29/08/2019
Evento reuniu especialistas internacionais e debateu mecanismos que favorecem a colaboração sistêmica de múltiplos atores em favor da formação de professor e aprendizagem na sala de aula
No dia 21 de agosto aconteceu o lançamento do Centro de Educação do Insper, marcado pela realização de seu primeiro evento, o seminário Redes Instrucionais e Excelência em Sala de Aula. Na agenda, discussões sobre o desenvolvimento do professor e a excelência da sala de aula, especialmente nas áreas de STEM (Science, Technology, Engineering and Mathematics).
Os debates envolveram o conhecimento do conteúdo aliado ao conhecimento pedagógico como partes da formação de professores e os mecanismos (por exemplo, rede de aprendizagem entre professores) que favorecem a colaboração sistêmica de múltiplos atores em favor da sala de aula.
O Centro de Educação do Insper
Carolina da Costa, vice-presidente da Graduação e fundadora e diretora do Centro de Educação do Insper, ressaltou durante a abertura do evento os estudos já realizados pela escola na área da Educação sobre competências socioemocionais, avaliação de impacto social e evasão escolar, com apoio de Ricardo Paes de Barros, economista-chefe do Instituto Ayrton Senna e professor da Cátedra Instituto Ayrton Senna e de Sergio Firpo, Professor Titular da Cátedra Instituto Unibanco no Insper.
“Essa é a primeira de muitas discussões que vamos promover com o nosso Centro de Educação. Por meio dessas ações, procuramos ser cada vez mais relevantes nesse debate e analisar como podemos trabalhar em parceria com o terceiro setor, Secretarias de Educação e instituições acadêmicas”, ressaltou Carolina. A metodologia de trabalho do Centro é baseada na abordagem Design-Based Implementation Research, que enfatiza aplicar boas ideias documentadas em pesquisa sobre sala de aula, buscando formas de implementação sistêmica. Mecanismo de formação que une prática e pesquisa, visando escalabilidade.
“A missão do nosso Centro é promover o desenvolvimento pedagógico de gestores, professores e alunos por meio do maior entendimento de como a sala de aula pode impactar o desempenho escolar, com foco em STEM”, explicou Carolina.
Por meio dessa metodologia, o Centro desenvolverá um programa de Pós-graduação com três componentes principais. “A aula tem que ser desenhada voltada ao aprendizado, os professores precisam ser treinados nesse conceito de desenhar práticas amparadas em pesquisa para fazer intervenção em sala de aula e é necessário criar o conceito de multiplicadores – os professores precisam voltar para seus locais e formar outros, criando uma rede de formadores.”
O Centro atuará em colaboração com Secretarias e redes de ONGs com o objetivo de entender melhor o público que mais vai fazer a diferença ao participar desse modelo formativo. “Assim, buscamos também criar uma rede de ‘formadores de formadores’ e desenvolver experimentos em redes multi-institucionais para testar ideias de pesquisa em STEM e impactar a sala de aula com escalabilidade”, ressaltou Carolina.
O Centro de Educação se beneficia por estar em uma escola que preza integração de diferentes áreas de conhecimento. “A Administração traz conteúdo sobre gestão de múltiplos stakeholders, governança e transferência de conhecimento. A Tecnologia propicia pensar em soluções escaláveis. A economia com desenho de mecanismos, incentivos e avaliação de impacto. As pessoas que vamos trazer para perto na área de Educação vão reforçar nosso modelo de pesquisa e ensino.”
Reformas educacionais em Portugal
O ex-ministro da Educação de Portugal, Nuno Crato, compartilhou as reformas educacionais que liderou em sua trajetória no ministério, com destaque aos arranjos sistêmicos que as tornaram efetivas. “Portugal conseguiu evoluir no desempenho em Matemática, Literatura e Ciência. Hoje, apresenta melhor rendimento que a Suíça e Luxemburgo, que têm investimentos cerca de três vezes maiores que os portugueses”, destacou.
Entre as medidas adotadas para essa evolução, Nuno chamou a atenção para a importância da implantação de um currículo exigente, avaliações frequentes, programas de combate ao insucesso e autonomia das escolas. “Procuramos trazer o conhecimento para a base da escola. Consideramos a avaliação como um incentivo e que todos podem atingir um nível razoável. A liberdade de processos caminha aliada à avaliação de resultados e a possibilidade de alternativas fazem todos progredir.”
Formação de professores no Chile
O papel e a técnica da formação de professores foram temas da participação de Paula Louzano, da Universidad Diego Portales (Chile). A docência, observou Paula, ainda não se configura como um campo profissional. “Ainda há a visão do educador como ‘missionário’. É necessário transformar a docência em profissão por meio de uma formação rigorosa e longa, com autorregulação de condutas, autonomia para tomar decisões fundadas e compromisso com o seu desenvolvimento.”
