24/05/2023
Em reunião com lideranças da escola, do Gife e da Fundação Lemann, Amélie de Montchalin falou sobre novas formas de financiar o desenvolvimento sustentável
O Gife (associação de investidores sociais privados do Brasil), a Fundação Lemann e o Insper realizaram, no dia 11 de maio, um encontro fechado entre lideranças de organizações da sociedade civil com a ex-ministra e atual representante da França na OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), embaixadora Amélie de Montchalin. O encontro foi realizado no Insper, com a presença de cerca de 20 pessoas, entre representantes das três organizações e da embaixada francesa no Brasil.
Amélie de Montchalin é formada em história na Universidade Sorbonne e em economia aplicada na Universidade Dauphine, ambas em Paris. Fez o mestrado em administração pública na Harvard Kennedy School. É considerada uma das figuras proeminentes da nova geração de políticos franceses e tem desempenhado um papel ativo na defesa das políticas europeias e na promoção da cooperação internacional. Amélie fala português fluentemente — morou durante a adolescência em Campinas (SP), onde seu pai trabalhava em uma multinacional francesa.
Antes de entrar para a política, Amélie trabalhou em instituições financeiras como o Banco Central Europeu e o Banco de Investimento Europeu. Foi eleita deputada nas eleições legislativas de 2017, pelo partido En Marche (rebatizado no ano passado como Renascimento), liderado pelo presidente Emmanuel Macron. Ocupou os cargos de ministra de Transformação e Serviço Público e, posteriormente, de ministra de Transição Ecológica. Após seu mandato, em 2022, foi nomeada embaixadora e representante permanente da França na OCDE.
Segundo André Luiz Marques, coordenador executivo do Centro de Gestão e Políticas Públicas (CGPP) e que esteve presente na reunião, o presidente do Insper, Marcelo Knobel, deu as boas-vindas aos convidados e depois se seguiu uma roda de conversa com o tema “Novas formas de financiar o desenvolvimento sustentável: qual o papel da filantropia?”.
“Amélie fez uma exposição sobre sua visão de futuro da OCDE e as prioridades do bloco quanto a negociações internacionais, com particular enfoque no financiamento para o desenvolvimento e também para questões climáticas”, diz Marques. “Além disso, ela detalhou o encontro que está sendo organizado para ocorrer em meados deste ano com o objetivo de debater as formas de financiamento para combate a desigualdades e questões climáticas ao redor do globo. Esse encontro contará com líderes de diversos países, bem como de instituições do terceiro setor.”
A Cúpula de Paris, prevista para acontecer nos dias 22 e 23 de junho, foi proposta pelo presidente Macron, no final do ano passado. O objetivo declarado é construir um novo contrato entre os países do Norte e do Sul para lidar com as mudanças climáticas e a crise global. A expectativa é que o encontro discuta soluções para questões de financiamento que vão além do problema climático, incluindo o acesso à saúde e o combate à pobreza. Em sua visita ao Brasil, Amélie de Montchalin se encontrou com autoridades do governo para convidar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para participar da cúpula em Paris.
Segundo o relato de Cassio França, secretário-geral do Gife, também presente no encontro com a embaixadora Amélie, a representante da França na OCDE declarou o interesse do presidente Macron de rever os mecanismo de financiamento multilateral para o desenvolvimento, para equilibrar as necessidades no Norte e Sul global. O principal objetivo seria fazer com que os eixos de desenvolvimento social, mudanças climáticas e preservação da biodiversidade sejam vistos de forma concomitante e como complementares.
De acordo com Cassio França, o debate entre os participantes da reunião no Insper focou no papel que organizações da sociedade civil e a filantropia podem desempenhar em fóruns internacionais nos temas estratégicos da agenda pública, como a mudança climática e o financiamento para o desenvolvimento. “Entre os outros destaques sobre o alcance que o investimento social privado pode ter, Amélie de Montchalin afirmou que a filantropia é a quinta força de financiamento para o desenvolvimento dos países do Sul global. Também foi declarado que repensar os mecanismos de financiamento é um processo-chave para viabilizar ferramentas de desenvolvimento mais equânimes e sustentáveis, mas que esse tipo de iniciativa deve estar comprometido com a descolonização dos saberes e dos processos de tomada de decisão”, diz França.
Segundo o secretário-geral do Gife, “o encontro que aconteceu no Insper se soma ao conjunto de oportunidades formativas e de networking sobre as possibilidades de ampliação das capacidades de atuação da filantropia e da sociedade civil no contexto do protagonismo internacional do Brasil, especialmente tendo em vista que o país vai assumir a presidência do G20 [a partir de 1º de dezembro de 2023] e pleiteia fazer parte da OCDE e sediar a COP30 [a conferência do clima que acontecerá em 2025]”.