Os desafios dos novos integrantes da equipe econômica do governo Dilma Rousseff não serão triviais. Joaquim Levy, Nelson Barbosa e Alexandre Tombini terão que domar a inflação, tirar a economia do atoleiro, resgatar a confiança de empresários e investidores, reduzir o rombo das contas externas e colocar em ordem as contas públicas. Para dificultar ainda mais a missão do trio, a crescente ameaça de aumento do desemprego poderá atormentar o país no próximo ano.
O ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e vice-presidente do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), Marcos Lisboa, alerta que o país não cria vagas há pelo menos um ano. Ele ressalta que o temor do aumento da taxa de desocupação ganhou força após o Ministério do Trabalho e Emprego divulgar que em outubro o número de demissões foi maior do que o de contratações com carteira assinada.“Além disso, os brasileiros têm optado por não trabalhar. A população em idade economicamente ativa cresce, mas menos pessoas buscam um posto no mercado”, diz.
Lisboa ainda comenta que o ajuste fiscal dependerá muito mais de uma ação coordenada entre os ministérios do que de uma canetada do chefe da Fazenda. Ele menciona como uma das ações necessárias o corte de subsídios concedidos aos bancos oficiais que cresceram de maneira exponencial nos últimos anos. “Essa agenda também passa pelo Legislativo porque requer medidas legais e boa parte delas não está na alçada do ministro que comanda a economia”, afirma.
Para o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno, a equipe econômica terá de mudar radicalmente a política fiscal em meio a um cenário de baixo crescimento e inflação em alta. Ele avalia que o desafio será ainda maior porque essa mudança precisa preservar os ganhos sociais das últimas décadas. “O governo tentou ser o indutor do crescimento e não foi bem-sucedido. A casa precisa ser arrumada para que o setor privado desperte o espírito animal. Isso possibilitará um ajuste menos doloroso”, pondera.
Rostagno ainda destaca que o Banco Central terá a dura missão de trazer o índice que mede a carestia para o centro da meta mesmo com as expectativas de que o indicador permaneça acima do teto de tolerância, de 6,5%. Os analistas preveem que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) terminará o ano em 6,4% e registre o mesmo resultado em 2015.“O mercado não vê uma convergência da inflação para patamares abaixo de 6% sem que o arrocho não gere recessão”, projeta.
Crescimento
Na opinião do economista chefe do Banco J. Safra, Carlos Kawall, além dos desequilíbrios nas contas externas, o deficit nominal deve crescer 5 pontos percentuais e a dívida bruta pode fechar o ano em 62% do Produto Interno Bruto (PIB). Ele explica que o descontrole nos gastos públicos e o abandono do superavit primário aumenta as ameaças de rebaixamento do grau de investimento da economia brasileira. “A recuperação da política fiscal é viável nos próximos dois anos e isso sinaliza ao mercado que o país é confiável. Deixar de fazer esse ajuste terá uma implicação terrível para a economia”, alerta.
O professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) José Luis Oreiro comenta que a principal missão da nova equipe econômica será colocar o país nos trilhos do crescimento. Ele define como medíocre o desempenho do PIB no primeiro mandato de Dilma,mas acredita que seja possível mudar esse quadro. “Para que a expansão da economia varie entre 3,5% e 4% entre 2017 e 2018 será necessário fazer fortes ajustes e o primeiro deles é nas contas públicas”, aponta.
O mercado estima que o país crescerá apenas 0,21% em 2014 e somente 0,8% em 2015. Oreiro ainda defende que com uma política fiscal austera e um superavit que deve corresponder a 1,5% do PIB será possível levar o dólar para um patamar de R$ 3, mais favorável a indústria e a exportações. “Com essas medidas é possível desvalorizar o real sem gerar pressões inflacionárias e recolocar a economia no caminho do crescimento econômico”, diz.
Na avaliação da economista do Banco ABC Brasil Mariana Hauer, o cenário econômico ainda é incerto. Diante das indefinições, ela projeta crescimento do PIB de 0,3% este ano, e de 0,5%,em 2015.“Estamos considerando um ajuste fiscal moderado a partir do próximo ano, e uma taxa de juros básica em 12,%.”
Fonte: Correio Braziliense – 22/11/2014.