Diante de uma crise que afeta áreas estratégicas como transportes, segurança e recursos hídricos, a reeleição do governador Geraldo Alckmin (PSDB) está em risco e revela entre seu maior beneficiário o pré-candidato do PMDB ao governo do estado, Paulo Skaf. A tese é de cientistas ouvidos pelo DCI.
Cientista político do Insper, Humberto Dantas registra que Skaf já vem se beneficiando desse quadro há algum tempo.
“Skaf em 2010, pelo Partido Socialista Brasileiro, não teve muito mais do que 5% dos votos em 2010. No Datafolha anterior de novembro do ano passado, ele tinha cravado 20% [dos votos]. Ele já está se beneficiando. É nítido. Ele não ocupou nenhum cargo público, não disputou eleição, sai de uma eleição com 5 pontos percentuais onde não era visto como alternativa. Skaf saiu da eleição de 2010 como entrou e, de repente, ele soma 20% numa pesquisa? Alguma coisa tem”, destaca.
O professor do Insper aponta como causa principal da ascensão de Skaf as inserções do peemedebista via sistema S e Fiesp, com a inauguração de escolas técnicas pelo interior afora que foram denunciadas tardiamente pelo PSDB, mas que acabaram chanceladas na Justiça Eleitoral.
Rafael Cortez, da Tendências Consultoria, frisa que Skaf também se beneficia por não ser um nome tradicional da política.
“Na medida em que os nomes tradicionais têm dificuldade em construir suas estratégias eleitorais, o outro lado dessa moeda é que nomes não tão tradicionais, mas que têm capital, têm recursos importantes numa eleição. Skaf tem um recall porque já participou de eleição, tem um partido com uma estrutura importante, tem capacidade de mobilizar recurso econômico”.
Pioneiro do marketing político no País, Chico Santa Rita observa que nem tudo são flores no caminho de Skaf e que ele terá de explicar durante a campanha o fato de sua postulação ser uma linha auxiliar do PT. “Não adianta ele [Skaf] querer amenizar [que é candidatura vinculada à Dilma], o fato é este”, assinala completando que é preciso atentar para qual será decisão o PMDB no que diz respeito á manutenção da aliança nacional com o PT no plano nacional ou não.
Negociações
Humberto Dantas destaca que, sem PSB e PSD, ambos assediados para uma aliança com Alckmin, o jogo do tempo de TV fica muito equilibrado.
“Se você olhar para as simulações de primeiro turno sem o PSB e o PSD, o jogo tá muito equilibrado entre Skaf, Alckmin e Padilha. E, para um governo que pode começar a aparecer nas pesquisas como mal avaliado, o governo sabe que vai ter mais trabalho. Então é uma estratégia correta”.
Sobre o assédio tucano, que pode culminar com Gilberto Kassab (PSD) na vaga de vice de Alckmin, Rafael Cortez entende que a questão é pautada prioritariamente por tempo de televisão e não por nomes. “Se o caso for este, o que dizer de uma aliança com Paulo Maluf?”, indaga Humberto Dantas. O cientista político do Insper observa ainda que Alckmin peca ao não construir marcas de gestão.
“Padilha é PT e existe sim uma resistência ao PT no Estado de São Paulo. Não à toa as últimas duas eleições foram vencidas no primeiro turno. E o que você está vendo na televisão? Que ele [Alckmin] reformou a estação de trem. Quatro anos e o que ele tira da lista do que ele fez foi reforma de estações de trem?”, indaga.
Na mesma linha, Chico Santa Rita, estranha a dificuldade do PSDB em aproveitar oportunidades para exaltar seu candidato.
“Talvez o Alckmin não esteja percebendo situações favoráveis a ele também. A presidente Dilma disse que tem dois candidatos em São Paulo: Padilha e Skaf. Euacabo de ler a Datafolha e a Dilma não está podendo ter o poder de apoio muito grande. Eu não vi ninguém do PSDB responder à altura”, observa.
Questionados sobre o peso de Marina Silva na sucessão paulista, os cientistas assinalaram que a negativa da Rede em se associar com Alckmin não irá impactar o tucano. “Aquele negócio de 20 milhões de votos valia para 2010. já se diluiu. No Distrito Federal, onde ele ganhou em 2010, nós temos pesquisas e o efeito Marina não existe”, salienta Santa Rita.
Rafael Cortez acredita que a postura de Marina de vetar alianças em estados estratégicos pode travara montagem de palanques pró Eduardo Campos nos estados, sem efeito mais evidente na campanha alckmista.
Pesquisa tardia
Dantas ainda questiona o fato de as pesquisas eleitorais tendo como objeto a sucessão nos dois maiores colégios eleitorais no País – São Paulo e Minas Gerais – ambos governados pelo PSDB, que não são realizadas com frequência. “A última pesquisa que nós fizemos séria e divulgada, para o estado de São Paulo, foi um Datafolha de 28 e 29 de novembro [de 2013] e um Ibope de 23 de novembro a 2 de dezembro. [do mesmo ano], que falava só sobre a imagem dos governantes. Ninguém tem interesse em São Paulo? A pesquisa mais recente do Rio de Janeiro foi de abril, a mais recente de Santa Catarina foi de final de março, Goiás; maio, Bahia; maio, Ceará; maio. Curiosamente, São Paulo; novembro e Minas; meados de outubro, são os estados que menos têm pesquisa, os dois fundamentais para o PSDB”, assinala o professor do Insper.
Fonte: DCI – SP – 09/06/2014