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A terceira edição do Sprint Session de Inovação Social terminou no dia 5 de dezembro com a apresentação dos trabalhos das alunas e dos alunos do terceiro semestre de Ciência da Computação do Insper. Durante três semanas, a turma se organizou em quatro grupos mistos de estudantes do Insper e de Heliópolis e fez imersões na favela, localizada na zona sudeste da cidade de São Paulo. O Sprint é uma atividade do currículo regular realizada no final de todos os semestres da Computação, como proposta pedagógica de conexão do aprendizado com desafios reais. O foco do Sprint do terceiro semestre é inovação social.

 

Os estudantes realizaram três imersões no território para entender o contexto e conversar com pessoas da comunidade e, por meio da empatia e de entrevistas, compreender alguns dos problemas dos territórios vulnerabilizados. Cada grupo deveria trabalhar um desafio previamente identificado e propor uma solução tecnológica. Em seguida, usando os seus conhecimentos técnicos e de Design Thinking, eles se aprofundaram no entendimento do problema, criaram protótipos de soluções e finalmente desenvolveram aplicativos. Os projetos se destacam por seu valor social, um dos objetivos do Sprint. 

 

A parceira no território é a União de Núcleos, Associações dos Moradores de Heliópolis e Região (Unas). Sete alunos bolsistas, membros da Unas, participam do Sprint a cada edição. Fabio de Miranda, coordenador do curso de Ciência da Computação do Insper, acredita que o momento é de consolidação e respeito ao tempo da comunidade, o elo mais vulnerável da parceria. A partir da segunda edição do Sprint, foram criadas bolsas de implantação para permitir que as melhores propostas sejam, de fato, postas em operação em Heliópolis. É uma maneira de retribuir à comunidade por construir em conjunto uma experiencia enriquecedora para a educação dos alunos e alunas do Insper. 

 

Há muitas possibilidades de soluções de tecnologia para os problemas da favela. Em todas as oportunidades, a criação foi feita em conjunto com os jovens de Heliópolis e outros atores locais. “Algo muito bacana é que essa atividade acaba inspirando alguns jovens que ainda não fazem faculdade a considerarem estudar no Insper e descobrirem o nosso programa de bolsas”, afirma Miranda. “Acaba se tornando mais um movimento para furar a bolha para os dois lados e ajudar todos a superar certos preconceitos.”

 

Para a professora Paulina Achurra, coordenadora institucional do Centro de Estudos das Cidades | Laboratório Arq.Futuro, é gratificante perceber que a parceria está avançando a cada semestre. “Sentimos que a Unas já nos enxerga como parceiros confiáveis e de longo prazo, que continuaremos atuando no território e que não vamos sumir amanhã”, diz Paulina. “Essa confiança é muito importante para a construção da capacidade local. Além disso, é muito motivador para a turma, pois a oportunidade de conversar com as pessoas e trabalhar em uma solução real para problemas reais, que vai ser implementada e usada, costuma ser nova para quem está no início da graduação.”

 

 

Soluções para transformar Heliópolis

 

Quatro projetos foram desenvolvidos neste semestre, identificados a partir das dores e necessidades da população de Heliópolis. O tema da violência doméstica contra crianças e adolescentes motivou o projeto com o Núcleo de Assistência Psicológica (Napsi) da Unas. O registro dos casos na comunidade é feito de maneira manual, em papel e em uma planilha Excel, mas ainda não há uma forma prática de analisar os dados e, portanto, dar visibilidade ao tamanho do problema. A proposta do grupo é um painel de controle que funciona como cadastro e permite a criação de gráficos para entender a demanda, com filtros de gênero, raça, religião, faixa etária, tipo de violência e CEP.

