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Insper reúne especialistas em debate sobre Reforma Tributária

Objetividade, transparência, equidade e simplicidade são pontos de destaque para que o sistema tributário brasileiro deixe de ser um dos mais complexos e difíceis do mundo

Objetividade, transparência, equidade e simplicidade são pontos de destaque para que o sistema tributário brasileiro deixe de ser um dos mais complexos e difíceis do mundo

O sistema tributário brasileiro é um dos mais complexos do mundo. De acordo com o projeto Global MNC TaxComplexity, desenvolvido pelas universidades alemãs LMU Munich e University of Paderborn, somente países como Zimbábue, Albânia e Etiópia apresentam modelos mais complicados que o do Brasil.

As causas dessa complexidade são conhecidas. A disfuncional segregação da tributação do consumo na Constituição é um exemplo. Espalhada entre vários níveis da federação, resulta na fragmentação da incidência entre produtos industrializados, mercadorias e serviços, induzindo a uma organização ineficiente das atividades empresariais. O desajuste tem gerado altos índices de contencioso e custos de conformidade nos últimos anos. O resultado disso é a redução da produtividade nacional e uma enorme insegurança jurídica.

Em um cenário assim, a Reforma Tributária vem ganhando espaço no noticiário e protagonizando o debate político e econômico do país. O Insper convidou especialistas e alunos para a discutir o tema com o encontro “Reforma Tributária: Mitos e Verdades”. O debate contou com a participação de Marcos Lisboa, presidente da escola, Vanessa Rahal Canado, coordenadora da pós-graduação em Direito do Insper, Melina Rocha Lukic, professora doutora da York University e autora do livro “Reforma Tributária: Ideias, Interesses e Instituições”, e Eurico Marcos Diniz de Santi, professor da Fundação Getúlio Vargas e membro do Centro de Cidadania Fiscal (CCiF).

Marcos Lisboa em debate com participantes de evento sobre reforma tributária.

 

“A reforma tributária é essencial para que possamos retomar a produtividade no Brasil. Se as empresas não sabem claramente quais são as regras tributárias, como elas investirão? Hoje, empresas como bancos e grandes varejistas estão deixando o país,” comenta Marcos Lisboa. “Para enfrentar a falta de recursos, a Receita Federal busca aumentar a arrecadação por meio de novas interpretações de regras”, lamenta.

 

Melina Lukic durante apresentação no evento sobre reforma tributária.

 

Para Melina Lukic, a complexidade do sistema tributário também é fruto de uma divergência improdutiva entre o Direito e a Economia. Segundo ela, a política tributária brasileira, desde a década de 60 até a última proposta de reforma, tem sido centrada na ideia de juristas que desconsideravam a economia para criar os tributos. “Em vez de criarmos um modelo tributário com lógica econômica, fizemos ao contrário. Criamos as regras da política tributária a partir de teorias do direito e só depois vimos as consequências práticas na economia. Ao meu ver, a centralidade no jurista foi a grande causa da complexidade do sistema que temos hoje”, analisa Lukic.

 

Vanessa Rahal Canado em apresentação durante evento sobre sistema tributário brasileiro

 

Vanessa Rahal Canado concorda, mas vê com otimismo os últimos acontecimentos, especialmente a reforma proposta pelo CCiF. Ela destaca que, pela primeira vez, a reforma tem recebido mais apoio do que o esperado. “Acredito que grande parte do acerto dessa proposta de reforma é resultado de muito estudo dos sistemas de outros países, além da junção de juristas e economistas.”

Eurico Marcos Diniz de Santi durante debate sobre reforma tributária

Para Eurico de Santi, o principal é garantir a transparência para o contribuinte. “Nosso desafio é resgatar a transparência para que os contribuintes saibam quanto estão pagando de tributos. Dar a eles a visibilidade da relação entre Direito, Economia e Política significa empoderá-los, já que são os verdadeiros titulares do ônus da carga tributária. Assim, garantimos o exercício da cidadania fiscal”, diz.

Propostas

A proposta de Reforma Tributária apresentada pelo CCiF prevê a unificação de cinco tributos –ICMS, ISS, IPI, PIS e Cofins – em um único imposto do tipo IVA (Imposto sobre Valor Agregado), denominado IBS (Imposto sobre Bens e Serviços).

O Brasil já tentou inserir o modelo de imposto tipo IVA três vezes, sem sucesso. Portanto, a proposta de migração do modelo de tributação para o tipo IVA não é original. A novidade está no padrão de transição tanto para as empresas, que teriam uma transição progressiva ao longo de dez anos, quanto para a distribuição federativa da receita do IBS, que teria transição de 50 anos. Além de não alterar a carga tributária, o modelo permite minimizar muitas das resistências encontradas em propostas anteriores. Outra novidade é a proposta de substituição do atual modelo de partilha e vinculações constitucionais de receita por um modelo em que a alíquota do imposto é composta por várias alíquotas singulares, não afetando a distribuição atual das receitas, mas reduzindo muito a rigidez orçamentária.

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) também desenvolveu um modelo baseado no IVA, assim como o CCiF. A diferença é que a proposta do IPEA é de um IVA Dual, implementado de maneira modular, em três fases, começando no nível federal e depois passando para os níveis estadual e municipal. No nível federal, propõe-se a adoção de duas medidas: substituição do PIS e da COFINS por um imposto ou contribuição sobre o consumo e transformação do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) em um imposto seletivo. Nas esferas estadual e municipal, a proposta defende a migração do ICMS para um IVA estadual, além da criação de um imposto seletivo e do Imposto sobre Venda a Varejo (IVV), compartilhado entre estados e municípios. A terceira etapa consistiria na harmonização completa do IVA federal com o IVA estadual. Nesta fase, os estados poderiam optar pela adoção do regime harmonizado, passando a tributar sob mesma base e regras da contribuição federal, com uma alíquota a ser escolhida pelo Estado.

“Tendo em vista o histórico das tentativas de reforma e os grandes embates entre federação e estados, acreditamos que a implementação de uma reforma modular seja a melhor solução”, conclui Lukic.

Assista ao debate completo

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