Os importadores de máquinas e equipamentos afirmam que estão sofrendo mais do que esperavam neste ano com a redução da atividade industrial no país. Pela primeira vez, a Associação Brasileira dos Importadores de Máquinas e Equipamentos Industriais (Abimei) contratou uma consultoria para levantar dados e avaliar tendências para o setor para mostrar ao mercado e ao governo. O resultado mostra uma queda de 2,3% nas importações de bens de capital, em geral, até abril, e de 14% no caso das máquinas para uso industrial, que correspondem por quase 30% do total.
Nos quatro primeiros meses de 2014, as importações de bens de capital no país somaram US$ 16,2 bilhões, US$ 400 milhões menos do que os USS 16,6 bilhões um ano antes, segundo os dados do estudo, obtido com exclusividade pelo Valor PRO, serviço de tempo real do Valor. No caso de maquinário para uso industrial, o valor caiu para US$ 4,7 bilhões, de US$ 5,4 bilhões nos quatro primeiros meses do ano passado.
Conduzido pelo economista e professor do Insper, Otto Nogami, o estudo mostra também uma tendência de continuidade de queda das importações de maquinário industrial no Brasil nos próximos meses. Também tem tendência de queda a importação de partes e peças para bens de capital para a indústria, de acessórios de maquinaria industrial e de ferramentas.
Para o presidente de Abimei, Ennio Crispino, a queda é reflexo de uma acentuada redução do nível de atividade industrial no país. “Eu diria que a alíquota de importação não é um problema. Ela é alta, mas não é o principal. O agravante é a baixa atividade da indústria”, diz. Cerca de dois terços do consumo brasileiro de máquinas e equipamentos é atendido pelas importações, e a tarifa é de 14% para a maioria dos itens. “O mercado não está bom. Nem para nós, importadores, nem para os fabricantes locais”, diz.
Crispino afirma que a falta de uma política industrial para o país tem deixado os empresários do setor de máquinas e equipamentos apreensivos com os rumos da economia brasileira. “Neste ano, em especial, com eventos como a Copa do Mundo e a eleição presidencial, os empresários têm se mostrado muito pouco animados em investir.” A resistência tem sido manifestada tanto na hora de investir em aumento de produção, como em melhora da produtividade, com a troca dos equipamentos obsoletos.
“De maneira geral, o mercado está em compasso de espera. Nem mesmo as medidas recentes anunciadas, como a prorrogação do PSI [Programa de Sustentação do Investimento ] e a desoneração da folha, têm sido suficientes para animar o mercado”, diz.
Na avaliação dele, porém, o cenário por enquanto não leva importadores a deixar o país. “Muitos dos importadores que atuam aqui já fizeram grandes investimentos expressivos em fábricas ou em suporte para pós-venda. O que fazem é deixar de investir”, afirma.
Um dos problemas mais graves da queda das importações, na visão de Crispino, é o risco de uma piora da competitividade do setor produtivo. “A indústria nacional não tem como competir em tecnologia e preços com o que é oferecido no exterior. Em muitos casos, a produção nacional não tem tecnologia e nem escala”, diz o presidente da Abimei.
Nogami concorda: “todo país que queira dar competitividade ao setor produtivo tem de ter o melhor em termos de tecnologia.” Ele defende que o ideal seria a criação de polos de pesquisa no desenvolvimento de novas tecnologias de produção no país. “Enquanto isso, ainda dependemos do exterior para renovar os parques, por exemplo”, afirma.
Fonte: Valor Econômico – SP – 07/07/2014