17/02/2022
A plataforma de prescrição eletrônica de medicamentos Nexodata, de Pedro Dias, atende mais de 300 instituições de saúde e 25 mil farmácias parceiras
Tiago Cordeiro
O que têm em comum Jorge Paulo Lemann, André Street, Guilherme Bechimol, Eduardo Mufarej e o Hospital Albert Einstein? Todos eles já investiram na Nexodata. Eles e o Meli Fund (fundo de venture capital do Mercado Livre), o fundo americano Floating Point e a brasileira FIR Capital.
Desde que surgiu, em 2017, a startup já realizou três rodadas de investimentos, a mais recente em julho de 2021, quando levantou 35 milhões de reais. Hoje, tem aproximadamente 100 empreendedores (como são chamados os colaboradores). Até o fim deste ano, a perspectiva é dobrar de tamanho e chegar a 200.
Especializada na prescrição eletrônica de medicamentos e exames para prestadores de saúde, empresas de tecnologia e farmácias, a healthtech já alcançou a marca de mais de 2 milhões de pacientes atendidos, mais de 300 clientes institucionais, entre hospitais, operadoras e clínicas, e mais de 25 mil farmácias parceiras.
Seu CEO, Pedro Dias, de 26 anos, estudou no Insper. Cursou a graduação em Administração por cinco semestres — o suficiente para aprender, dentro da instituição, o significado da palavra “empreendedorismo”.
Nascido em São Paulo, Dias iniciou a faculdade no segundo semestre de 2014. “Quando entrei, eu não era uma pessoa empreendedora”, conta. “Não sabia o que era empreendedorismo, o que era uma startup.” Como resultado do convívio no ambiente acadêmico, tentou, por duas vezes, participar da Liga de Empreendedores do Insper, uma entidade estudantil recém-criada, naquele momento, por estudantes que tinham interesse em abrir seus próprios negócios. Foi recusado em ambas as vezes.
“Na primeira tentativa, não passei nem da primeira fase. Na segunda, cheguei à etapa de entrevista”, lembra. Nessa época, em junho de 2015, foi convidado por um colega, e membro da liga, João Gabriel Alkmim, a entrar para a Vitta, uma startup especializada em desenvolver tecnologias para a área da saúde. “Nem titubeei. Parecia que estava passando um cavalo selado na minha frente.”
Mas o trabalho na Vitta (que em 2020 seria vendida para a empresa de meios de pagamento Stone) tomava muito tempo da faculdade. “Quando a empresa ganhou corpo, realizou duas rodadas de investimento e um processo bem-sucedido de aquisição, decidi abandonar a graduação”, diz o empreendedor. “Eu não conseguia entregar o nível de excelência exigido pela instituição. No início de 2017, deixei o Insper.” Antes disso, candidatou-se à Liga de Empreendedores por uma terceira vez e foi finalmente aceito.
Dias comenta que muitas pessoas admiram o fato de ele ter abandonado a faculdade, como fizeram outros empreendedores famosos, como Steve Jobs, Bill Gates e Mark Zuckerberg. “Não vejo como um mérito. Minha decisão foi bem pensada, mas as chances de uma pessoa tão jovem cometer um erro de avaliação são muito grandes”, afirma. “Não incentivo as pessoas a largar a faculdade.”
Na mesma época, Dias dava início às atividades da Nexodata.
A proposta de funcionar como uma espécie de rede, conectando todos os players de saúde com uma plataforma de geração de receitas eletrônicas, surgiu durante uma visita de Dias e seu sócio Lucas Lacerda aos Estados Unidos, onde o mercado já era dominado pelo receituário eletrônico.
“A Nexodata tem duas grandes visões”, explica o CEO. “A primeira é ajudar os médicos e os hospitais a entregar prescrições digitais com segurança e praticidade. A segunda é contribuir para o consumidor ter, ele também, uma experiência de compra 100% digital.”
Três anos depois, a proposta da Nexodata se mostraria especialmente oportuna. “Estávamos preparados para a digitalização do setor, que deu um salto de dez anos em dois”, diz o ex-aluno do Insper. Em março de 2020, a Nexodata ainda não tinha farmácias integradas a seu sistema. Com as primeiras medidas de isolamento no início da pandemia, a startup chegou a receber 300 novas farmácias diariamente. O número de usuários da plataforma cresceu dez vezes desde então. Há espaço para crescer, avalia ele. Afinal, apenas 5% das receitas emitidas no Brasil são emitidas digitalmente. “A missão é longa, estamos apenas no começo. Sabemos que a receita digital veio para ficar”, afirma.
Quanto à passagem na instituição de ensino, Dias guarda boas lembranças. “Estar inserido no ecossistema do Insper foi muito grandioso. O networking da faculdade, tanto entre alunos quanto com professores, apoiadores e diretores, é muito rico. Quando iniciamos a experiência na Nexodata, contamos com muito apoio e estímulo na instituição”, diz. “Eu não teria virado empreendedor se não fosse o Insper.”
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