O saldo de crédito de recursos livres concedidos a empresas, embora tenha obtido um suave acréscimo de 0,4% em fevereiro, caiu em aproximadamente R$ 18 bilhões, quando comparado com dezembro do ano passado.Os dados são do relatório mensal de Política Monetária e Operações de Crédito, divulgado ontem pelo Banco Central (BC).
Em fevereiro, R$ 745,3 bilhões foram destinados a pessoas jurídicas por meio de recursos livres, frente a R$ 763,2 em dezembro de 2013. Em direção contrária, os recursos direcionados cresceram de R$ 700,9 bilhões em dezembro para 716,6 bilhões no mês passado.
O professor Ricardo Rocha, do Insper, avalia que a queda dos recursos livres está relacionada à questão de demanda. “Os direcionados tem uma série de elegibilidades, enquanto os recursos livres são cedidos a quem procura. Houve aqui queda da demanda”, afirmou o professor.
Rocha destaca o avanço do ACC (Adiantamento sobre Contrato do Câmbio), que consiste em um adiantamento de recursos de moeda nacional referente a valores a serem exportados. Em fevereiro, houve crescimento de 41,7% neste tipo de transação, envolvendo R$ 8,2 bilhões no mês passado contra R$ 5,7 bilhões em janeiro. No ano, o crescimento representa 25,9%.
“O aumento do ACC pode estar ligado ao setor agrícola, como também pode ser um indício de que algum outro segmento está com dificuldade de vender aqui no Brasil e está buscando mercado no exterior”, disse o professor.
No âmbito geral, o crédito atingiu a cifra de R$ 2,733 trilhões em fevereiro. A marca representa um crescimento de 0,6% quando comparado ao mês anterior. No acumulado de 12 meses, os empréstimos avançaram em 14,7%. A relação entre crédito e PIB se manteve com a taxa permanecendo em 55,8%.
No aspecto geral, os financiamentos concedidos às empresas cresceram em 4,6%. Em fevereiro, R$ 141,4 bilhões foram destinados às pessoas jurídicas. Já o saldo para pessoas físicas retraiu 0,7%, somando R$ 154,5 bilhões.
Em nota, o BC atribuiu o resultado ao reflexo da “retomada sazonal da demanda de crédito livre pelas empresas e a continuidade do crescimento do crédito imobiliário”. Para Ricardo Rocha, além dos efeitos das dívidas e contas típicas desta época do ano, soma-se a isso o esgotamento do modelo de desenvolvimento baseada consumo.
A queda nos financiamentos de veículos, por exemplo, pode se rum indicativo. Os empréstimos voltados para o setor teve queda de 0,6% para pessoas físicas. Para empresas, o número manteve-se praticamente inalterado, com variação positiva de apenas 0,1%.
“Há também o comprometimento da renda pelos efeitos da inflação. Aqui fica claro que o modelo de consumo não se sustenta isoladamente para o desenvolvimento de uma economia robusta”, afirmou Rocha.
Cartões
O saldo dos cartões de crédito somou R$ 139,4 bilhões em fevereiro, apresentando uma retração de 3,1% na comparação mensal com o mês de janeiro. Contudo, quando comparado com fevereiro de 201, o índice apresenta um avanço de 14,2%. Em nota, a Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs) afirmou que o recuo mensal deu-se “em função do efeito sazonal e da menor quantidade de dias úteis em fevereiro”.
Atualmente, as operações sem juros representam 72,1% da utilização do cartão de crédito. Já o índice de inadimplência para o setor caiu para 6,3%. Em fevereiro de 2013, este índice chegou a 7,7%. Segundo Ricardo Vieira, diretor-executivo da Abecs “estes números demonstram que o brasileiro vem utilizando o cartão de crédito de forma inteligente; cada vez mais como um meio de compra e não de financiamento”.
Fonte: DCI – SP – 27/03/2014