Foi explicado o modelo de escola de desenvolvimento profissional para a formação de professores implantado na UDP. “Os futuros professores passam por um maior tempo de formação na escola para que sua experiência se assemelhe o quanto possível a um professor em serviço.” Os estudantes, desde o primeiro semestre, realizam atividades nas escolas, iniciando com 2 a 4 horas semanais e progredindo para 3 dias por semana no último semestre.
Paula também ressaltou a nova lei de carreira docente implementada em 2016 no Chile, que estabelece um aumento da regulação dos programas de formação de professores, novos requisitos de ingresso na Graduação, avaliações diagnósticas e melhores condições salariais e de condições de trabalho.
Alta proficiência do Espírito Santo no SAEB
O Secretário Executivo de Educação do Estado de São Paulo, Haroldo Rocha, compartilhou a sua experiência à frente da Secretaria de Educação do Estado do Espírito Santo, período em que o estado alcançou os primeiros lugares em proficiência no Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB) nas áreas de língua portuguesa e matemática. “Entre as medidas que colaboraram para esses resultados, ressalto um acordo com a Fundação Roberto Marinho para aprimorar a formação de todos os professores de Fundamental II e Ensino Médio em Matemática e a mobilização pública para a participação na Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP).”
Entre os principais desafios a serem enfrentados em São Paulo, Haroldo indicou a necessidade de formação de professores do século 21 e redução do índice de absenteísmo desses profissionais.
Ensino ambicioso em escala
O conceito de ensino ambicioso foi destaque na abordagem de Lynsey Gibbons, da Boston University. Ele falou sobre o que é necessário para promover o ensino ambicioso de matemática em escala e sobre o apoio ao aprendizado dos professores. De acordo com Lynsey, “quando os professores ensinam de maneira ambiciosa, atribuem significado a tarefas e dão aos alunos acesso a conteúdos que os fazem pensar enquanto se envolvem em resolução de problemas, ao mesmo tempo em que os responsabilizam por objetivos de aprendizagem que incluem competências estratégicas e raciocínio adaptativo”.
O apoio ao ensino ambicioso de Matemática em escala foi exemplificado com dois projetos: o MIST, desenvolvido na Vanderbilt University com o objetivo de gerar conhecimento sobre o que é necessário para melhorar o ensino e a aprendizagem de matemática em grandes centros urbanos; e o Hilltop Elementary Research Practice Partnership: Reorganizing Mathematics, Teaching and Learning, realizado pela Universidade de Washington, que busca apoiar diretores de escola a organizar tempo e espaço para a formação contínua de professores e a reorganizar o método de ensino de matemática para crianças entre 5 e 10 anos. Lynsey também abordou aspectos sobre o apoio ao aprendizado aos professores, como os facilitadores, representados por atores como o especialista distrital em matemática e educadores de universidades parceiras.
Avaliação do Conhecimento Matemático dos Professores
O processo de construção da avaliação do conhecimento matemático de professores foi abordado por Tadeu da Ponte, coordenador do processo seletivo do Insper e professor do Centro de Educação. Aplicada pela primeira vez para 257 professores de Ensino Médio participantes do Programa de Qualificação do Ensino de Matemática no Estado do Ceará em junho deste ano, a avaliação foi construída pelo Insper em parceria com a Universidade Federal do Ceará a partir da necessidade de definir como mensurar o conhecimento matemático-pedagógico dos professores e como contribuir para mudanças efetivas em sala de aula.
“Partimos dos conceitos de conhecimento comum do conteúdo, do conteúdo nas fronteiras da matemática e do conhecimento específico. Na abordagem pedagógica, usamos os conceitos de conhecimento da aprendizagem dos alunos, dos processos de ensino e do currículo”, explicou Tadeu. A avaliação contempla uma devolutiva para o professor participante, com referências ao resultado médio do programa e ao desempenho individual.
Programa Cientista-Chefe em Educação Básica
As características do Programa de Qualificação do Ensino de Matemática, inserido no Programa Cientista-Chefe em Educação Básica desenvolvido no estado do Ceará, foram apresentados por Jorge Lira, cientista-chefe da Universidade Federal do Ceará. “O Programa é uma Pós-graduação lato sensu com planejamento didático compartilhado, que propõe a identificação de pontos críticos no conhecimento pedagógico da matemática e estratégias para superá-los. A certificação é condicionada à aplicação do conteúdo no ambiente escolar, avaliada por tutores e equipe”, explicou Jorge. Os conteúdos específicos derivam de uma ampla análise de dados de desempenho escolar do Estado que, por metodologia de componente principal, identifica principais descritores que explicam problemas de aprendizagem dos alunos.
Entre os desdobramentos do projeto, Jorge citou a criação de ambientes de aprendizagem adaptativa em matemática, com a virtualização dos materiais e percursos pedagógicos, expansão das formações para outras áreas, iniciando por língua portuguesa e ciências naturais, participação no plano de gestão da Secretaria da Educação 2019-2022, a ampliação da iniciativa para outros estados do Nordeste e a reestruturação das licenciaturas no Ceará.