Apesar da crise que se arrasta nos mercados, os brasilienses não temem arriscar na hora de investir. Hoje, mais de 20 mil moradores da cidade têm, no total, R$ 1,78 bilhão em títulos, o que coloca o Distrito Federal na oitava posição do ranking nacional com maior participação na BM&Fbovespa.
A valorização do dólar frente ao real, o fantasma da inflação e as altas consecutivas na taxa básica de juros (Selic) tornaram a bolsa de valores um ambiente hostil. O brasiliense, entretanto, driblou a crise contínua e a base de investidores cresce a todo vapor. Nos últimos 12 meses, o número de pessoas que aplicaram no mercado de ações aumentou 10,2% – atualmente, são mais de 20 mil aplicadores no ramo que somam R$ 1,78 bilhão em títulos. Em números absolutos, o Distrito Federal ocupa a oitava posição no ranking das unidades da Federação com maior participação na BM&Fbovespa e o primeiro lugar per capita.
O professor de finanças do Instituto Insper Ricardo Humberto Rocha atribuiu o crescimento ao perfil do brasiliense. “O morador do DF tem a maior renda per capita do país e a maioria trabalha na administração pública. Além disso, são jovens, que têm grande propensão a riscos. No momento de crise, esse investidor não tem tanta preocupação e, pelo contrário, pode tirar proveito da adversidade, uma vez que as ações em queda criam um cenário favorável à compra”, explicou o especialista.
O presidente da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan), Júlio Miragaya, diz este é um novo nicho no Distrito Federal. “Acionistas de outras unidades da Federação são ambientados à bolsa, porque convivem com grandes empresas. Por isso, o brasiliense ainda é distante dessa realidade. A classe média começou a comprar ações há pouco tempo, e esse é um investimento que tende a crescer.”
A DX Investimentos é responsável por 15,28% do share de pessoas físicas que atuam no mercado de bolsa de ações no Distrito Federal. São 3,1 mil clientes. Para Felipe Chad, sócio-diretor da corretora, a soma de estabilidade no emprego, renda média alta e população bem informada permite o aumento de investidores na bolsa de valores. Felipe conta ainda que o brasiliense se destaca pela quantidade de informação sobre as aplicações e a situação do mercado.
Renda fixa
Embora os moradores de Brasília sejam receptivos a aplicarem o dinheiro no mercado de ações, Felipe comenta que o principal investimento ainda está na renda fixa, o que caracteriza um comportamento conservador. “Quando vão para a bolsa, os brasilienses ainda preferem as blue chips. Empresas mais consolidadas como Bradesco, Banco do Brasil, Vale e Petrobras.” Felipe afirma que as pessoas precisam descobrir o seu perfil de investidor para terem sucesso no mercado de ações. “O investidor tem que saber se quer uma aplicação que renda mais, que demore mais tempo ou que seja mais segura”, aconselha.
Eduardo Palandi, 31 anos, é servidor público e investe na bolsa de valores desde 2007. Segundo ele, a opção por aplicações de risco se deu justamente por ele estar em uma posição de estabilidade no emprego. “Com o salário garantido, me senti à vontade para apostar em um investimento mais arriscado”, analisa. Ele passou no concurso público em 2005 e mudou-se do interior de São Paulo para Brasília. Dois anos depois, ao analisar o preço dos imóveis na capital da República e os possíveis investimentos para o seu dinheiro, resolveu aplicar no mercado de ações. Para ele, o preço do metro quadrado o impossibilitou de investir no mercado imobiliário. “Não tinha como comprar imóvel, não tinha dinheiro acumulado para isso”, afirmou.
Como o perfil do investidor brasiliense, Eduardo conhecia o mercado de ações por meio de um tio. Depois, fez cursos para entender melhor o negócio, o que permitiu que, com o tempo, ele ousasse mais. “Comecei aplicando nos blues chips, empresas como a Petrobras e a Vale. Com o tempo, passei a investir em empresas menores de risco intermediário”, comenta. Para ele, o cenário atual – dólar alto, inflação e taxa de juros nas alturas – é uma boa oportunidade para compra de ações. Para se manter informado dos negócios, ele acompanha as ações de uma a duas vezes por dia. “Eu já tive a fase nerd de olhar o tempo todo. Agora, consigo relaxar. Só em épocas de operações de compra e venda é que fico mais atento.”
Fonte: Correio Brasiliense – 16/07/2013