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Alunos de Natureza do Design demonstram um dos projetos para o professor André Santana (sentado)Alunos de Natureza do Design demonstram um dos projetos para o professor André Santana (sentado)

 

 

A turma da disciplina Natureza do Design, do primeiro semestre dos cursos de Engenharia do Insper, foi desafiada a pensar soluções que ajudassem pessoas com limitações motoras ou funcionais a ter mais autonomia e participação em atividades sociais. O trabalho deu continuidade à parceria entre a AACD — organização sem fins lucrativos que atende pessoas com mobilidade reduzida permanente ou temporária — e a Engenharia de Computação, a Engenharia Mecânica e a Engenharia Mecatrônica, iniciada em 2023, mas que remonta a 2010, quando um projeto de Resolução Eficaz de Problemas (REP) envolveu alunos de Administração da escola.

 

Enfrentar desafios em busca de soluções para problemas reais não é novidade na graduação do Insper. “Temos investigado muito essa estratégia de como se pode conectar a educação a experiências reais e fazer os nossos alunos ultrapassarem as fronteiras da instituição que está dando a formação de ensino superior”, diz o professor André Santana, que ministra a disciplina com os professores Franco Moro, Gabriel Mantese, Igor Vac, Lucas Artacho e Rafael Marzolla. “Nos preocupamos que, além de desenvolver as habilidades e competências profissionais de engenheiros, os alunos sejam capazes de entender, com plenitude, como eles poderão exercer o papel social deles.”

 

Todos os semestres, em Natureza do Design, os estudantes interagem com algum público-alvo externo da universidade. Essa abordagem permite trabalhar com dores complexas e genuínas, ainda sem uma definição nítida do problema e dos caminhos a seguir, explica Santana. É um processo que mexe com uma série de habilidades e competências, desde a análise crítica até a capacidade de identificar as pessoas interessadas e dialogar com elas. “Acreditamos muito no processo de co-design, que permite que os estudantes criem soluções com e para as pessoas, e essa é uma habilidade profissional e social importante para engenheiros e engenheiras”, diz Santana.

 

O professor Gabriel Mantese detalha a atividade: “Na primeira etapa da disciplina, os alunos primeiramente exploram sobre o desafio em reportagens, trabalhos acadêmicos, relatórios etc. Em seguida, entrevistam stakeholders interessados no problema, principalmente pessoas que estão passando pela dificuldade. Assim, eles conseguem definir uma persona que reflete o público-alvo e um problema específico para poderem resolver. Na segunda etapa, os alunos propõem uma solução, que a gente chama de conceito de solução, ou seja, é apenas uma proposta que está no papel, ainda não passou por validação dos stakeholders. Na terceira etapa, eles montam e testam protótipos físicos de baixa fidelidade com o objetivo de receber feedback quanto ao conceito de solução proposto. Enfim, na quarta etapa, eles fazem uma iteração da solução com base nos feedbacks recebidos, e constroem mais um protótipo, ainda de baixa fidelidade, mas que traz alguma função crítica da solução que eles estão propondo”.

 

O contato com a AACD ocorreu na busca por parceiros para os cursos de Engenharia na área de saúde e bioengenharia. Havia o interesse mútuo de formalização de uma parceria para o desenvolvimento de soluções tecnológicas em próteses, órteses e outros produtos de ortopedia. A primeira experiência deu origem ao então Projeto Final de Engenharia — desde o ano passado denominado Capstone — que construiu uma órtese em manufatura aditiva, orientado pelo professor Carlos Magno de Oliveira Valente, coordenador do curso de Engenharia Mecânica do Insper.

 

 

Potencial de exploração do problema

 

Como a turma de Natureza do Design reúne estudantes do primeiro semestre, a demanda atual foi refinada pelo potencial de exploração dos problemas da AACD, em detrimento da criação de uma solução eletrônica, que exigiria maior experiência. Segundo Mantese, entrevistas com pessoas que passam por problemas específicos ajudaram a elaborar o escopo do projeto e definiram o público-alvo em crianças e adolescentes (familiares inclusos) com mobilidade reduzida permanente ou temporária. Também foram ouvidos profissionais da saúde, como fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais.

 

Para Mantese, representa um ganho gigantesco para a vida e a carreira dos alunos a possibilidade de, já no primeiro semestre de curso, visitar uma instituição como a AACD. “E, mais do que entrevistar, criar empatia pelos potenciais usuários das tecnologias e pelas pessoas que estão passando pelo problema tem enorme potencial transformador”, diz Mantese. “Como professor, vejo ganhos práticos também para a AACD, que tem uma oficina própria para desenvolver essas soluções. Foi um momento no qual pessoas de fora, alunos do primeiro semestre, propuseram soluções com potencial bem bacana, mesmo que ainda sem a confiabilidade necessária. Mas essas ideias podem seguir em frente internamente na AACD.”

 

Essa percepção é compartilhada por Victor Mantic, coordenador de inovação tecnológica da AACD, que integrou a banca julgadora dos trabalhos, junto com Eric Lee, analista de inovação da AACD e engenheiro mecatrônico formado pelo Insper. “Essa conexão entre a AACD e o Insper reforça o compromisso de ambas as organizações com a inovação social, apostando na colaboração como caminho para promover uma sociedade mais inclusiva e acessível”, diz Mantic. “Acredito que foi o primeiro projeto de vários outros, com o intuito de ter esse olhar mais específico sobre acessibilidade e inclusão social. Ao unir o conhecimento técnico dos estudantes com a vivência prática dos nossos pacientes, criamos um ambiente de aprendizado mútuo, empatia e criatividade.”

