07/06/2013
Disciplina não obrigatória, mas indispensável. Tema recorrente em qualquer curso com foco em gestão e destinado a um público-alvo formado basicamente por alunos que já tenham bagagem profissional. É nesse contexto que está inserido o ensino das boas práticas de governança corporativa nas principais escolas de negócios. A complexidade do tema, com regras gerais definidas pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), critérios de listagem na BM&FBovespa, além da regulação promovida pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), garantiu uma demanda crescente ao longo do tempo. Indispensável como disciplina, o assunto ainda é pouco explorado nos grandes centros acadêmicos e de formação de executivos como um curso à parte.
É o caso da Fundação Instituto de Administração (FIA), que desenvolve desde programas de educação executiva a MBAs e pós-graduação. “O tema nos cursos da FIA é ensinado como parte integrante do processo gerencial. A disciplina permeia vários cursos, mas não é ensinada isoladamente”, explica Almir Ferreira de Sousa, coordenador do Programa de Capacitação da Empresa em Desenvolvimento (ProCED), da FIA. O professor lembra que o ensino da disciplina não é obrigatório, não há nenhuma regulamentação do MEC exigindo a abordagem do assunto. “Mesmo assim, é impensável um curso focado em gestão que não dê especial atenção à governança,’ No curso de graduação em administração, criado há dois anos na FIA, o enfoque é a discussão de valores. “O executivo precisa aprender ferramentas para avaliar valores intangíveis, a imagem da empresa e o impacto que uma decisão pode ter sobre ela” explica Sousa.
A Fundação Getúlio Vargas (FGV) também segue o modelo de ensino da governança corporativa como disciplina. “Abordamos o assunto nos mais variados cursos, mas também temos propostas mais especificas de ensino”, explica o professor da FGV Management, de São Paulo, Eduardo Pedreira. Um exemplo é o curso de gestão de tecnologia da informação (TI). “Nesse caso, levamos em conta todas as especificidades do setor, montamos o programa voltado para aquele profissional que já atua na área de TI e busca ferramentas de gestão com base nos princípios da governança.”
Embora na FGV a opção tenha sido por tratar a governança como disciplina, o professor vê como tendência a elaboração de programas específicos, sejam MBAs, pós ou mesmo de extensão universitária. “O tema ganhou muita relevância na última década e as escolas corresponderam à demanda incluindo como disciplina na grade curricular, mas vejo uma evolução natural que as escolas criem cursos inteiros sobre governança corporativa. Considero este ainda um ponto cego na maioria das escolas de negócios.”
Duas escolas saíram na frente e já atendem a essa demanda mais específica: a Fundação Dom Cabral (FDC), de Minas Gerais, e a Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi), em São Paulo. No caso da Fipecafi, há apenas um curso com esse foco, o MBA governança corporativa, desenvolvido em parceria com o IBGE. Já foi pioneira e conta hoje com um leque maior de opções de ensino do tema. A FDC tem um programa aberto de governança corporativa, um programa específico de desenvolvimento de conselheiros, além de programas “in company”.
”A fundação começou a ensinar governança há 20 anos, apenas como uma disciplina, mas logo depois desenvolveu cursos específicos”, explica Maria Teresa Roscoe, professora da FDC. Na modalidade de curso aberto, o objetivo é trazer uma visão geral das regras, como implantar o sistema, quais as melhores ferramentas e mostrar estudos de casos. Já na modalidade “in company”, a vantagem é a customização do programa. “Ele é montado em parceria com a empresa contratante, com urna abordagem multidisciplinar, mas a maior ou menor ênfase em um determinado assunto é definido pelo demandante”, explica Maria Teresa. “Uma vantagem desse modelo é trabalhar os temas de acordo com a realidade daquela empresa ou do setor.” A Fundação Dom Cabral deve ganhar, em breve, mais um competidor na área de cursos exclusivos de governança corporativa.
O Insper Instituto de Ensino e Pesquisa, com sede em São Paulo, prepara seu primeiro curso focado no tema. Até agora, governança fazia parte dos cursos com foco gerencial, mas apenas como disciplina. “Desde que o Insper foi criado, a governança é ensinada aos alunos, mas a novidade é que pela primeira vez estamos montando um curso inteiro dedicado ao tema. É um produto novo em nosso portfólio”, explica Rodrigo Amantea, coordenador dos cursos de educação executiva do lnsper. O MBA “governança corporativa e compliance”, com início previsto para agosto, tem como público alvo profissionais com as mais diversas atribuições, como administradores, auditores, advogados, herdeiros e gestores de fundos.
Outra tendência já identificada e atendida por algumas das maiores escolas de negócios do país é a formação de conselheiros. A qualidade da composição dos conselhos de administração tem recebido duras críticas dentro e fora do meio acadêmico. No Brasil, segundo o professor da FGV Management, há três fases da governança. A primeira, em que o conselho é peça decorativa; a segunda, em que os integrantes do conselho têm reputação; e a terceira fase, e mais importante, é formada por conselheiros com diferencial competitivo, podendo ser ou não notáveis. “No Brasil, estimo que 60% dos conselhos estão na fase um”, avalia Eduardo Pedreira. “Os cursos que ministro na FGV têm um ponto interessante e fundamental que é formar executivos em condições de se tornarem membros do conselho.” O objetivo é dotar o executivo de conhecimento e ferramentas para que ele saiba o que é um bom conselho de administração e, se necessário, se tomar elegível a ele.
A Fundação Dom Cabral também partilha do mesmo ponto de vista e tenta formar, na academia, bons conselheiros. A escola tem um programa de formação composto por módulos separados. Primeiro, o aluno aprende conceitos gerais de finanças, como um “aquecimento” nas palavras de Maria Teresa. Depois, é feita uma imersão no tema, com conceitos que vão da mecânica de funcionamento dos conselhos a requisitos legais. O curso é voltado para acionistas, conselheiros e candidatos ao conselho. “É sempre um profissional mais experiente, o tema pede maior senioridade. Acredito que podemos ajudar a melhorar a qualidade dos conselhos de administração, peça-chave da boa governança”, completa a professora da FDC.
Fonte: Valor Econômico- SP – 07/06/2013