Em 2013, 36,6% das pessoas que quitaram suas dívidas no ano anterior voltaram a ser inadimplentes, de acordo com dado divulgado ontem pela Serasa Experian. A reincidência, que atingiu o índice de 38,9% em 2012 e 39,4% em 2011, ainda é alta, embora tenha caído por três anos consecutivos.
Segundo Luiz Ribas, economista da Serasa Experian, este patamar é muito elevado quando se pensa a conjuntura econômica do País. “Não é pelo cenário macroeconômico que este número ainda permanece alto. Neste período, houve aumento real dos salários e os índices de empregos estão muito bons. A questão, portanto, é muito mais estrutural e de comportamento”, observou.
Ricardo Rocha, professor do Insper, acredita que a tendência a curto prazo não é animadora para aqueles que acumularam dívidas no ano passado. “Pensando no típico brasileiro, que está em débito com o cheque especial e o cartão de crédito, a expectativa não é de melhora. A inflacão ainda cresce em um ritmo alto e não vejo perspectivas para melhora das taxas de juros. Tudo isso impacta o cidadão e implica em inadimplência”, afirmou Rocha.
No âmbito de dívidas, a situação do País ainda é preocupante, lembra Rocha. Aproximadamente 40% da renda do brasileiro está comprometida, segundo o Banco Central (BC). “Este número é muito acima do saudável”, disse.
Em 2013 houve 5,9 milhões de novos inadimplentes, saldo que ultrapassa o número de habitantes da Dinamarca, cuja população é de 5,5milhões, ou da Finlândia, onde vivem cerca de 5,3 milhões de pessoas.
A inadimplência representa aproximadamente 63% dos empréstimos no Brasil, índice superior ao de outros países como a Colômbia (5,8%), México (53%) ou Canadá (1,8%).
Neste cenário, Ribas atenta para os credores, que, segundo ele, também contribuem para agravar a situação. A concessão desenfreada de crédito, sem considerar previamente os financiamentos e empréstimos que já possuem o cliente, é fator determinante e que provoca ainda mais inadimplência. De acordo com dados da Serasa Experian, dos 36,6% que voltaram a ficar devedores no ano passado, 27,1% tinham mais de cinco dívidas.
Neste sentido, o economista aposta em instrumentos como o Cadastro Positivo. Que permite os agentes de crédito visualizarem as atuais concessões de crédito no nome do cliente.” É uma ferramenta é importante para o credor, para que ele não empreste dinheiro a quem não tem condições de arcar com a dívida depois por causa de empréstimos simultâneos”, considerou o economista da Serasa, Luiz Ribas.
Educação Financeira
A Serasa Experian, que já tem projetos na área de educação financeira, como o Sonhos Reais, lançou ontem um guia de consulta online que reúne informações sobre o que é a inadimplência (calote), como se prevenir e evitar fraudes e outras armadilhas que levam à reincidência.
Além disso, o site na intemet inclui testes para saber se o consumidor é ou não um comprador compulsivo e qual é o seu nível de educação financeira. Segundo a Serasa, é um manual que pretende, entre outras coisas, ensinar os cidadãos a solicitarem empréstimos e negociar suas dívidas.
“Neste guia existe parte destas orientações do programa presencial, além de panilhas de planejamento financeiro que podem auxiliar no controle dos gastos. Mas a mudança comportamental é sempre a mais difícil”, disse Ribas.
Ele diz que a melhora dos índices de inadimplência beneficia a todos. “É importante essa orientação financeira, porque no final, quem paga pelos prejuízos que as empresas sofrem pela inadimplência é quem paga em dia, pois os bancos aumentam suas taxas para compensar estas perdas”, concluiu o economista.
Fonte: DCI – SP – 13/03/2014