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Localizado no extremo sul de São Paulo, o distrito do Jardim Ângela foi apontado pela ONU em 1996 como o lugar mais violento da Terra — isto mesmo: de todo o planeta —, registrando taxa anual de 116,23 assassinatos para cada 100 mil habitantes. Ainda hoje está entre as áreas com os piores indicadores sociais da cidade, de acordo com o Mapa da Desigualdade produzido pela Rede Nossa São Paulo. O estudo reúne 45 indicadores dos 96 distritos da capital paulista divididos em 11 áreas temáticas, como educação, saúde, habitação, trabalho e renda, cultura, segurança pública e mobilidade. O Centro de Estudos de Cidades | Laboratório Arq.Futuro do Insper participa dessa iniciativa junto com a organização social Ikone, e em parceria com a Prefeitura de São Paulo, objetivando melhorar esse distrito por meio das ferramentas participativas e metodologias de projetos de urbanismo social. 

 

“São três ferramentas basicamente utilizadas nesse trabalho: processo participativo em todas as etapas, com o efetivo envolvimento dos moradores; integração de diferentes políticas públicas, como habitação e infraestrutura, lazer, cultura e segurança a partir do fortalecimento da cidadania; e a colaboração da universidade nos processos de monitoramento e avaliação de resultados a partir de dados e evidências coletadas no território”, diz Laryssa Kruger, coordenadora-adjunta da Pós-Graduação em Urbanismo Social e do Núcleo de Urbanismo Social e Segurança Pública do Centro de Estudos de Cidades | Laboratório Arq.Futuro do Insper. “O principal propósito é trazer a sociedade civil para construir soluções que façam sentido para os territórios vulnerabilizados, em parceria com o poder público”, pontua ela.

 

O trabalho de implementação do projeto começou em setembro do ano passado com os alunos da Pós-Graduação em Urbanismo Social do Insper integrando a equipe da Ikone. Para isso, eles fizeram um diagnóstico das necessidades do Jardim Ângela, utilizando a abordagem participativa do urbanismo social — ouvindo, portanto, os moradores. Também traçaram o perfil sociodemográfico, percebendo que os moradores da comunidade, por ser bem antiga, estão plenamente integrados e engajados na solução de problemas antigos e persistentes. “Nosso objetivo foi proporcionar uma atuação mais prática aos nossos alunos, aplicando os conteúdos lecionados aos territórios vulnerabilizados”, explica Laryssa.

 

 

Intervenções em várias frentes simultâneas

 

O projeto no Jardim Ângela integra diferentes frentes de política pública. Isso significa envolver tanto melhorias de infraestruturas físicas como vielas e escadarias, criação de espaços de convivência para a comunidade e de lazer para as crianças, com programações culturais, quanto o apoio para melhoria das residências. 

 

“Há previsão de R$ 30 mil para reforma de cada uma das cem casas contempladas no Programa Pode Entrar, da Prefeitura de São Paulo”, afirma Laryssa. A definição de como esse recurso será investido cabe às famílias contempladas, junto com a equipe técnica e social. Existem construções que sofrem com mofo, por exemplo, outras com infiltrações. Pode ser que haja necessidade de abrir janelas, instalar pisos e azulejos ou enfrentar o problema da umidade no telhado. Até o momento, 20 casas foram reformadas pelo projeto de melhoria, que também já fez uma série de obras na infraestrutura urbana da região.

 

Dois escadões extensos, que possibilitam aos moradores entrar e sair de forma digna da comunidade, foram reformados e já entregues. “Tinha muito lodo nesses locais, o que fazia com que as pessoas escorregassem, especialmente quando chovia. O alagamento de áreas era outro problema, assim como degraus muito altos, prejudicando a mobilidade de idosos e crianças. Parametrizamos os degraus e instalamos corrimão para melhorar a acessibilidade, além de vencer desníveis de forma lúdica, criando escorregador para crianças”, detalha Laryssa. Outras intervenções estão igualmente prontas, como a transformação de uma viela inteira para que tenha acessibilidade aos idosos e a entrega do parquinho para as crianças.

 

 

Arte urbana

 

Além de todas as melhorias citadas, a entrada da comunidade Alphaville no Jardim Ângela recebeu uma intervenção de arte urbana, criando uma galeria a céu aberto, com cada morador podendo decidir o que seria retratado nos seus portões e muros. Ainda como parte dessa iniciativa, pinturas artísticas foram feitas nos andares mais altos, para tornar a comunidade visível mesmo a distância, ampliando o orgulho com o bairro. “O propósito aqui é trazer o sentimento de pertencimento, já que, por meio das pinturas, aumenta-se a visibilidade da comunidade no ambiente urbano”, observa Laryssa. Por fim, foram instauradas atividades culturais como oficinas de estêncil, contação de histórias e cinema com programação voltada para os moradores.

 

A parte prática do projeto será finalizada em março. Depois disso, começa o momento de monitorar e avaliar as ações em relação à melhoria da qualidade de vida das pessoas e do sentimento de pertencer à comunidade. “Estamos trabalhando desde o início com dados coletados ou produzidos dentro do território da forma que o Insper acredita que deve ser a política pública, ou seja, embasada em evidências”, completa Laryssa.

 



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