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Imprensa | ”Guarda-móveis” viram estoque para pequenas e grandes empresas

Fonte: G1 – 24/2/2018

Espaços de self storage não prestam serviço como os guarda-móveis, são um negócio imobiliário; empresas aproveitam boa localização de unidades para apoio logístico.

Quem mora nas grandes cidades do Brasil já deve ter percebido que os “guarda-móveis” se multiplicaram nos últimos anos. Essas empresas oferecem boxes para alugar em lugares centrais e funcionam como um depósito de objetos diversos. Mas, afinal, o que é guardado nesses espaços? O G1 conferiu e viu que eles abrigam, além de móveis, barcos, equipamentos de mergulho e produtos de todos os tipos, que fazem parte do estoque de pequenas e grandes empresas.

Apesar de o negócio ainda ser conhecido como “guarda-móvel” no Brasil, internacionalmente ele é chamado de self storage (autoarmazenamento, em inglês). No país, o segmento começou a crescer nos últimos anos, impulsionado pela entrada de investidores de peso, como o americano Sam Zell, considerado um “guru” do setor imobiliário, e fundos de grandes bancos estrangeiros como Goldman Sachs e Morgan Stanley.

A atividade consiste basicamente no aluguel de espaços para pessoas e empresas que não têm onde guardar seus pertences.

Segundo os donos de armazéns ouvidos pelo G1, hoje, de 40% a 50% dos clientes do negócio são corporativos. Muitas empresas preferem colocar parte ou todo seu estoque dentro desses compartimentos alugados para agilizar entregas ou abastecer lojas, já que os grandes galpões geralmente ficam afastados dos centros urbanos.

No GuardeAqui, metade dos clientes são empresas. A companhia é líder de mercado no Brasil e tem 16 unidades e 120 mil m² de boxes em operação em nove cidades.

A TudoBônus é uma das pequenas empresas que alugam boxes para guardar seu estoque. A companhia vende geladeiras pela internet, e por meio de parcerias firmadas com concessionárias de energia, dá descontos para os clientes que se desfazem de modelos antigos do eletrodoméstico.

A loja tem um armazém próprio de 42 mil m² em Cabreúva, no interior de São Paulo, onde fica sua sede, e divide com outra empresa o aluguel de um espaço de 30 m² em uma unidade do GuardeAqui, na região Sul de São Paulo, desde novembro do ano passado.

“É um ponto de apoio mais próximo da nossa área de atuação (a região de Guarulhos, Vale do Paraíba e Alto Tietê). Fazemos um planejamento semanal de acordo com os pedidos e vamos abastecendo o box”, diz Leonardo Kröger, diretor-geral da TudoBônus.

Há nove anos, a multinacional suíça Geberit aluga um box de 96 m², em uma de suas unidades em São Paulo. É o único estoque da companhia no Brasil, onde ficam armazenados todos os produtos sanitários que ela importa da sua sede e vende por aqui.

“Temos R$ 1,5 milhão em mercadorias guardados. Já tivemos um depósito próprio em Curitiba, que é mais barato, mas vimos que é muito longe, não compensava. O frete estragava o preço do produto. Aqui estamos bem localizados, temos saída para diversas rodovias”, diz Sebastian Richers, diretor-geral da empresa no país.

O aluguel de um box para estocar produtos é uma solução muito comum durante os períodos de “alta temporada” no varejo, quando as vendas ficam acima da média, como o Natal. Há também demanda para guardar produtos de uso pontual, como materiais de uma campanha publicitária.

“A L’Oréal é cliente nossa em todas as unidades. Eles têm um galpão onde fazem a logística pesada em Jundiaí e descarregam pequenas quantidades nas nossas unidades, onde a equipe de propagandistas se serve”, exemplifica Allan Paiotti, presidente do GuardeAqui.

No GoodStorage, a segunda maior empresa do ramo no país, uma grande fabricante de bebidas guarda material de ponto de venda, segundo o presidente da companhia, Thiago Cordeiro.

“Um aplicativo de entrega também tem boxes em várias das nossas unidades. Tudo que eles não conseguem entregar no dia, deixam lá para distribuir no dia seguinte. Antes essas mercadorias tinham que ir para Barueri. A empresa diz que o custo baixou 40%”, conta Cordeiro.

No total, GoodStorage tem 10 unidades, todas na Grande São Paulo, e 5,5 mil boxes, que somam uma área operacional de 40 mil m². Lá, 40% dos clientes são pessoas jurídicas. A empresa, inclusive, tem em todas as suas lojas um escritório compartilhado, com internet disponível, que pode ser usado pelos clientes corporativos como um centro operacional, sem custo.

