Realizar busca

“Uma experiência individualizada na qual o professor sabe quem é cada aluno”

O professor Igor Montagner explica o que os alunos vão aprender na disciplina Developer Life do novo curso de Ciência da Computação

O professor Igor Montagner explica o que os alunos vão aprender na disciplina Developer Life do novo curso de Ciência da Computação

Igor Montagner
Igor Montagner, professor de Developer Life

 

Leandro Steiw

 

Igor Montagner trabalha com pesquisas na área de Educação em Computação, com foco no uso de metodologias de ensino centrado no aluno. Bacharel e doutor em Ciência da Computação pela Universidade de São Paulo, com estágio de doutorado sanduíche no Institut National des Sciences Appliquées (Insa) de Rouen, na França, ele trabalhou com aprendizado automático de operadores entre imagens, uma área que junta machine learning e processamento de imagens. Atualmente, estuda o impacto no aprendizado de habilidades profissionais que vão além do conteúdo ensinado em aula. No Insper, Montagner é um dos professores da disciplina Developer Life, ministrada no primeiro semestre do novo curso de Ciência da Computação, e vai cuidar da parte de jogos. Ele também leciona Desenvolvimento Aberto, em que os alunos contribuem com projetos de software livre — outro de seus campos de interesse, examinando os benefícios que o uso do software livre pode trazer para a educação dos estudantes.

Como vai funcionar a disciplina de Developer Life?

Muitas vezes, nos cursos de Ciência da Computação, o conhecimento é apresentado de maneira fragmentada. Aprende-se um pouco de programação, design, sistemas web, talvez de jogos, separadamente. Depois, cabe ao aluno juntar os pedaços. Para um aluno que nunca viu banco de dados e, de repente, tem uma matéria inteira sobre isso, muitas coisas não farão sentido. Se você nunca desenvolveu um sistema, possivelmente vai ver nas disciplinas soluções para problemas que nem sabia que existiam. Então, normalmente, esse “juntar os pedaços” fica para depois da faculdade.

A ideia de Developer Life é fazer o contrário disso. No início do curso os alunos vão aprender um pouquinho de tudo — sem ser profundo, porque é o primeiro semestre. Eles vão aprender a programar um pouco, o suficiente para conseguir resolver algum problema que achem interessante resolver. Vão aprender noções de design de interação, que trata de saber se os usuários conseguem usar o programa criado para suprir suas necessidades. Vão ter também as primeiras experiências do que é desenvolver um software em equipe, criando um jogo e depois um sistema web. Todos esses assuntos são abordados em detalhes no restante do curso. Porém, com essa primeira experiência, partimos de um ponto de mais maturidade e entendimento dos desafios da área.

No início da faculdade, é habitual que os alunos tenham conhecimentos prévios diferentes. Como essa metodologia funciona se a turma for muito heterogênea?

Isso já acontece na Engenharia de Computação. Alguns ingressantes sabem mais programação do que outros, mas isso não torna as disciplinas dispensáveis. Pelo contrário: como fazemos um acompanhamento mais individualizado, podemos sugerir novos desafios para aqueles que já dominaram certos assuntos. Isso ajuda a manter o interesse no aprendizado. Para mim, uma das coisas que definem o tipo de experiência que queremos dar para os alunos é a ideia de que existe um contato em que o professor sabe quem você é. Isso significa que é possível individualizar as coisas e que em muitos pontos o aluno tem liberdade de escolha dentro dos objetivos do curso.

Como a ideia é trabalhar em equipe desde o início, não dá para imaginar mais aquele programador introspectivo, que ficava fechado no seu computador?

Esse estereótipo vem das décadas de 80, 90, quando o interesse por computadores era mais localizado em um grupo pequeno de pessoas. Com tecnologia mais simples e problemas menos complexos, era possível uma só pessoa criar grandes inovações (para a época). Hoje os problemas resolvidos com tecnologia estão tão mais complexos que não existe uma só pessoa que possa resolver tudo. E, nessa situação, uma equipe formada por um monte de gente que não se comunica, que não gosta de falar com outras pessoas, que não gosta de trabalhar junto, não é desejável. Não tem problema ser introvertido ou introspectivo, mas tem que saber se comunicar de maneira eficiente.

Outro ponto importante é a consolidação da computação como parte integral do negócio das empresas. Ou seja, precisamos de cientistas e engenheiros de computação que possam se comunicar com os especialistas de negócio e criar soluções que estejam de acordo com as políticas e as prioridades da empresa e com regulamentações governamentais.

