Realizar busca

A consultora Sonia Lota não traçou sua carreira com mapas prontos — foi a observação atenta e a escuta sensível que guiaram suas escolhas. Psicóloga de formação, especialista em Psicologia Organizacional e professora convidada em programas de educação executiva do Insper, ela construiu uma trajetória marcada por transições conscientes e uma busca constante por dar um sentido às suas escolhas. 

 

Sua história profissional começou de forma inusitada: ainda adolescente, estava em dúvida sobre a carreira a seguir, e seu pai a levou para uma conversa com a psicóloga da empresa onde ele trabalhava. Enquanto aguardava ser atendida, Sonia observou a psicóloga conduzindo uma dinâmica de grupo. “É isso que eu quero fazer”, decidiu, antes mesmo de conversar com a psicóloga.

 

O acaso também teve papel importante em outro ponto relevante de sua jornada: o início de seu relacionamento com o Insper. Quando um colega, o professor Auro Honda, ficou preso no aeroporto e pediu que ela aplicasse uma prova em seu lugar, Sonia aceitou. O que seria apenas um favor virou uma nova possibilidade de atuação, que ela abraçou de forma regular a partir de 2014. Desde então, passou a lecionar em cursos de curta duração no Insper, com foco em temas como comunicação, negociação e gestão de conflitos.

 

No relato a seguir, Sonia compartilha as principais escolhas, desafios e aprendizados que marcaram sua trajetória — das salas de aula da faculdade aos bastidores de grandes corporações, da consultoria à docência. 

 

 

 

A escolha da carreira

 

Nasci no interior do estado do Rio de Janeiro, em Cachoeiras de Macacu, uma pequena cidade entre Nova Friburgo e Niterói. Vivi lá até os 14 anos, quando meu pai, funcionário da Rede Ferroviária Federal, foi transferido para Macaé. Pouco depois, mudei-me para Niterói em busca de melhores oportunidades de estudo.

 

Filha de dois professores — Adino e Isis —, fui alfabetizada muito cedo e acabei pulando etapas da escola básica. Com apenas 15 anos, já me via diante da decisão profissional sem ter clareza sobre o que queria. Prestei vestibular para vários cursos — enfermagem, comunicação, arquitetura, biologia marinha — e fui aprovada em todos, mas nenhum deles me atraiu de fato.

 

A grande virada aconteceu quando meu pai me levou para conversar com a psicóloga da empresa em que trabalhava. Ela estava ocupada conduzindo um processo seletivo e me pediu que aguardasse quieta, no fundo da sala. Enquanto observava aquela dinâmica de grupo, vendo como ela conduzia as entrevistas e interagia com os candidatos, senti uma identificação imediata: “É isso que eu quero fazer”. Quando a psicóloga finalmente se aproximou para conversar comigo, eu já tinha tomado minha decisão — queria estudar Psicologia.

 

 

Formação acadêmica

 

Ingressei no curso de Psicologia nas Faculdades Integradas Maria Thereza, em Niterói, pouco antes de completar 18 anos. Era um curso novo, com uma turma grande, e eu era a mais jovem da sala. Essa diferença de idade trouxe aprendizados únicos, como a amizade com uma colega de 65 anos, que me ensinou que o desejo de aprender não tem prazo de validade.

 

Desde o início, me encantei pelas bases filosóficas da Psicologia e pela busca pelos “porquês” que sempre me inquietaram. Meu interesse, no entanto, não era pela área clínica, mas sim pela organizacional. A forma como aquela psicóloga colega do meu pai conduzia grupos me marcou bastante. Mesmo tendo que fazer estágios em hospitais psiquiátricos, sentia que poderia ser mais útil fora daquele ambiente.

 

Também havia um aspecto de autoconhecimento envolvido: com tão pouca idade, sentia que não tinha maturidade suficiente para lidar com a saúde mental de outras pessoas. A combinação entre essa percepção e meu interesse pelo universo das organizações definiu os rumos da minha carreira.

 

 

Carreira corporativa

 

Logo após me formar, em 1982, comecei a trabalhar no setor financeiro, o que me permitiu custear minha pós-graduação em Psicologia Organizacional na Fundação Getulio Vargas. Estudar sempre foi algo natural para mim — movida pela curiosidade e pela certeza de que o conhecimento nunca é completo.

 

Minha trajetória corporativa foi diversa. Numa época em que era comum entrar em uma empresa com o desejo de construir uma carreira até a aposentadoria, passei por vários setores: bancos como BCN, Banco Nacional e Unibanco, hotelaria, seguros e, por fim, a Coca-Cola Company. Sempre atuei na área de Recursos Humanos, com foco em treinamento e desenvolvimento.

 

Na Coca-Cola, trabalhei na holding, cuidando do atendimento a executivos. Com o tempo, a empresa passou por uma grande reestruturação, que incluiu a redução de franqueados no Brasil e o enxugamento da estrutura. Quando entrei, havia cerca de 2 mil funcionários; quando saí, esse número havia caído para menos de 600.

 

 

Da consultoria ao Insper

 

Após sair da Coca-Cola, considerei retornar ao mercado corporativo, mas acabei aceitando um convite de antigos parceiros para atuar na consultoria. Tornei-me sócia de Auro Honda e Sandra Gentil, e por mais de 20 anos atuei em projetos de desenvolvimento humano em diferentes organizações.

