As estudantes Ellen Coutinho e Giulia Brombine, ambas alunas bolsistas do Insper, participaram da SUGAR Network, uma rede internacional de inovação acadêmica que conecta estudantes e empresas de diversos países para resolver desafios reais por meio de metodologias de design. Integrando a primeira equipe do Insper a participar da iniciativa, elas viajaram a São Francisco, na Califórnia (EUA), no início de junho, ao lado de colegas da USP e do Instituto Politécnico do Porto (Portugal), para apresentar o resultado de seu trabalho na SUGAR Expo 2025, realizada na sede da SAP Labs. A participação da equipe do Insper no projeto só foi possível graças ao apoio do programa Women in Action, uma iniciativa do Hub de Inovação e Empreendedorismo Paulo Cunha que tem como objetivo empoderar jovens talentos femininos e promover maior inclusão em áreas estratégicas como tecnologia, negócios e inovação.
Criada em 2011, a SUGAR (sigla para Stanford University Global Alliance for Redesign) nasceu inspirada em uma disciplina oferecida pela Universidade Stanford. Hoje independente da universidade americana, a rede promove projetos de inovação com duração de um ano letivo, envolvendo equipes interdisciplinares e multiculturais. Em 2025, o programa reuniu 11 equipes de universidades de cinco continentes.
“A SUGAR é uma oportunidade rara de conectar alunos a problemas reais de empresas internacionais, usando ferramentas de design, tecnologia e inovação social”, explica a professora Maria Alice Gonzales, arquiteta e designer, docente do Insper e responsável por acompanhar o projeto ao longo do semestre. “Essa foi a primeira participação do Insper na rede, e ver duas alunas fazendo parte desse processo foi motivo de grande orgulho.”
A participação do Insper na SUGAR Network foi viabilizada por meio da articulação do professor Luiz Fernando Durão, da graduação em Engenharia, que atuou para inserir a instituição na rede internacional. “O professor Durão foi o responsável por levar o Insper à rede. Essa articulação institucional é essencial para abrir portas para nossos alunos em iniciativas globais como essa”, acrescenta Maria Alice.
Design, tecnologia e futebol
Durante seis meses, a equipe desenvolveu uma proposta de solução sustentável para a mobilidade de torcedores de futebol — desafio proposto pela empresa portuguesa CEiiA (Centro de Engenharia e Desenvolvimento de Produto). O objetivo é reduzir as emissões de carbono geradas no trajeto entre casa e estádio, usando percursos de torcedores de importantes times do Brasil e de Portugal para desenvolvimento de uma solução escalável.
“Trabalhar com empresas reais exige responsabilidade e escuta ativa. As alunas participaram de reuniões com o CEO da empresa, apresentaram propostas, receberam feedbacks e souberam adaptar suas ideias a partir de contextos técnicos, culturais e comerciais. Foi um aprendizado riquíssimo, muito além da sala de aula”, destaca Maria Alice.
Selecionadas no Insper por meio de edital do programa Women in Action, Giulia e Ellen integraram uma equipe com estudantes de diferentes áreas: além delas, participaram uma aluna da USP (de Ciências Sociais) e três alunos portugueses (das áreas de Design e Engenharia). A diversidade da equipe e o equilíbrio de gênero — três mulheres e três homens — ofereceram um diferencial importante ao longo do processo.
“Nosso grupo era bem diferente. Havia gente de Direito, Engenharia, Ciências Sociais... essa diversidade nos ajudou a criar soluções mais completas”, explica Ellen Coutinho, aluna do 8º semestre de Engenharia de Computação. “E participar de uma iniciativa internacional como bolsista, vinda do extremo leste de São Paulo, me mostrou que eu posso ir além do que imaginava.”
O projeto envolveu pesquisa de campo em estádios — o Allianz Parque, em São Paulo, e o Estádio do Dragão, no Porto —, onde os estudantes entrevistaram torcedores para compreender seus hábitos e motivações. A partir desses dados, o grupo desenhou estratégias para influenciar positivamente o comportamento dos torcedores, incentivando práticas como o uso de transporte público, caronas e modos alternativos de locomoção.
