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Empresas devem se reinventar na pós-pandemia

Gino Olivares analisa a necessidade de reinvenção das empresas no pós-pandemia e como esta crise afeta especialmente os pequenos e médios empreendimentos

Gino Olivares analisa a necessidade de reinvenção das empresas na pós-pandemia e como esta crise afeta especialmente os pequenos e médios empreendimentos

ENTREVISTA| CONTEÚDO SOBRE A PANDEMIA DE COVID-19 |ACESSE A PÁGINA ESPECIAL

Seguindo os esforços conjuntos de toda a Comunidade Insper para mitigar o impacto da Covid-19, produzimos conteúdos especiais para colaborar na tomada de decisão e na superação dos desafios deste período.

Gerar conhecimento que impacte positivamente a sociedade é uma das nossas missões e, neste momento, reforçamos nossa atuação com uma série de entrevistas, matérias, vídeos e webinars que abordam diversos temas e destacam cuidados e orientações que todos devemos atentar durante o isolamento social.

Na entrevista a seguir, Gino Olivares, professor do Insper, fala sobre a necessidade de reinvenção das empresas no pós-pandemia e o impacto desta crise sobre os pequenos e médios empreendimentos, entre outros assuntos. Confira:

1) Como você vê o impacto desta crise em relação às pequenas e médias empresas?

Essas empresas são, de fato, as que mais sofrem. Quando falamos de pequenas e médias empresas, estamos nos referindo a comércios de bairro, lojas em shoppings, por exemplo. São empresas nas quais o impacto sobre a receita é direto.

Pensando que esse seja um choque muito intenso, porém temporário, a resposta ótima seria conseguir financiar essa travessia, dado que o problema é de liquidez. O negócio pode estar muito bem, mas se não oferecer liquidez, entra em problema de solvência e a empresa se inviabiliza. As pequenas e médias empresas não têm grandes reservas, funcionam basicamente com o caixa do dia. Com a crise, isso zera, mas as obrigações como encargos trabalhistas, custos de estoque, aluguel e impostos continuam.

2) Qual sua visão sobre o apoio do estado, como o realizado por meio do BNDES, às micros, pequenas e médias empresas?

Na minha visão, o problema não passa pelo montante oferecido. Os valores totais aprovados parecem suficientes. O grande problema consiste em dois aspectos. O primeiro, em relação ao custo do crédito e, o segundo, sobre a dificuldade de acesso a ele.

Do ponto de vista macro, é mais importante fazer chegar a ajuda a quem precisa do que o montante em si. É mais uma questão operacional, logística e até normativa do que falta de recursos.

3) Neste cenário, quais setores são mais prejudicados? 

O comércio, em geral, se prejudica. A manufatura pode ter uma queda de produção, mas eventualmente vai se recuperar no próximo período, ter uma compensação. A demanda existe e precisa ser atendida em algum momento.

Agora, o serviço que não foi vendido agora, não será depois. Um salão de cabeleireiros, por exemplo, não vai recuperar no pós-quarentena os serviços que deixou de prestar.

E há alguns setores em específico que, mesmo na volta, terão muitas dificuldades. Turismo, hotéis e eventos de entretenimento estão entre eles. O fim da quarentena, quando vier, será uma boa notícia, mas esses setores não vão voltar tão cedo à situação original.

4) Como você a iniciativa de adiamento de impostos? 

Essa possibilidade bate na questão da restrição fiscal. Eu sou contra, por princípio, fazer qualquer tipo de Refis ou algo do tipo. Quando isso é feito, não é por preocupação com o devedor, mas sim porque o Estado precisa de caixa.

Isso cria um problema. A pessoa pensa: “eu pago esse imposto em dia e eu vejo que quem não paga fica na expectativa do Refis para ser beneficiado”. Logo, a resposta racional é: “eu também não pago.” Então, há um problema nesse incentivo, que acaba tendo um efeito perverso para que a pessoa não pague impostos.

Adiar o pagamento de tributos, agora, pode até aliviar momentaneamente os apuros de uma empresa, mas também não resolve o problema.

5) As empresas deverão se reinventar em um cenário pós-pandemia?

Com certeza. Se o consumidor vai se reinventar, as empresas também irão. A transferência para o mundo remoto, por exemplo, já vinha acontecendo e vai se acelerar ainda mais.

Na educação, por exemplo, tivemos em nossa escola o aprendizado de mudança, em uma semana, para o ensino remoto. Na mesma linha de reinvenção, a quantidade de viagens a trabalho, por exemplo, certamente irá ser reduzida. Temos tecnologia que permite a realização de reuniões a distância, com boa qualidade e custo muito menor.

As empresas descobriram também, ou ficou mais evidente, a dependência que elas têm em relação a outros países para acessar componentes para seus produtos. Se uma máquina precisa de 100 peças, por exemplo, você tem 99 e uma precisa vir da China, e há dificuldade nessa importação, seu produto não existe.

Então, esse seria um processo de reversão parcial da globalização. As empresas com as quais tenho conversado estão nacionalizando seus processos de produção e os internalizando para não depender de outros. A terceirização da produção está sendo revertida, pelo menos pelas grandes empresas, que querem ter controle da maior parte da cadeia para alcançar independência.

Isso deve levar a um processo de reindustrialização, inclusive estimulado pela situação atual do câmbio.

Gino Abraham Olivares Leandro é Doutor em Economia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro desde 2000. Bacharel em Ciências Sociais com Menção em Economia pela Pontifícia Universidade Católica do Peru, em 1992. No Insper, leciona desde agosto de 2014 para a Graduação em Administração e Economia (disciplina de Fundamentos de Macroeconomia e Econometria). Também é professor de Macroeconomia para o Mestrado Profissional em Economia. É professor adjunto desde janeiro de 2015.

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