A professora de Comunicação para Negócios na pós-graduação do Insper, Mara Behlau, soma mais de 40 anos de atuação em um tema essencial e, muitas vezes, invisível: a voz. Em junho, durante o congresso anual da The Voice Foundation, nos Estados Unidos, essa trajetória foi reconhecida com o Pioneer Award, um prêmio inédito que celebra mulheres líderes e inspiradoras no campo da voz.

 

Fonoaudióloga e pesquisadora, Mara foi homenageada por sua contribuição à pesquisa, ao ensino e, especialmente, à mentoria de mulheres em uma área ainda marcada por desigualdades de gênero.

 

O prêmio Pioneer Award foi promovido pelo comitê Women in Science, criado pela The Voice Foundation no ano passado, para ampliar a visibilidade e as oportunidades para mulheres na ciência vocal. “Neste primeiro ano (do prêmio), foram indicadas 20 mulheres de várias partes do mundo e houve uma votação entre os participantes do congresso. Eu fui pega de surpresa", conta Mara, sobre o momento em que soube que havia sido escolhida.

 

Fundada em 1969, a The Voice Foundation é a principal organização internacional dedicada à pesquisa, educação e cuidado com a voz. A entidade promove a integração entre pesquisadores, clínicos e profissionais da voz, além de publicar o Journal of Voice, considerada uma das revistas científicas mais importantes da área.

 

A professora Mara tem uma longa trajetória junto à fundação. “Eu frequento a The Voice Foundation desde 1983, quando fui fazer meu mestrado-sanduíche na Michigan State University. Até aquele momento, nenhum brasileiro participava da fundação”, relembra.

 

A voz como ferramenta

 

Graduada em Fonoaudiologia pela Escola Paulista de Medicina da Unifesp, Mara tem mestrado e doutorado com parte das pesquisas realizadas nos Estados Unidos, além de pós-doutorado pela Universidade da Califórnia, em São Francisco. Há 15 anos, atua como professora na pós-graduação do Insper, unindo sua experiência técnica ao universo das relações interpessoais e da comunicação nos negócios.

 

“É a qualidade da nossa comunicação que nos destaca dos competidores”, afirma. “O mais importante veículo da nossa comunicação é a voz. Ela atrai ou afasta. Se for tensa, fina ou baixa demais, não engaja. A comunicação profissional é um tipo especial de interação treinada. E comunicação é uma habilidade essencial, porque ela promove você. E também pode demitir você.”

 

Neste trabalho técnico com a voz, Mara dedicado um olhar especial ao espaço de mulheres no mercado de trabalho, apoiando trajetórias que enfrentam obstáculos estruturais. “Tenho um centro de estudos sobre a voz aqui no Brasil. (Por meio dele), buscamos impulsionar mais mulheres, porque elas têm menos oportunidades”, diz.

 

A professora ressalta os desafios que ainda persistem para este público, especialmente no modo como comunicam suas ideias. “Precisamos fazer uma comunicação mais direta, sem pedir desculpas por aparecer ou corrigir um erro. Quando dizemos 'vou falar só um pouquinho', já desqualificamos tudo o que vem depois”, alerta.

 

Questionada sobre a importância do reconhecimento internacional, Mara resume com naturalidade e propósito: “Fui pega de surpresa, embora tenha dedicado minha vida a isso, quando eu paro para pensar, eu falo: ‘Por que que eu fiz tudo isso?’ Eu fiz porque precisava ser feito, simplesmente.”