 

Foi dessa parceria que surgiu, por acaso, meu primeiro contato com o Insper. Houve um imprevisto, e Auro — que lecionava no MBA da escola — ficou preso no aeroporto. Ele me pediu para aplicar uma prova em seu lugar. Aceitei e, ao interagir com os alunos, me interessei pela dinâmica acadêmica. Algum tempo depois, surgiu uma oportunidade de lecionar no Insper, e aceitei o desafio.

 

Identifiquei-me especialmente com os programas abertos, que reúnem profissionais de diferentes setores e experiências. A diversidade de visões e o ambiente de troca me conquistaram. Desde 2014, venho atuando como professora convidada em programas de Educação Executiva no Insper.

 

 

Atividades atuais na escola

 

Atualmente, atuo em diversos programas no Insper, tanto abertos quanto customizados. Entre os cursos mais recorrentes estão Negociação Estratégica e Gestão de Conflitos e Storytelling: Melhorando sua Capacidade de Comunicação. Também participo de programas voltados à liderança feminina, com foco em gestão de conflitos. Em todos esses projetos, a comunicação é o eixo central, junto com autoconhecimento e inteligência emocional — elementos que considero fundamentais para o desenvolvimento de qualquer profissional.

 

 

Aulas de políticas públicas

 

Nas aulas que ministro na área de políticas públicas, o elemento principal é a negociação — especialmente em contextos complexos, que exigem articulação entre diversos atores e instituições. Diferente das negociações mais diretas da iniciativa privada, as políticas públicas envolvem múltiplos interesses, normas, estruturas e etapas. Para que uma proposta saia do papel e se torne realidade, é necessário construir alianças, gerenciar conflitos e, acima de tudo, estabelecer relações colaborativas entre partes com visões e objetivos muitas vezes distintos.

 

Esse ambiente, embora desafiador, é extremamente enriquecedor. As turmas costumam reunir profissionais tanto do setor público quanto do privado, o que estimula trocas valiosas e amplia a compreensão dos diferentes contextos. Profissionais da iniciativa privada frequentemente se deparam com as limitações operacionais enfrentadas pelos gestores públicos, enquanto estes, por sua vez, têm contato com abordagens mais ágeis ou inovadoras vindas do setor empresarial. É um processo de aprendizado mútuo — e eu me sinto privilegiada por poder mediar esse diálogo.

 

Outro ponto essencial é o estímulo ao pensamento crítico, algo que o Centro de Gestão de Políticas Públicas do Insper valoriza e incentiva. Os alunos são convidados a questionar, testar alternativas e adaptar metodologias ao seu contexto. Sempre digo em aula que aplicar uma ferramenta é como seguir uma receita de família: os ingredientes podem ser os mesmos, mas o modo de preparo varia. Nosso objetivo é ampliar o repertório técnico e reflexivo dos participantes, para que possam fazer escolhas mais conscientes e eficazes. Essa combinação de técnica com sensibilidade prática é justamente o que torna o trabalho com políticas públicas tão desafiador — e tão necessário.

 

 

Caminho próprio

 

Depois da pandemia, decidi dar mais visibilidade à minha consultoria. Embora já tivesse a empresa formalizada, ela funcionava de maneira discreta. Quis então criar algo com a minha identidade, que refletisse minhas crenças e práticas. Hoje, sigo com parcerias, mas tenho uma atuação mais independente, com foco claro.

 

Minha consultoria é centrada em dois pilares: cultura e comunicação. A cultura representa o histórico, os valores e os comportamentos que moldam as organizações. Já a comunicação é, para mim, a competência que conecta tudo — é ela que transforma ideias em ação. Em um momento em que lideranças estão revendo suas formas de se expressar e escutar, acredito que posso contribuir promovendo diálogos mais conscientes, éticos e eficazes.

 

 

O diferencial do Insper

 

Apesar de ainda colaborar com outras instituições de ensino, o Insper ocupa um lugar prioritário na minha agenda. Desenvolvi uma relação sólida com as equipes de Educação Executiva e Políticas Públicas, que se destacam pela eficiência e abertura à inovação. Sempre que proponho novos conteúdos ou metodologias, sou ouvida e incentivada a experimentar.

 

Valorizo também o compromisso da escola com inclusão e diversidade, materializado em programas de bolsas e ações sociais. Além disso, há uma atenção constante ao desenvolvimento do corpo docente, com espaço real para trocas e aprendizado contínuo. É por tudo isso que o Insper é minha principal escolha — não só pela estrutura, mas pela cultura de valorização da aprendizagem como processo coletivo.

 

 

Planos e projetos

 

Nos próximos anos, quero ampliar minha atuação junto a organizações do terceiro setor, especialmente aquelas voltadas a pessoas em situação de vulnerabilidade. Já colaboro com projetos como RenovaBR, Politize! e Umane, e pretendo continuar contribuindo com o que estiver ao meu alcance — seja em mentorias, seja em oficinas ou até em atividades simples, como organizar livros em uma biblioteca comunitária. Esse tipo de trabalho tem um valor afetivo enorme para mim.

 

Muita coisa que aprendi ao longo da vida, eu gostaria de ter sabido quando vivia em Cachoeiras de Macacu. Hoje, entendo cidadania como algo que se constrói com base em autoconhecimento, inteligência emocional e responsabilidade social. São conceitos que se complementam. Sempre que posso, ofereço apoio gratuito a instituições que não têm recursos para investir em capacitação. Agora, se uma empresa grande me pedir desconto, brinco que aplico as mesmas técnicas de negociação que ensino em sala de aula: “Vamos conversar melhor sobre esse ponto...”.

 

 



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