Perto de completar uma década de existência, a Cátedra Instituto Unibanco do Insper tem como objetivo produzir pesquisas, artigos e eventos que contribuam para o debate sobre a qualidade da educação brasileira, com foco no ensino médio, no ensino técnico, no Enem e no projeto Jovem de Futuro. Seu líder de 2016 a 2023 foi o professor Sergio Firpo, que se afastou do cargo para assumir a Secretaria de Monitoramento e Avaliação de Políticas Públicas do Ministério do Planejamento e Orçamento, onde permaneceu até abril de 2025.
A partir deste ano, a liderança da cátedra passa ao economista Ricardo Paes de Barros, um dos principais nomes da pesquisa aplicada em políticas públicas no Brasil. Para celebrar a transição e o início dessa nova fase, o Insper recebeu, no dia 28 de maio, lideranças do Instituto Unibanco e do setor educacional brasileiro em um evento especial. A abertura ficou a cargo de Claudio Haddad e Pedro Moreira Salles.
Moreira Salles apresentou a trajetória do instituto, que surgiu nos anos 1980 e, a partir de 2005, passou a focar suas ações na educação, especialmente em um período crucial da formação: o ensino médio. “Essa etapa representa uma bifurcação na estrada do jovem — o momento em que ele sente a atração do mercado de trabalho, formal ou informal. Em 2005, lançamos uma iniciativa voltada a essa questão: o Jovem de Futuro. Queríamos atuar com base em dados, em um momento em que essa abordagem ainda enfrentava bastante resistência”, disse. Atualmente, o projeto atende 1,5 milhão de alunos em 5 mil escolas. “Nosso objetivo será alcançado quando o instituto se tornar obsoleto, ou seja, quando nossa metodologia for incorporada pelos estados.”
Já Claudio Haddad destacou a importância do relançamento da cátedra e da parceria entre o Insper e o Instituto Unibanco. “Desde cedo, o Insper conta com o apoio de instituições e parceiros que acreditam em seu modelo — uma instituição de ensino superior sem fins lucrativos, inspirada nas universidades privadas americanas de excelência.” Segundo ele, as cátedras são elementos estratégicos nesse contexto. “É uma honra e um privilégio termos essa cadeira patrocinada pelo Instituto Unibanco, que realiza um trabalho extraordinário.”
A presidente do conselho do Insper, Tania Haddad, ressaltou que a cátedra está plenamente alinhada aos objetivos da escola. “Transformar a realidade social exige mais do que dados e modelos sofisticados. É necessário sensibilidade, escuta e capacidade de diálogo com todas as vozes da sociedade. Desde sua fundação, o Insper tem como missão ser referência nesse aspecto. E o relançamento da cátedra simboliza exatamente esse compromisso: formar lideranças e produzir conhecimento que sejam, ao mesmo tempo, rigorosos e relevantes — sempre orientados à transformação concreta do país.”
O evento contou com duas mesas de debate: uma sobre o que a ciência tem a dizer sobre a relação entre gestão educacional e aprendizado, e outra sobre a prática da gestão educacional. Participaram da programação César Callegari, presidente do Conselho Nacional de Educação; e Raquel Teixeira, secretária de Educação do Rio Grande do Sul.
Também estiveram presentes Ricardo Henriques, superintendente do Instituto Unibanco; Sérgio Lazzarini, professor titular da Cátedra Chafi Haddad do Insper; Gabriela Lotta, professora e pesquisadora na FGV-EAESP; Reinaldo Fernandes, professor de economia na FEA-USP e ex-presidente do Inep; e Laura Muller Machado, coordenadora dos cursos de gestão pública do Insper e ex-secretária de Desenvolvimento Social do estado de São Paulo.
O ponto alto da programação foi a aula magna “A gestão educacional como um diferencial para o aprendizado”, ministrada por Paes de Barros. Durante sua apresentação, ele descreveu o cenário atual da educação brasileira. “Os desafios educacionais no Brasil continuam enormes. Mas não falta gente que sabe educar”, afirmou, lembrando que o prêmio Global Teacher Prize, da organização britânica Varkey Foundation, frequentemente inclui brasileiros entre os 50 melhores professores do mundo — muitas vezes até no Top 10.
Segundo ele, também é comum afirmar que o problema não está na falta de orçamento. “Apenas 20% dos países ricos da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) investem um percentual maior do PIB em educação do que o Brasil — o que mostra que estamos fazendo um esforço. No entanto, temos uma população jovem muito numerosa. Quando se olha o gasto per capita, 66% dos países da OCDE estão à frente do Brasil”, observou.
Em outras palavras, o Brasil conta com bons educadores e tem feito esforços de investimento, embora ainda possa avançar mais, dadas suas características demográficas. No entanto, os resultados continuam insuficientes.
Atualmente, 96% dos países participantes do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) apresentam desempenho superior ao Brasil em matemática. Da mesma forma, o país vai mal, em média, no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), apesar das grandes disparidades entre as escolas.
Como avançar? Copiando bons exemplos de gestão, argumentou Paes de Barros. “Falta imitar quem está fazendo certo. Os que alcançam bons resultados estão investindo em gestão. Temos municípios, tanto ricos quanto pobres, que apresentam desempenhos muito acima da média. Em geral, bons gestores têm melhores resultados, mesmo quando mudam de escola ou região. Eles continuam se destacando.”
Contudo, essa prática ainda é pouco difundida no Brasil. “Há muitos municípios — ricos e pobres — que não adotam soluções já comprovadamente eficazes. Precisamos aprender a copiar. E, para isso, o primeiro passo é mapear quem são os gestores de destaque, entender o que estão fazendo e divulgar essas soluções. Por fim, é essencial adaptar esses exemplos às realidades locais onde atuamos.”