10/04/2015
O peso das demissões de início de ano no comércio, que foram superiores às do ano passado, foi captado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na Pnad Contínua Mensal. Ao acrescentar dados inéditos do mês de fevereiro, a pesquisa de base trimestral revelou nova tendência de aceleração do desemprego, coma taxa de desocupação no trimestre móvel encerrado em fevereiro em 7,4%, bem acima de igual período do ano passado, em 6,8%.
O avanço da desocupação reforça os sinais de perda de fôlego do mercado de trabalho, diante da atividade econômica enfraquecida. Ao todo, a população desocupada— conjunto de empregados no mercado formal e informal de trabalho — aumentou 11,7% de um ano para o outro, saindo de um montante de 6,623 milhões de pessoas entre dezembro de 2013 e janeiro de 2014 para 7,401 milhões no trimestre dez-fev/2015.
Já na comparação com set-nov/2014, houve expansão de 14,7% no número de trabalhadores desempregados, ou mais 950 mil pessoas. “A comparação com trimestres idênticos, sem efeito sazonal,mostra a aceleração da taxa de desocupação. Embora o aumento da taxa seja sazonal, visto que em janeiro e fevereiro acontece a dispensa de trabalhadores temporários, o que na verdade a pesquisa revela é que esse crescimento da desocupação está maior quando comparado a anos anteriores”, observa Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE.
Segundo o pesquisador,embora no trimestre tenha havido uma expansão de 0,4% na geração de postos de trabalho, esse crescimento foi inferior ao aumento da população desocupada. “Houve geração de postos de trabalho, mas, ao analisar a população desocupada, é possível verificar um crescimento superior, em torno de 11%”, acrescenta Azeredo. Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho mostram que, no primeiro bimestre do ano, o saldo de admissões e de demissões com carteira assinada no comércio ficou negativo em 128.
052. A atividade foi a que mais dispensou trabalhadores no período e, na comparação com o primeiro bimestre de 2014, o crescimento nas demissões chegou a 55%,ou 57.334 postos de trabalho fechados. “Janeiro e fevereiro são meses nos quais, naturalmente, há dispensas. Assim como dezembro, quando as empresas aproveitam o período anterior às férias coletivas para readequar seu quadro de funcionários.Por isso, já era esperado que haveria um forte aumento do desemprego no período. O que acontece de novo é que a taxa de desemprego está se acentuando um pouco mais e de forma mais elevada”, afirma a professora de Economia Regina Madalozzo, do Insper. Segundo o IBGE, a maior pressão no mercado de trabalho também foi provocada pelo aumento da população na força de trabalho — pessoas com 14 anos ou mais e em idade ativa. Houve um incremento de 1,6%, ou mais 1,596 milhão de pessoas, em busca de emprego, na comparação entre o trimestre móvel terminado em fevereiro de 2015 com o mesmo período de 2014. O montante passou de 98,110 milhões para 99,706 milhões. Apesar do menor número de vagas ofertadas e do aumento de desempregados, o rendimento médio real habitual da população ocupada aumentou. Isto é, a renda média que habitualmente as pessoas ocupadas recebem em todas as atividades, formais e informais,na semana de referência da pesquisa, subtraída do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), subiu 1,1%no trimestre, em comparação como ano anterior, passando de R$1.
798 para R$ 1.817. Já quando se olha para um período mais curto, o rendimento dos trabalhadores cresceu 1,3%. O valor foi dos R$ 1.793 no trimestre setnov/ 2014 para R$ 1.817, no trimestre móvel finalizado em fevereiro de 2015. Para Regina Madalozzo, por trás da manutenção do crescimento no rendimento médio habitual, pode estar escondido um aumento das demissões de profissionais menos qualificados e com salários mais baixos.
“Pelo segundo mês observamos aumento no rendimento. Embora não haja micro dados que nos revelem de onde vêm as maiores expansões de salário, a suspeita é que as empresas vêm demitindo, não repõem as vagas, e quem está ocupados e mantêm no emprego ganhando mais”, diz.
Segundo trimestre deve manter queda na contratação Se depender do ânimo dos empregadores, não será neste trimestre que o emprego retomará o ritmo de crescimento. Pesquisa realizada pelo ManpowerGroup indica que os empresários projetam um ritmo ainda lento de contratação para o período de abril a maio. Enquanto 18% esperam aumentar as contratações, 15%antecipam queda em seus quadros e 65% acreditam que vão manter suas equipes intactas. Com isso, a expectativa líquida de contratação é de 3%. Entretanto, com os dados ajustados sazonalmente, o índice da intenção de contratação cai para -1%. Segundo o CEO do ManpowerGroup Brasil, Riccardo Barberis, é a primeira vez que o país apresenta um índice negativo desde que o estudo se iniciou no Brasil, no 4º trimestre de 2009. “Os empregadores em geral preveem que este será um ano difícil, com baixo investimento e pequeno crescimento. Por isso, acreditam que o ritmo de contratação será decepcionante nos próximos meses”, explica o executivo. De acordo com a pesquisa, a expectativa de novas contratações está concentrada nas grandes empresas (acima de 250 funcionários) e nas micros (menos de 10 empregados), com projeção de alta de 12% e de 2%, respectivamente.
Já as pequenas (de 10 a 49 funcionários) e as médias empresas (de 50 a 249 funcionários) demonstraram pessimismo, com um índice de -8%em ambas. A pesquisa aponta que as mais fortes intenções de contratação estão no setor de Finanças, Seguro e Imobiliário, com uma expectativa líquida de geração de emprego de 16%. Também o setor de Agricultura/Pesca e Mineração deu sinais positivos, com índice de 9%. Os cortes estão previstos em Construção (-12%), Indústria (-9%) e Serviços (-2%). O executivo da ManpowerGroup explica que, historicamente, o setor de Serviços é o que tem o maior peso na economia, sempre com bons índices de intenção de contratação. “No entanto, para o 2º trimestre de 2015, o setor relatou a mais fraca expectativa de contratação — foi a primeira vez que serviços registrou marca negativa desde que o estudo se iniciou no Brasil”, diz.
A inflação crescente é um dos motivos que explicaria essa queda de expectativa. Afinal, preços em alta afetam setores como Serviços, pois reduzem a renda disponível para o consumo. “Além disso, com o enfraquecimento da economia, um menor número de projetos de infraestrutura é realizado, o que acaba afetando a confiança dos empregadores nos setores de construção e da indústria, obrigando-os a reduzir suas equipes”, acrescenta o executivo.
Por localidade, as cinco regiões devem registrar um ritmo fraco de contratações. As melhores perspectivas estão no Estado do Rio de Janeiro com, expectativa de 5%de novas contratações. Já a cidade de São Paulo e o Estado de Minas Gerais não devem mudar o quadro de funcionários. As regiões com os piores planos de contratação são a Grande São Paulo e o Estado do Paraná: ambos apresentaram projeção de queda de 2%na intenção de contratação neste trimestre. Na comparação mundial, o levantamento da Manpower Group indica que as oportunidades para quem procura emprego em todos os mercados de trabalho globais deverão permanecer em sua maioria positivas.
Empregadores de 40 dos 42 países e regiões pesquisados afirmaram que esperam aumentar seu volume de contratação entre os meses de abril e junho deste ano.
Fonte: Brasil Econômico – 10/04/2015