em Menezes Filho(2021).

 

Naercio sugere que equipes da Estratégia Saúde da Família, presentes em 98,4% dos municípios, passem a instruir os pais também sobre o desenvolvimento educacional dos filhos, em especial na primeira infância. A expansão do Bolsa Família, maior para lares com crianças pobres, e a definição de um plano eficaz de recuperação imediata do aprendizado para a volta às escolas também integram as sugestões do pesquisador.

Outro aspecto da desigualdade brasileira que pode piorar com a passagem da crise sanitária é a desproteção relativa dos segmentos jovens e em idade de trabalhar nas políticas de transferências de recursos governamentais. O gasto público per capita com idosos no Brasil é seis vezes a despesa com crianças, adolescentes e jovens –em 30 países avaliados pela Cepal, braço das Nações Unidas para a América Latina, nenhum outro ultrapassa a marca de quatro vezes nessa comparação.

Ricardo Paes de Barros e Laura Muller argumentam que o esforço de toda a sociedade para reduzir a propagação do coronavírus, apesar de fazer sentido humanitário e econômico, distribui custos desproporcionalmente para a população mais jovem, que tem a renda e a educação abaladas, enquanto seus benefícios se concentram nos idosos, mais suscetíveis a desenvolver as formas graves e a morrer da Covid-19.

A maneira sugerida pelos pesquisadores de compensar esse desequilíbrio seria cobrar da parcela mais rica dos idosos uma contribuição tributária maior nos próximos anos, seja pela redução de benefícios fiscais, seja pela elevação do Imposto de Renda. Seria um modo de o pagamento da dívida federal para combater os efeitos da pandemia, estimada em R$ 800 bilhões em 2020, não vir a reforçar a disparidade entre as gerações.


Acesse o livro

“Legado de uma Pandemia”



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