 

O Portfólio do Aluno, por sua vez, é uma ferramenta digital para acompanhar o progresso pessoal dos alunos da Escola Municipal de Ensino Fundamental Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior, conhecida como EMEF Gonzaguinha. A escola pública de Heliópolis busca uma forma mais humanizada de reconhecer as trajetórias individuais das crianças para além da refletida nas notas e na frequência, única informação que se guarda atualmente da experiência escolar — e que não consideram a influência de fatores externos na nota baixa ou no absenteísmo, tais como histórico de saúde e problemas familiares. Segundo a professora Marília de Santis, diretora do EMEF Gonzaguinha, a primeira experiência-piloto com a ferramenta será feita a partir de 2025.

 

Para o Movimento Sem Teto de Heliópolis e Região, foi planejado um aplicativo para facilitar o registro de candidatos à casa própria e o acompanhamento da fila de atendimento dentro da comunidade. O sistema atual é manual, baseado em papel, e a opção em planilhas Excel foi abandonada após uma sequência de perda e recuperação de dados. O mapa de empatia mostrou que os voluntários do movimento se sentem frustrados com a lentidão e ineficiência do processo, ao mesmo tempo que pensam na importância de garantir acesso à habitação e à justiça social. A digitalização permitiria o foco dos voluntários em outras atividades estratégicas e uma maior transparência no processo.

 

Uma quarta demanda é a digitalização das fichas do Centro para Criança e Adolescente (CCA), aperfeiçoando o armazenamento e a organização do cadastro da instituição que oferece atividades socioculturais para menores de 4 a 14 anos no contraturno escolar. As fichas não são padronizadas e chegam a ter 116 campos para preencher. A solução apresentada pelos alunos eliminaria a necessidade de reescrever as fichas manualmente todos os anos e reduziria o risco de inconsistência nas informações ou perda do arquivo em papel. Além disso, uma melhor visualização dos dados resultaria em conhecimento mais preciso das reais demandas em relação a crianças e adolescentes.

 

Paulina Achurra ressalta as evoluções do Sprint Session de Inovação Social. Em fevereiro, o Insper deve abrir bolsas para alunos que vão implementar dois projetos oriundos do Sprint em Heliópolis, um deles na EMEF Gonzaguinha. O direcionamento das bolsas também está sendo refinado com a ajuda da equipe da Unas, que tomou a iniciativa de recomendar para o Insper nomes de jovens que já trabalham nos equipamentos da organização.

 

O aluno Vitor Raia integrou o grupo que atendeu o Napsi. “Eu nunca havia trabalhado em um projeto mais voltado para a parte social”, conta Raia. “Visitamos Heliópolis três vezes ao longo do processo e conhecemos o observatório, a biblioteca e o mirante. No nosso grupo, havia um colega que mora em Heliópolis. Não sei até que ponto o nosso projeto conseguiu ajudar a fazer alguma diferença para as pessoas da comunidade, mas tínhamos as melhores intenções. Essa visão de trabalhar com pessoas de origens diferentes, que agrega demais à vida pessoal e profissional, nos faz refletir sobre o nosso dia a dia e incentiva a abrir os horizontes. Me senti abraçado por todos.”

 

Para a aluna Ana Beatriz da Cunha, que trabalhou no Portfólio do Aluno, o Sprint Session de Inovação Social foi uma das experiências mais marcantes da sua formação. “Durante essa atividade, mergulhamos profundamente no processo de arquitetura de problemas, buscando compreender a fundo a dor do usuário e explorar soluções tecnológicas viáveis”, diz Ana. “Esse projeto foi muito especial porque, durante grande parte da minha vida, estudei em escola pública e, mais tarde, em um cursinho popular. Nesses ambientes, aprendi como a educação pode ser transformadora, especialmente para pessoas como eu, cuja família não tinha condições financeiras de proporcionar um ensino particular. Ainda assim, sempre recebi o incentivo da minha família para correr atrás dos meus sonhos. O Portfólio do Aluno representa, para mim, uma oportunidade concreta de retribuir e contribuir para a transformação da educação no Brasil, ajudando alunos e professores a organizarem e acompanharem suas trajetórias de aprendizado de maneira mais acessível e eficiente.”

 



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