“O nosso papel foi propor estratégias e experiências que levem as pessoas a mudar seus hábitos”, explica Giulia Brombine, aluna do 8º semestre de Direito, que também atua como assistente de pesquisa no Núcleo de Sustentabilidade do Insper. “Um dos nossos maiores aprendizados foi entender que a solução precisa ser sustentável — mas também viável financeiramente.”
O ponto alto do projeto foi a participação na SUGAR Expo 2025, evento que reuniu todas as equipes da rede em São Francisco para apresentar os resultados dos projetos desenvolvidos ao longo do ano. A apresentação foi dividida em dois formatos: um pitch no palco principal e a exposição em um estande interativo, com protótipos, materiais visuais e vídeos explicativos.
“Foi incrível ver como as alunas interagiram com estudantes do mundo todo. Elas apresentaram seu projeto para engenheiros, investidores, até para o prefeito de São Francisco, Daniel Lurie, que visitou o estande do grupo”, relembra Maria Alice. “Essa vivência profissional, em um evento global, é transformadora.”
A viagem teve ainda mais significado por ser a primeira experiência internacional das alunas. Para Ellen, foi também seu primeiro voo de avião. Ela conta que, até então, nunca havia viajado para fora do estado de São Paulo. “Nunca imaginei estar na Califórnia com um projeto meu. Apresentar em inglês, interagir com estudantes da China, da Suíça, da Alemanha... isso me fez repensar meus limites e entender que posso sonhar mais alto”, conta. “Hoje eu me sinto pronta para trabalhar em qualquer lugar do mundo.”
Além da participação no evento, as alunas aproveitaram para fazer turismo na região e conhecer um pouco da cultura local. Visitaram pontos emblemáticos de São Francisco, como a Golden Gate Bridge e a fábrica de chocolates Ghirardelli, além de explorarem museus e atrações tecnológicas. Um dos momentos mais marcantes, segundo Giulia, foi andar em um carro autônomo pela primeira vez.
“Foi surreal. Eu nunca imaginei que um dia estaria num carro que dirige sozinho, ainda mais em outro país. Foi uma das experiências mais futuristas da viagem”, conta. “Eu e a Ellen também passeamos sozinhas por São Francisco, pegamos transporte, visitamos lugares por conta própria... E isso me deu uma sensação de autonomia muito grande. Percebi que, se consegui me virar num lugar totalmente novo, posso me virar em qualquer parte. Voltei com muito mais confiança.”
A trajetória de Giulia e Ellen dentro do SUGAR vai além do desafio técnico: representa o avanço das mulheres em áreas como engenharia, tecnologia e inovação, onde ainda há sub-representação feminina. A atuação das duas foi marcada por liderança, engajamento e versatilidade — e ganhou força com o apoio institucional do programa Women in Action.
O Women in Action é uma iniciativa do Hub de Inovação e Empreendedorismo Paulo Cunha, voltada para o empoderamento feminino e a promoção da diversidade em áreas estratégicas como tecnologia e negócios. Com a convicção de que a liderança feminina deve ser a norma e não a exceção, o programa busca construir um ambiente inclusivo no qual mulheres possam desenvolver todo o seu potencial, compartilhar conhecimentos, estabelecer redes de apoio e influenciar positivamente o ecossistema da inovação no Brasil.
Com uma abordagem prática e inspiradora, o Women in Action oferece eventos, workshops, mentorias com líderes do mercado e espaços de troca de experiências que estimulam a autonomia e o protagonismo feminino. Sua missão é inspirar e capacitar jovens talentos para que se tornem agentes de transformação em um futuro mais justo, igualitário e colaborativo. Ao ampliar as vozes femininas e fomentar conexões significativas, o programa fortalece o papel das mulheres na criação de soluções inovadoras com impacto social.
Selecionadas no Insper por meio de edital do programa, Giulia e Ellen são exemplos concretos do impacto que iniciativas como essa podem ter. “O projeto foi técnico, prático, real. E ele foi conduzido por alunas brasileiras, bolsistas, de diferentes áreas. Isso mostra o potencial das mulheres para atuar em desafios globais, com impacto social e ambiental”, conclui Maria Alice.