07/04/2022
Alexandre Gonzales, professor do Insper, e Alvaro Ricardino, criador do Prêmio Transparência, apresentam erros curiosos que encontram nos relatórios das empresas
Tiago Cordeiro
Os balanços contábeis são uma ferramenta essencial para documentar, com exatidão, a situação patrimonial e financeira de um negócio. Eles permitem acessar, com agilidade e transparência, dados relevantes a respeito de bens, direitos e obrigações. Facilitam a gestão financeira da organização, já que permite visualizar a situação financeira de momento e também a necessidade de reduzir custos ou fazer novos investimentos.
Ainda assim, com muita frequência, os balanços são elaborados sem nenhum cuidado e, com isso, não retratam fielmente a situação patrimonial de uma empresa. “É muito comum que quem produz esse documento pense: ‘Sou obrigado a fazer, mas ninguém vai ler, então posso colocar qualquer coisa’”, afirma Alvaro Ricardino, professor licenciado do Departamento de Contabilidade da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e criador do Prêmio Transparência, que premia as melhores demonstrações contábeis publicadas a cada ano.
“Muitos contadores estão desatualizados em relação a mudanças de nomenclaturas que aconteceram há dez anos. E muitas empresas demoram para produzir os balanços e, quando o fazem, publicam vários documentos sobre diferentes exercícios, com as mesmas inconsistências”, reforça Alexandre Gonzales, doutor em Controladoria e Contabilidade pela Universidade de São Paulo (USP), mestre em Ciências Contábeis e Atuariais pela PUC-SP, contador pelo Mackenzie e também professor do Insper.
Com o objetivo de apontar os erros mais comuns que encontram nesses documentos, Ricadino e Gonzales criaram um canal no YouTube, o Balanços Macabros. Com bom humor, fazendo referências a filmes e livros populares, os vídeos têm títulos como “Eu não sei o que vocês fizeram no exercício passado” e apresentam casos reais, sem citar nomes das empresas. Os exemplos são encontrados na Central de Balanços do governo federal, assim como em publicações nos Diários Oficiais.
“Nem demora muito. Com cinco minutos olhando para os documentos, você já encontra alguma bobagem”, afirma Ricardino. Os erros são organizados segundo um “termômetro de atrocidades contábeis”, composto pelas categorias “horripilante”, “abominável”, “tenebroso”, “sinistro” ou “medonho”.
Durante uma live realizada pelo Insper no dia 31 de março, os dois professores listaram exemplos de casos. A mediação ficou a cargo de Camila Boscov, doutora e mestre em Contabilidade pela USP e professora do Insper desde 2012. Ela atuou na área de análises regulatórias da vice-presidência de finanças do Banco Real e hoje oferece consultorias contábeis para empresas. Ela e os alunos da graduação do Insper criaram no Instagram o @blogdecont, um blog de contabilidade no Instagram com conteúdo relevante e linguagem simples.
“Muitas vezes, aprendemos pelo erro. O que não fazer”, explica a professora Camila Boscov. “No caso, os vídeos abordam o que as empresas fazem de errado e explicam a forma correta de fazer.” Mas por que se erra tanto? “Uma mistura de dois fatores. Má qualificação de profissionais de contabilidade. Além disso, o tomador de decisão não enxerga a contabilidade como ferramenta de gestão”, diz a professora.
Conheça a seguir quatro exemplos de balanços macabros apresentados durante o webinar.
Em uma Sociedade Limitada, no exercício de 2019, o balanço apresentou uma nomenclatura defasada, com termos como “Exigível a longo Prazo”, que não é mais utilizado.
Neste caso, a Demonstração de Fluxo de Caixa não indica atividades de investimentos. Mas eles existem: foram escondidos numa aba errada, que lista os passivos não circulantes.
A soma do passivo está errada, com uma diferença de R$ 578 mil de adiantamento que não foi computado. Além disso, o valor do resultado do exercício aparece na área errada, Reservas de Lucros.
Uma S.A. de capital fechado registrou que o lucro do exercício, somado aos já existentes, foi menor do que a distribuição de dividendos. Ou seja: a empresa, aparentemente, distribuiu um lucro que não existe.
Os interessados pelo tema contam com a nova turma do Programa Avançado em Controladoria e Contabilidade, que tem início em 30 de abril. O curso tem carga horária de 360 horas e duração de 18 meses, com aulas aos finais de semana, além de workshops, atividades complementares, projetos aplicados e um trabalho final.
“O curso é voltado para profissionais que atuem ou tenham interesse de atuar na área de controladoria. Podem ou não ser contadores”, explica a professora Camila Boscov. “O objetivo é formar um profissional, da área de contabilidade, controladoria e finanças, que seja capaz de tomar decisões ou subsidiar o processo decisório, por meio da análise dos impactos econômicos de decisões de investimentos, financiamentos, escolhas de políticas contábeis e tributárias, nas instituições e unidades de negócios, integrando tais análises com ferramentas de governança, comunicação, gerenciamento de riscos e análise de dados.”
Para saber mais sobre o curso, clique aqui.