O professor Gustavo Tavares, que leciona liderança e gestão de pessoas na pós-graduação do Insper, representa a escola no Centro de Pesquisa em Implementação de Políticas Educacionais (Cepipe). Recém-criado, esse grupo de pesquisa multidisciplinar formado por professores de diversas instituições de ensino atuará por cinco anos para gerar evidências que apoiem melhorias na educação pública brasileira.
A iniciativa é resultado de uma parceria entre a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, a Fundação Getulio Vargas (FGV), a Fundação Carlos Chagas, a Universidade de São Paulo e o Instituto Unibanco, com fomento da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) no âmbito dos Centros de Ciência para o Desenvolvimento. “Faço parte do eixo de gestão e liderança escolar. Nosso objetivo, no âmbito das escolas estaduais paulistas, será investigar as melhores práticas de gestão com foco no papel do diretor que se traduzam tanto em bom clima escolar como em resultados efetivos de aprendizado”, explica Tavares.
Segundo o professor, a literatura voltada para gestão demonstra há muitos anos o impacto relevante da liderança em qualquer organização, e isso não é diferente no contexto da educação. “O que pretendemos por meio do estudo é deixar isso claro, demonstrando a parcela de responsabilidade do diretor para o resultado de aprendizagem apresentado pela escola”, diz. Há diferentes desafios envolvidos nesse trabalho do diretor, como gestão da parte curricular, pedagógica e administrativa, bem como dos conflitos internos da escola e da relação com os alunos e seus pais. É preciso, ainda, lidar adequadamente com dinheiro e compras.
O especialista observa que os modelos de gestão escolar no Brasil são muito baseados na literatura internacional, que, muitas vezes, está fora da realidade das nossas escolas públicas. “Por isso, o foco do estudo é identificar os desafios específicos da gestão escolar no contexto brasileiro para, a partir daí, apontar as competências e ações de gestão e liderança que provocam o maior impacto no desempenho das escolas”, afirma Tavares.
A pesquisa vai selecionar escolas no estado de São Paulo idênticas em termos de estrutura e contexto em que estão inseridas, mas que apresentam desempenhos bem diferentes em relação ao aprendizado dos seus alunos, levando em consideração as notas nas provas de português e matemática do Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica). Outros indicadores mais qualitativos de clima escolar do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) também serão utilizados.
Nessas 40 escolas escolhidas, cuja amostra alternará entre alto e baixo desempenhos, serão feitas entrevistas com seus profissionais e alunos para entender quais fatores de gestão escolar estão diferenciando aquelas que vão melhor das que vão pior. “Essa primeira fase terá dois anos de duração. Na sequência, vamos pegar esses achados, que estão supostamente explicando as diferenças de desempenho, como insumo para uma pesquisa em larga escala em todas as escolas da rede estadual de ensino”, diz o professor.
As hipóteses levantadas inicialmente serão, portanto, colocadas em prova na segunda fase para que os pesquisadores verifiquem se os fatores apontados realmente se confirmam. Como produto final, depois do levantamento da literatura especializada sobre gestão escolar, o eixo vai apresentar um relatório de pesquisa que sirva, a partir dos dados e evidências, para embasar as políticas de gestão escolar. “Esperamos ter insumos relacionados a como os gestores estão alocando seu tempo e quais competências eles precisam desenvolver”, completa.
Somente 1% dos estudantes brasileiros do quarto e do oitavo anos do ensino fundamental atingiram nível máximo de proficiência em matemática e ciências, de acordo com o Estudo Internacional de Tendências em Matemática e Ciências (Timms, na sigla em inglês).
Os resultados foram divulgados em dezembro do ano passado e são baseados na participação de quase 45 mil estudantes de escolas públicas e privadas. Em matemática, 51% dos estudantes do quarto ano ficaram abaixo do menor nível de proficiência mensurado pelo estudo – muito acima dos 9% registrados na média global.