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Conferência do Clima traz avanços, mas fica aquém das expectativas

Adiada em um ano em função da pandemia, a reunião em Glasgow soma novos esforços e promessas de mudanças, mas de forma tímida

Adiada em um ano em função da pandemia, a reunião da COP-26 em Glasgow soma novos esforços e promessas de mudanças, mas ainda de forma tímida

 

 

Tiago Cordeiro

 

A humanidade (pelo menos, a parte que parece mais sensata) está ciente do risco que corre ao manter o ritmo atual de emissão de gases causadores do efeito estufa, capazes de aumentar a temperatura do planeta. As principais lideranças já haviam reconhecido que existe uma crise global em 2015, quando da assinatura do histórico Acordo de Paris, adotado por 197 países.

Não se esperava um acontecimento do mesmo porte na Conferência do Clima em Glasgow (COP-26), inicialmente marcada para 2020 e adiada em um ano em função da pandemia da covid-19. O compromisso dos participantes — líderes governamentais, das grandes corporações e do terceiro setor — era com planos mais detalhados que viabilizem, na prática, as propostas do Acordo de Paris. Nesse sentido, o encontro, que se encerra neste sábado (13), não representa um sucesso estrondoso. Mas tampouco pode ser caracterizado como um fracasso absoluto.

Por exemplo: a China e os Estados Unidos, os dois maiores emissores de gases de efeito estufa no mundo, anunciaram que vão cooperar para conter os efeitos do aquecimento global. Além disso, 40 países se comprometeram a eliminar o uso de carvão nas próximas décadas. Mas grandes nações consumidoras da matéria-prima de origem fóssil, como China, Estados Unidos e Austrália, declararam que não conseguem se comprometer com uma meta radical, sob o risco de fragilizar suas economias.

Como resultado, o rascunho do acordo final entre os países, divulgado dois dias antes do término da conferência, cita o problema representado pelo carvão, mas não entra em detalhes concretos a respeito de como e quando seu uso será reduzido, de fato, pelas principais economias, que são precisamente as mais poluentes.

 

Avanços pontuais

Alguns setores apresentaram metas conjuntas mais detalhadas. O setor de transportes, que representa 25% das emissões globais e atualmente depende quase inteiramente de combustíveis fósseis, apresentou uma série de iniciativas a respeito da implementação em larga escala de veículos elétricos, navios movidos a combustíveis sustentáveis e aviões que voam com hidrogênio verde.

Mas, mais uma vez, as intenções ainda não podem ser traduzidas em metas detalhadas, ainda que mais de 100 governos nacionais, regionais e locais e grandes empresas tenham assinado a Declaração de Glasgow sobre Carros e Ônibus de Emissão Zero. O texto prevê encerrar a venda de motores de combustão interna até 2035 nos principais mercados e até 2040 em todo o mundo.

O turismo, por sua vez, agregou mais de 300 entidades que se comprometeram a zerar as emissões de gases causadores do efeito estufa até 2050. Os signatários concordaram em medir, descarbonizar, regenerar e liberar financiamento, para depois apresentar metas específicas para os próximos anos.

A decisão pode representar, no mínimo, uma reversão de tendência: o setor emitia 1,5 bilhão de toneladas de gases em 2016 e a expectativa era aumentar em 25% até 2030, alcançando 1,9 bilhão de toneladas.

 

Situação do Brasil

Quanto ao Brasil, o país anunciou a meta de reduzir as emissões de gases causadores do efeito estufa em 50%, com a neutralização até 2050. Na avaliação de Marcos Jank, coordenador do Centro de Agronegócio Global do Insper, o país, que no passado liderou as discussões sobre a redução de emissões, chegou à COP-26 em situação de desvantagem.

“Nesse tema o Brasil agora é visto como vilão e o governo brasileiro está sendo pressionado, já que 65% do desmatamento acontece em terras controladas pelo Estado”, disse Jank. “Num cenário em que o presidente Joe Biden recolocou os Estados Unidos na dianteira das ações pela sustentabilidade e a União Europeia já aprovou seu Green Deal, o governo brasileiro está ouvindo muitas cobranças.”

No geral, produziu-se pouco na COP-26, quando se considera que as emissões precisariam ser reduzidas em 45% nesta década, para a humanidade limitar o aquecimento global em um grau aceitável. Para isso, a década atual deveria ser marcada por uma mudança drástica de rumo. Não foi o que se viu.

Como lembrou o ex-presidente americano Barack Obama em seu discurso durante o evento, algumas ausências, como as dos líderes da China e da Rússia, mas também do Brasil, foram especialmente notadas. “Foi particularmente desanimador ver os líderes de dois dos maiores emissores do mundo, China e Rússia, se recusarem a comparecer ao evento, e seus planos nacionais refletem o que parece ser uma perigosa falta de urgência, uma vontade de manter o status quo”, declarou. “Precisamos de economias avançadas como os Estados Unidos e a Europa liderando essa questão. Mas também precisamos de China e Índia, Rússia e Indonésia, África do Sul e Brasil. Não podemos permitir ninguém à margem.”

Fica a expectativa para a próxima conferência, a COP-27, a ser realizada no Egito em 2022.

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