Política de incentivo fiscal, redução da burocracia para abertura e fechamento de empresas e melhoria da legislação trabalhista são os principais avanços para o fortalecimento da indústria de venture capital (VC) no Brasil. A conclusão é do vice-presidente da Associação Brasileira de Private Equity & Venture Capital (Abvcap), Clovis Meurer, que também aponta como obstáculo a taxa de juros praticada no país.
Segundo o executivo, a indústria tem enorme potencial para crescer,mas essas questões têm dificultado o avanço do setor. Meurer lembra que o investidor de Bolsa, um segmento mais líquido, compra um papel hoje e se vender a ação daqui 30 dias irá pagar imposto de 15% sobre ganho de capital, a mesma alíquota que incide nas operações de VC. “Você demora de três a cinco anos e vai ter o mesmo imposto?Acho injusto que uma pessoa que corre risco de longo prazo e com menos liquidez, tenha o mesmo imposto que o investidor do mercado acionário”, diz.
O executivo, que participou do 1º Congresso Brasileiro de Venture Capital, ressaltou ainda que a entidade já apresentou várias propostas ao governo. “Estamos trabalhando numa consultoria legislativa. Já fizemos vários seminários dentro do Congresso comparticipação de deputados e membros do governo. O ministério da Fazenda não abre mão de tributação só por abrir. Precisamos mostrar os dados do setor e provar que o aumento de negócios e de emprego compensa o movimento de redução de impostos. Somos uma indústria jovem e precisamos levar todos os dados para o governo”, pondera.
Meurer disse também que está em fase de elaboração junto à Comissão de Valores Mobiliários uma minuta que visa a unificar as normas 209/94 e 391/03, o projeto 600 . “É uma tentativa de juntar as duas normas para que elas sejam atualizadas, modernas. As atuais normas continuam em vigor. A CVM é muito cuidadosa e deve colocar a proposta em audiência política em meados de 2015”, estima.
O diretor de Investimentos da Funcef, Maurício Marcellini, também concorda que a indústria tem potencial para crescer,mas observa que enquanto a taxa de juro básica estiver na casa de dois dígitos, o investidor se mantém afastado deste segmento. “Não há incentivo para buscar esses investimentos com a taxa de juro neste patamar. É preciso uma taxa menor.A regulação é outra questão. Nos só investimos em projetos de três anos,isso porque somos avaliados a cada três anos e a questão deficitária,se houver,só pode viver por três anos”, diz.
A professora associada do Insper, Andrea Minardi,que apresentou um estudo com base na análise dos investimentos feitos por fundo de private equity e venture capital em empresas brasileiras nos últimos 30 anos, também concorda que a taxa de juro e a regulação precisam mudar para atrair o investidor para o segmento.
O estudo considera o período de 1982 a 2014, quando foram analisadas 556 transações de VC e private equity (PE), o que representou US$ 22 bilhões investidos no período, sem considerar os investimentos realizados por fundos corporativos. Do total de transações, 244 são investimentos totalmente liquidados, sendo 127 de PE e 116 VC, que correspondem a US$ 5,2 bilhões em investimentos, resultando em vendas que somaram US$ 11, 7 bilhões.
A pesquisa mostra que 98% do total investido foram em empresas de private equity e 2% em venture capital. Apesar de representar pouco em valor investido, a pesquisa mostra que o VC tem uma relevância em numero de transações. Isso se deve porque o cheque médio de PE (US$ 60 milhões) é 27 vezes maior que o cheque médio de VC (US$ 2,2 milhões). Vale ressaltar que no início da pesquisa era de US$ 24 milhões e US$ 300 mil, respectivamente. “A evolução do cheque médio mostra o amadurecimento da indústria”, pondera Andrea.
O chefe do departamento de fundos de Investimento do BNDES, Leonardo Pereira, ressaltou que o banco tem trabalhado no sentindo de fomentar conceito de corporate venturing – quando empresas aplicam recursos em empresas nascentes visando lucro futuro. “É um modo eficiente e menos oneroso de investir em tecnologica. As empresas brasileiras estão começando a fazer isso. Tem de seis a oito companhias que devem fazer corporate venturing”, revela.
Fonte: Brasil Econômico – 11/11/2014.