14/04/2022
Empreendedores que estão no estágio inicial, como os da Ana Health, ajudam a pensar nos desafios de tirar um negócio do papel, diz o professor Lars Sanches
Leandro Steiw
Durante um semestre, os alunos do Insper compartilharam as dores de um empreendedor. A experiência consistiu na participação semanal de dois fundadores da startup Ana Health, o médico Olívio Souza Neto e o engenheiro de produção Víctor Macul, nas aulas da disciplina Execução Empreendedora, eletiva para todos os cursos, ministradas pelo professor Lars Sanches. A empresa de planos de medicina preventiva — cujo terceiro fundador é o engenheiro de computação Vinícius Molina Garcia — foi validada há pouco mais de um ano e iniciou a fase de tração.
Segundo Sanches, a disciplina tenta ajudar os alunos a pensarem nos desafios do dia a dia que irão viver quando estiverem tirando uma ideia de startup do papel e começando a empresa. “Trazer empreendedores que estão nesse estágio inicial do negócio para responder a perguntas dos alunos faz parte desse objetivo”, diz Sanches, professor de Operações e Empreendedorismo do Insper e afiliado ao Massachusetts Institute of Technology (MIT). “Os alunos percebem o quanto os conceitos que vimos na aula podem ser aplicados na prática.”
Ex-aluno do MBA Executivo do Insper, Souza Neto recorda que os grupos faziam trabalhos envolvendo a Ana Health e davam feedbacks tecnicamente embasados, que muitas vezes faltam em uma caminhada de empreendedorismo. “Além de aproveitarmos toda a bagagem do professor Lars Sanches, sentimos um comprometimento bacana da turma, aquela sensação boa de que as pessoas estão construindo algo com você”, diz Souza Neto. “Tudo o que colhemos ali colocamos para rodar na empresa, com as nossas releituras do que era conveniente mudar agora ou mais tarde.”
O cirurgião cardíaco Souza Neto já havia escrito os projetos da Ana Health quando começou a fazer o MBA. “Eu falo que ela nasceu dentro do Insper”, afirma. A ideia foi rodando entre colegas e professores, amadureceu durante o curso e acabou estreitando o contato com os futuros sócios Macul e Garcia, que se conheciam da Escola de Engenharia de São Carlos, da Universidade de São Paulo. Em fevereiro de 2021, antes mesmo do fim da pós-graduação, a startup já tinha CNPJ.
Entre empreendedores, parte do esforço reside em encontrar uma necessidade de produtos e serviços no mercado — a dor de alguém que se tenta solucionar. A insatisfação também movia a Ana Health. Souza Neto explica: “Quando entra para a faculdade de Medicina, você até pode pensar que o médico ganha dinheiro, mas entende que quer fazer o bem. O tempo passa, e você vai vendo que acabou. O médico não é profissional autônomo há muito tempo. Ele é empregado de uma indústria cruel. Mas vai falar isso em casa. As pessoas acham que você saiu para salvar vidas. E, quando percebe, você não sai mais para salvar vidas, mas para dançar uma música cruel que uma indústria estava tocando. E você tem que dançar”.
Souza Neto conta que se libertava um pouco dessa confusão no Sistema Único de Saúde (SUS), quando trabalhava em hospital público em São Paulo e no Rio de Janeiro. Durante quase três anos, porém, ele teve experiências em hospitais e clínicas na Inglaterra e na Alemanha, onde pôde estudar os sistemas de saúde de dois países europeus e compará-los com o modelo brasileiro.
Especializado em robótica e cirurgias minimamente invasivas, foi convidado a implantar a tecnologia em uma operadora de saúde do Brasil, da qual se tornou diretor executivo alguns anos depois. Em 2019, médico havia 25 anos, Souza Neto decidiu que era a hora de ampliar as suas pesquisas em uma pós-graduação. “Tudo convergiu para o Insper, como sendo uma escola mais adequada, com mais expertise, mais próximo do que eu poderia encontrar fora do Brasil”, afirma.
Atualmente, a Ana Health tem 16 funcionários, contratos com 15 empresas, entre associadas e parceiras, e atende em 16 estados do país. A prioridade são os planos corporativos, mas a procura de pessoas físicas aumentou à medida que alguns beneficiários indicavam familiares que não trabalhavam nas companhias contratantes. “O B2C é algo muito legal que aconteceu para nós, pois começou a crescer de uma forma que queríamos, mas não esperávamos”, avalia Souza Neto. “Descobrimos na prática como funciona o member get member, por intermédio daquelas pessoas que viram valor na Ana e começaram a trazer irmãos, esposas, maridos, pais, filhos.”
Na vida de um startup, chega o momento de captar recursos financeiros. “Tomamos a decisão de primeiro desenhar o produto com calma, porque não sabíamos como o negócio funcionaria. Agora que temos receita, vamos crescer com mais autoridade se houver um investidor que faça bastante sentido para nós”, diz Souza Neto. Para ele, o modelo da Ana Health deu certo, e agora a trajetória natural é se aproximar dos fundos de investimento que deram conselhos no início da jornada.