A Mentora, uma startup que utiliza inteligência artificial para acelerar o desenvolvimento de líderes empresariais, recebeu recentemente um aporte de 1,5 milhão de reais em uma rodada pré-seed (o primeiro investimento que uma startup recebe para dar vida à sua ideia). O aporte foi realizado pela DOMO.VC, empresa brasileira de venture capital que investe em startups de tecnologia na América Latina. A Mentora, que tem como um dos cofundadores o paulistano Gabriel Goichman, 27 anos, graduado em Engenharia Mecatrônica no Insper, busca revolucionar o mercado desenvolvimento de lideranças com uma abordagem tecnológica inovadora.
Fundada em 2023, a Mentora se destaca no mercado por sua proposta de combinar inteligência artificial com expertise humana no desenvolvimento de líderes. A solução integra um assistente virtual com sessões em grupo lideradas por facilitadores humanos, criando uma abordagem híbrida que busca maximizar a aplicação prática das habilidades de liderança.
“O problema que identificamos no desenvolvimento de líderes é que soluções escaláveis, como cursos online e workshops, não geram o impacto necessário, enquanto métodos eficazes, como mentoria e coaching individual, são caros e não acessíveis a todos”, diz Gabriel.
A partir dessa constatação, a Mentora buscou criar um modelo que combinasse tecnologia com acompanhamento individualizado. “Quando o GPT-3 foi lançado, percebemos que poderíamos usar essa tecnologia para desenvolver um mentor digital, oferecendo um acompanhamento personalizado para líderes”, diz Gabriel. O grande diferencial da Mentora, de acordo com ele, foi combinar a inteligência artificial com facilitadores humanos — especialistas certificados —, criando uma abordagem de “inteligência híbrida” que busca unir o melhor dos dois mundos.
A jornada de Gabriel no Insper ilustra como a educação pode fomentar a inovação e o empreendedorismo. Formado em Engenharia Mecatrônica pelo Insper em 2019, Gabriel fez parte da primeira turma do curso.
“Minha relação com o Insper foi bastante intensa, sempre fui muito engajado com o propósito da escola e em várias iniciativas. Participei de várias organizações estudantis, recebi candidatos na escola, participei de feiras de carreiras representando o Insper e até entrevista eu dei.” (Neste vídeo, veja um depoimento dado na época por Gabriel sobre o que o curso de Engenharia do Insper tem de diferente.)
Gabriel conta que sempre foi curioso, com uma paixão por física e por entender como as coisas funcionavam, algo que herdou do seu pai, também engenheiro. “O Insper foi o lugar onde essa paixão se consolidou, especialmente por ser parte da primeira turma do curso de Engenharia, onde os professores, com perfil empreendedor, estavam criando algo completamente novo. Nós, alunos, éramos incentivados a dar feedback constante, o que nos fez sentir parte da construção de um curso diferenciado.”
Para Gabriel, foi essa experiência, junto com o comprometimento dos professores e o ambiente dinâmico da instituição, que despertou nele uma veia empreendedora, algo que ele já carregava, mas que o Insper ajudou a fortalecer. “Além das aulas, participei de várias iniciativas, como a organização do vestibular, o que reforçou meu engajamento e minha paixão pelo ambiente acadêmico e pelo empreendedorismo”, afirma Gabriel.
Ainda durante a graduação, Gabriel fundou o TechEdu, um projeto social que desenvolvia habilidades de tecnologia e empreendedorismo em jovens estudantes de escolas públicas selecionados pelo Ismart Online, uma plataforma virtual de estudos. O projeto, apoiado pelo Insper, impactou mais de mil alunos ao longo de três anos. “Nesse projeto, alunos voluntários davam aulas de impressão 3D, empreendedorismo e design thinking, ajudando os adolescentes a desenvolverem projetos práticos”, conta Gabriel. “Alguns adolescentes que participaram desse projeto são hoje alunos do Insper.”
Após se formar, Gabriel trabalhou por quatro anos e meio na Endeavor, organização global que apoia e acelera projetos de empreendedorismo. “Na Endeavor, minha principal função era identificar empreendedores que já tinham empresas estruturadas, em estágio de crescimento acelerado. O foco era apoiar essas empresas a escalar, conectando-as com mentores experientes”, conta.
Foi nesse período que ele conheceu sua atual sócia, Marina Proença, e começou a desenvolver a ideia que se tornaria a Mentora. Marina é hoje a responsável pelo marketing da Mentora, enquanto Gabriel é o diretor de produtos (CPO). Wagner Cassimiro (CEO) e Bruno Kloss (CTO) completam o time de cofundadores da Mentora.
Desde sua fundação, a Mentora rodou pilotos com diversas empresas para validar seu modelo. A ideia era testar o uso da inteligência artificial em combinação com o apoio humano para desenvolver líderes de forma personalizada e eficiente. Após muitos testes e ajustes, o modelo se consolidou e, desde julho, a startup acelerou sua expansão, com a meta de alcançar milhares de usuários até o final do ano. Segundo Gabriel, a plataforma, que combina o “cérebro digital” da IA com facilitadores humanos, mostrou excelentes resultados, com mais de 90% dos usuários interagindo regularmente com a IA, o que demonstra alta retenção e engajamento.
A Mentora já está aplicando sua solução em empresas como a construtora RM Mais, onde tem contribuído para desenvolver maior protagonismo e autonomia nas lideranças. Agora, com o aporte de 1,5 milhão de reais recebido da DOMO.VC, a startup planeja aprimorar sua plataforma, especialmente na interação por voz, para que se torne cada vez mais eficaz em entender e apoiar os usuários. “Para 2025, planejamos levantar uma nova rodada de investimentos e já estamos em conversas com fundos para acelerar o crescimento”, diz Gabriel. “Além disso, estamos discutindo estratégias de internacionalização, buscando levar a Mentora para outros países e consolidar o produto no mercado global.”