Mesmo em uma visão mais técnica, a comunicação é importante. Eu trabalho com uma disciplina chamada Desenvolvimento Aberto, na qual os alunos contribuem com projetos de software livre. Nessa disciplina o aluno trabalha em softwares que já existem, propondo melhorias e corrigindo erros. Dificilmente as propostas dos alunos são aceitas sem modificações. É necessário se comunicar com a equipe principal de desenvolvimento, recebendo feedback e implementando melhorias até que a solução proposta seja considerada boa. Ou seja, para conseguir contribuir para um projeto de software, é preciso se comunicar bem. Ainda mais porque cada aluno escolhe o projeto que mais lhe interessa. Eu oriento os alunos sobre como se comunicar com os projetos, acompanho suas interações e os ajudo no desenvolvimento das habilidades técnicas necessárias. Porém, toda a interação é feita diretamente entre os alunos e profissionais qualificados da área.

Por que é importante fazer uma faculdade em Computação?

A educação formal abre portas que ajudam a encontrar boas oportunidades, além de oferecer uma gama larga de conhecimentos e experiências da área. Nas graduações em Computação do Insper, isso ocorre tanto por conta da estrutura do currículo quanto pelos contatos dos próprios professores, já que muitos têm vasta experiência profissional. Existem diversos pontos de integração com empresas e organizações sociais no currículo, o que cria oportunidades de inserção profissional e também um aprendizado de como se portar num contexto profissional. Por exemplo, no Projeto Final de Engenharia, os alunos trabalham em projetos práticos de empresas parceiras do setor de tecnologia e são orientados por um professor. Já tivemos vários casos de alunos contratados pelas empresas parceiras do Projeto Final, por exemplo. O Projeto Final de Computação, do novo curso de Ciência da Computação, seguirá esses mesmos princípios de inserção profissional, orientação próxima pelo corpo docente e liberdade de escolha dos projetos pelos alunos.

O que esperar da profissão de desenvolvedor?

A Computação é uma área muito especial porque você pode fazer coisas, entre aspas, do nada. Experimentar é fácil, muitas vezes não exigindo autorização de ninguém nem outro recurso além da criatividade, tempo e uma boa dose de paciência. Mesmo quando um recurso é necessário, os custos de cloud estão cada vez menores e muita coisa é possível conseguir de graça se a escala for pequena. Para mim, essa possibilidade de criar, experimentar e tentar coisas novas é especial. Se não der certo, no pior dos casos você aprendeu algo tecnicamente interessante e que pode eventualmente servir para outra coisa no futuro. Outras vezes, essas experimentações crescem e se tornam negócios viáveis.

Por conta dessa possibilidade de criar, a Computação também é uma área com muitas novidades. Se todo mundo pode fazer alguma coisa, algumas delas serão muito legais. E isso atrai outras pessoas, aumentando a velocidade das mudanças tecnológicas e também seu alcance. O que era novo há cinco anos hoje pode ser obsoleto. Por isso, é difícil que alguém faça dois trabalhos idênticos. Sempre vão existir novas tecnologias, novas linguagens, e isso traz também novas possibilidades e necessidades. Inclusive, algumas grandes empresas estão começando a perceber que Computação não é só um custo em seus negócios, mas pode ser também o que as permite se adaptar a novas realidades. E, para isso, elas precisam de muita gente capacitada disposta a encarar novos desafios.

Quando escolheu a graduação em Computação, o senhor esperava tudo isso da profissão?

Entrei na faculdade já sabendo programar um pouco e usando Ubuntu Linux. Então, eu já tinha contato com a parte de experimentação e de novidades tecnológicas. O que eu não imaginava era a imensidão que seria a área de Computação. Trabalhei no Departamento de Inovação do Ibope Media, fiz pesquisas em machine learning e imagens no doutorado e hoje sou professor. Em tudo isso, tem muita computação, mas de formas diferentes e desafiadoras. Por isso, entendo que a faculdade deve proporcionar um suporte para que cada aluno siga seu caminho dentro deste grande mundo que é a área de computação.

 

Este website usa Cookies

Saiba como o Insper trata os seus dados pessoais em nosso Aviso de Privacidade, disponível no Portal da Privacidade.

Aviso de Privacidade

Definições Cookies

Uso de Cookies

Saiba como o Insper trata os seus dados pessoais em nosso Aviso de Privacidade, disponível no Portal da Privacidade.

Aviso de Privacidade