No final de outubro, 15 alunos da disciplina “Monitoramento e Avaliação de Impacto”, do Mestrado Profissional de Políticas Públicas (MPP) do Insper, visitaram o Galpão ZL, no Jardim Lapenna, em São Miguel Paulista, na zona leste de São Paulo, e observaram as atividades da Fundação Tide Setubal no local. A ideia foi ver de perto as iniciativas realizadas no local para a melhoria de frentes como infraestrutura, saneamento, educação, cultura e renda.
Antes da visita, os alunos tiveram acesso ao estudo "A Lupa na Cidade", realizado pelo Insper Metricis, que propôs um conjunto de ações para o desenvolvimento de áreas urbanas e um painel de indicadores de acompanhamento. “Os alunos leram e estudaram o relatório, e o objetivo foi justamente eles verem essas iniciativas in loco para compreender a essência. Mais ainda, puderam ver os próprios moradores falando sobre as ações e como eles têm se organizado para o desenvolvimento local”, diz Sérgio Lazzarini, criador do Insper Metricis e professor do MPP do Insper.
O estudo “A Lupa na Cidade” é essencialmente um exercício de teoria de mudança. O projeto conta com propostas de ações sistêmicas para resolver um rol de problemas interligados nas frentes como infraestrutura, saneamento, educação e renda. “Ensinamos como construir uma teoria de mudança e usá-la para compor um painel de indicadores de monitoramento das ações”, diz Lazzarini.
Segundo ele, os moradores do Jardim Lapenna foram empoderados para usar e aplicar a teoria de mudança e acompanhar os indicadores sugeridos. “A comunidade local opinou sobre as métricas e sugeriu melhorias. Ou seja, teoria de mudança, ou políticas públicas em geral, não é algo apenas proposto por especialistas nas suas mesas de trabalho, mas também, e principalmente, algo que envolve e até requer o engajamento da população-alvo”, afirma o professor.
O trabalho “A Lupa da Cidade” serve de legado para gestores públicos e organizações privadas interessados em acompanhar a evolução de ações em áreas sujeitas a problemas prementes de áreas urbanas vulneráveis. Inspirados pela experiência em Medellín, na Colômbia, e de forma ancorada à teoria da mudança proposta, foram sugeridos quatro blocos de indicadores: oportunidades, qualidade de vida, convivência e governança e infraestrutura. “Os alunos do MPP puderam ver tudo isso de perto”, diz Lazzarini.
Tatiane Mayumi Yanaze Picolo, 32 anos, bacharel em ciência e tecnologia e estudante do MPP do Insper, participou da visita e considerou a experiência positiva. “Foi interessante conhecer o trabalho que a Fundação Tide Setubal desenvolve junto com a comunidade e ter contato com líderes do território, que falaram das suas experiências pessoais e como as ações da fundação permitiram à comunidade acessar o poder público e outros recursos para trazer melhorias para o território”, diz.
Segundo ela, o aprendizado central da visita é que lidar com políticas públicas e impacto social é, sobretudo, entender que existem muitos desafios na superação de problemas sociais, e que nem sempre as respostas são simples. “Talvez a maior das lições seja a de que impacto social se faz com medidas integradas, coordenadas e, na medida do possível, planejadas, mas com jogo de cintura para improvisação. Por isso essa troca foi tão importante, porque nos permitiu ver de perto as dificuldades e as possibilidades de trabalhar em conjunto com a comunidade para trazer soluções práticas”, afirma.
Para Mariana Almeida, diretora executiva da Fundação Tide Setubal e professora do Centro de Gestão e Políticas Públicas do Insper, a visita foi importante para mostrar para os alunos, futuros tomadores de decisão, que a teoria da mudança é viável e que é possível transformar a realidade de um bairro periférico, na medida em que se organizam ações intersetoriais de longo prazo com o protagonismo da comunidade — e de maneira mensurável.
“O case local, em construção desde 2019 com a parceria do Insper Metrics, foca na teoria da mudança em nove macroáreas, como segurança, saúde, cultura e renda, e mostra como as intervenções e políticas nessas diversas frentes precisam acontecer integradas para gerar resultados”, diz. “Trata-se de uma grande ação coordenada que envolve a Fundação, a comunidade local, os líderes comunitários e articulação com o poder público”, completa.
Mariana explicou a importância do acompanhamento das ações. “Além dos resultados e das séries de ensino do trabalho “A Lupa na Cidade”, também fazemos coleta de dados periodicamente. São 68 indicadores que monitoramos a cada dois anos.”
Os alunos que visitaram o bairro puderam ver os avanços e os trabalhos em andamento. A partir da mobilização local, a prefeitura iniciou importantes obras em curso, como a área de drenagem, melhoria de espaços urbanos e calçadas acessíveis. “É interessante notar como a união das lideranças locais com a sociedade civil consegue mobilizar para gerar qualificação na política pública. Precisamos entender que novos modelos de governança baseados também nas organizações sociais e comunidades locais podem permitir que o Estado acerte mais, que a política pública seja mais efetiva”, finalizou Mariana.