“Além da localização, existe a vantagem de que ali tem um monte de serviços associados. Tem segurança, tem limpeza, você não precisa ter um funcionário seu olhando”, resume Laban, do Insper.

Para as pessoas físicas, os armazéns geralmente são usados como depósito para pertences que ocupam espaço e não tem uso diário.

“Com os apartamentos cada vez menores, (o self storage) acaba sendo uma extensão da casa, da vida pessoal”, explica Silvio Laban, professor do Insper.

Nos boxes do GuardeAqui, por exemplo, há de tudo. Móveis, é claro, mas também equipamentos de mergulho e de ski, motos aquáticas e até barcos já ficaram nas dependências da empresa, segundo presidente da companhia, Allan Paiotti.

A atividade de self storage foi regulamentada no estado de São Paulo em 1999, mas começou a crescer a partir de 2013.

Por aqui, o negócio foi impulsionado justamente quando os investidores profissionais, entre eles estrangeiros, começaram a investir no segmento. O GuardeAqui, por exemplo, foi comprado em 2011 pelo fundo americano Equity International, do megainvestidor no mercado imobiliário Sam Zell. A mesma empresa também recebeu investimentos de um fundo do banco americano Morgan Stanley, do fundo La Salle (um dos maiores fundos que compram participação em empresas do mundo) e da gestora brasileira Pátria Investimentos.

Já o GoodStorage tem como sócios a gestora de recursos Hemisfério Sul Investimentos e o fundo de investimento imobiliário Evergreen, enquanto a MetroFit, outra empresa do setor, recebeu investimentos de R$ 600 milhões do Goldman Sachs em 2016.

“Ter o investimento de fundos sérios, que não caem de paraquedas em um negócio, é um indicador de que o mercado deve ter potencial para dar dinheiro”, analisa o professor Silvio Laban, do Insper.

O GoodStorage diz que espera que sua receita cresça 35% neste ano frente a 2017 e quer abrir mais 10 unidades até o fim do ano, totalizando 20 lojas. A empresa recebeu um aporte de US$ 150 milhões em dezembro de 2013 e diz que “ainda tem dinheiro em caixa” para se expandir, até por meio de aquisições.

Já o GuardeAqui já tem 5 unidades prestes a inaugurar e quer terminar o ano com mais seis ou oito, somando 27 ou 29 lojas. A meta é chegar a algo entre 45 e 50 até o início de 2020, um plano de investimento de cerca de R$ 1 bilhão, já que cada unidade, entre aquisição e reforma, custa de R$ 20 milhões a R$ 25 milhões. Segundo Paiotti, o objetivo é chegar a um “tamanho de empresa” que permita a abertura de capital ou atraia outro investidor.

O espaço para crescer no país é grande. Nos Estados Unidos, onde o setor é maduro, há 48,5 mil unidades de auto armazenamento, de acordo com dados da Self Storage Association de março de 2017. É uma indústria que movimenta US$ 24 bilhões em receitas.

“Trazendo isso para a realidade do Brasil, evidentemente não vamos ter 40 mil unidades, mas podemos chegar a 2 mil, 4 mil, o que torna o negócio atraente”, avalia Laban.

No Brasil, existem entre 200 e 300 unidades, segundo empresários do setor consultados pela reportagem. As empresas não divulgam seu faturamento e não há estimativas do setor.

Cada galpão de self storage é uma espécie de condomínio, com espaços para alugar onde o cliente pode armazenar qualquer coisa, desde que esteja dentro da lei e não seja perecível.

Os cômodos (ou boxes) tem tamanhos variados – de 1m² até 300m². Eles podem guardar de malas de viagem a milhares de mercadorias e o custo é variável. O valor cobrado por m² alugado diminui conforme espaço aumenta. Para São Paulo, o preço varia entre R$ 65 e R$ 70 por m² no GuardeAqui e no GoodStorage, as duas maiores empresas do setor.

O sistema funciona assim: depois de cadastrado e com a chave na mão, o cliente tem a posse do local enquanto seu contrato for válido, como no aluguel de um apartamento. As empresas donas do espaço não têm acesso aos pertences, só com autorização judicial.

O usuário pode usar seu box quantas vezes quiser durante o horário de funcionamento e o acesso às dependências do “condomínio” é liberado por uma senha individual.

Os contratos são mensais, renovados automaticamente, e podem ser cancelados a qualquer momento, sem multa e sem necessidade de fiador.

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