 

 

Os projetos dos alunos

 

A disciplina conta com várias equipes distribuídas entre diferentes turmas. No entanto, três equipes, uma de cada turma, participaram do projeto em parceria com a AACD. Os integrantes foram Anthoni Serro, Beatriz Guida, Carlos Neto, Felipe Barros e Gabriel Henrique (Turma A); Felipe Costa, Juliana Santana, Gisela Diniz e Pedro Padula (Turma B); e Brena Ferro, Gabriel Lemos, Laura Pittoli, Luís Rosa, Raphael Bagnariolli e Mylena Prado (Turma C).

 

A equipe da turma A desenvolveu um suporte que sustenta o pescoço e facilita a alimentação de crianças com mobilidade reduzida. Por sua vez, a Turma B percebeu quer seria possível, ao mesmo tempo, ajudar a criança a ter mais autonomia e permitir ao seu cuidador (quase sempre a mãe) maior possibilidade de executar as suas outras atividades diárias. A solução proposta e prototipada foi o Auto-Car, basicamente um carrinho no qual a criança fica sentada em segurança, mas no qual ela pode interagir com uma mesinha interativa e, dependendo do grau de redução da mobilidade, se movimentar pela casa. Além disso, a ideia é que a solução fosse leve o suficiente para que o cuidador consiga levar para outras localidades, como no trajeto até a AACD, por exemplo.

 

Para Juliana Santana, aluna de Engenharia Mecatrônica, o processo de cocriação foi fundamental para o projeto do Auto-Car, que tinha um escopo bem restrito e delicado. “Percebi que ouvir as necessidades do público-alvo é importante para qualquer desenvolvimento de produto, pois, no fim, se o público não desejar o produto tudo terá sido feito em vão”, afirma Juliana. “A visita à AACD com o nosso protótipo sujo foi importante para ouvir sugestões de melhorias das mães e dos fisioterapeutas, que, em sua maioria, foram coisas que nós da equipe não tínhamos pensado que seria importante para o produto e para garantir o nosso objetivo desde o inicio: conforto, segurança e interação para a criança e o cuidador.”

 

O  TableTop — projeto da Turma C — trata-se de um conjunto de tampões multifuncionais adaptáveis a cadeiras de rodas, desenvolvido para promover conforto, autonomia e inclusão de pessoas cadeirantes no dia a dia. O projeto inclui superfícies específicas para escrita e desenho, atividades lúdicas como montagem de Lego e suporte para alimentação, oferecendo soluções práticas e acolhedoras em diferentes contextos de uso. “Os principais desafios eram pensar em algo funcional e adaptável para várias faixas etárias, mas que também fosse viável de ser produzido em curto período de tempo e com os materiais que tínhamos disponíveis”, conta Laura Pittoli, aluna de Engenharia Mecatrônica.

 

O grupo precisava criar algo que auxiliasse no processo de integração social de crianças com algum tipo de mobilidade reduzida. A partir dos dados coletados em conversas com famílias e crianças, foi possível adaptar e melhorar a ideia de protótipo aos objetivos iniciais dos alunos. Testes no protótipo intermediário e testes práticos na AACD permitiram obter às medidas corretas dos tampões, confirmar as principais necessidades dos usuários e chegar a uma conclusão sobre o protótipo final. “A interação com os responsáveis da área de inovação na AACD e com os pacientes foi de extrema importância para desenvolver da melhor forma possível o nosso projeto”, diz Laura.

 

Mylena Prado, do curso de Engenharia Mecânica e colega da equipe da Turma C, complementa: “Trabalhar com a AACD foi essencial, porque pudemos não só ir até o hospital conhecer as crianças e as suas necessidades, mas também olhar a fábrica e entender quais materiais poderíamos usar para o nosso trabalho, o que possibilitou expandir o nosso pensamento”. Também da Turma C, Brena Ferro, aluna de Engenharia de Computação, explica que uma das principais reflexões em relação ao TableTop foi que, muitas vezes, o produto ideal não precisa ser revolucionário. “Toda a experiência contribuiu para a gente poder enxergar uma dor específica do dia a dia dessas crianças e apresentar uma inovação que, por mais que não seja revolucionária, facilita o dia a dia e ajuda a interagir com outras crianças”, afirma Brena.

 

 

Competências de trabalho

 

Para todos os grupos da disciplina, o projeto aprimora competências de trabalho em equipe, resiliência, comunicação, capacidade de negociação e gestão de pessoas com perfis distintos. O professor André Santana ressalta que a solução apresentada pelos estudantes precisa ser desejável, factível e viável. “A parte de factibilidade e habilidade vem muito do que eles vão aprendendo com a instrumentação da disciplina, ao usar os recursos do FabLab, por exemplo, e ao interagir com o time de técnicos”, diz Santana. “Essas competências técnicas são desenvolvidas junto com as competências de design e empreendedorismo. No final, o aluno sai muito mais forte de uma disciplina como essa. Eles acabam, inclusive, usando o que desenvolvem na disciplina como instrumento para participar de forma mais eficiente, no futuro, de processos de trainee e estágios de verão.”

 

O grupo da Turma C de Natureza do Design desenvolveu o TableTop, um conjunto de tampões multifuncionais adaptáveis a cadeiras de rodasO grupo da Turma C de Natureza do Design desenvolveu o TableTop, um conjunto de tampões multifuncionais adaptáveis a cadeiras de rodas


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