Temor de racionamento e relatório do BC dos EUA levam dólar a R$ 2,42
Bovespa recua 0,51% após Fed citar país como o segundo mais vulnerável.
Relatório do Federal Reserve (o banco central americano) — que citou o Brasil como o segundo mais atingido pelas turbulências recentes no chamado grupo dos cinco frágeis (junto com Turquia, África do Sul, Indonésia e Índia) — e o fantasma de um racionamento de energia pesaram ontem no humor dos investidores. Os dois fatores levaram o dólar a uma alta de 0,83%, cotado a R$ 2,42.
Moedas de outros emergentes também tiveram queda, mas o real foi a que mais se desvalorizou numa cesta com 16 divisas acompanhada pela Bloomberg. O rand sul-africano perdeu 0,48%, enquanto o peso mexicano recuou 0,28%.
Para João Luis Mascolo, professor de macroeconomia do Insper, a inclusão do Brasil na lista dos cinco frágeis do Fed é compreensível, embora o governo a considere injusta:
— O Brasil tem reservas internacionais, mas uma situação fiscal muito ruim, só pior que a da Turquia. O fluxo de dólares, incluindo o investimento direto, não cobre mais o déficit de transações correntes.
Em fevereiro, os estrangeiros continuaram a se desfazer de ações de empresas brasileiras. O saldo de investimento estrangeiro na Bovespa está negativo em R$ 1,45 bilhão até o dia 10. Em janeiro, ele fechou negativo em R$ 854 milhões. Ontem, o Ibovespa, principal índice da Bolsa, teve um dia volátil, influenciado pelo vencimento de opções e índice futuro. O índice abriu a sessão em alta seguindo o otimismo dos mercados externos com dados da China, que registrou superávit comercial de US$ 31,9 bilhões em janeiro, acima das expectativas. Mas logo inverteu o sinal e fechou em queda de 0,51%, aos 48.216 pontos. O volume negociado foi de R$ 12,1 bilhões, inflado pelo exercício de opções.
— O Ibovespa se manteve no patamar dos 48 mil pontos. A expectativa é que ela engate uma recuperação no curto prazo com o início da safra de balanços, que devem vir mais positivos — diz Elad Ravi, analista da corretora Spinelli.
A maior alta (4,77%) foi dos papéis preferenciais (sem voto) da Cemig, a R$ 13,83. Segundo um operador, Cemig e Cesp se beneficiam dos preços recordes no mercado livre.
— Um novo apagão, desta vez em algumas cidades do Espírito Santo, manteve o fantasma do racionamento de energia na pauta do mercado — disse Guilherme França, operador de câmbio.
FLUXO CAMBIAL AINDA POSITIVO
O Brasil só recebeu US$ 46 milhões na primeira semana de fevereiro, já descontada a saída de recursos. De acordo com o BC, os importadores fizeram muitas remessas para pagar os itens trazidos ao país, o que praticamente anulou as entradas de recursos no mercado financeiro, de US$ 1,5 bilhão.
O comércio exterior foi responsável pela saída de US$ 1,4 bilhão do país. O dado leva em consideração tudo o que entrou para pagar exportadores. Os números são descasados da balança comercial porque representam pagamentos e não embarques e desembarques de mercadorias.
Em janeiro, por exemplo, a balança registrou o pior mês da História, mas as empresas exportadoras aproveitaram a alta cotação do dólar para trazer recursos de operações feitas no passado. Isso fez com que o Brasil tivesse fluxo cambial positivo de US$ 1,6 bilhão.
Com a entrada líquida de dólares em janeiro e os dados preliminares dos cinco primeiros dias de fevereiro, o Brasil acumula um fluxo cambial positivo de US$ 1,7 bilhão neste ano. No mesmo período de 2013, o país registrava saída líquida de US$ 3 bilhões.
A expectativa dos analistas do mercado era que o Brasil tivesse uma saída maior de dólares no início do ano por ser considerado um dos mais vulneráveis entre os emergentes.
Veículo: O Globo – 13/02/2014