Apesar de indicadores de expectativa terem avançado em julho, especialistas analisam com cautela um cenário de recuperação da atividade econômica do País. Ontem, o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Gertulio Vargas (Ibre/FGV) e o The Conference Board divulgaram O Indicador Antecedente Composto da Economia (Iace) para o Brasil, que tem o intuito de apontar as tendências econômicas para os próximos meses.
Após registrar recuos sucessivos de 1,7% nos meses de junho e maio, o Iace avançou 0,8% em julho, atingindo a marca de 120,3 pontos. Já o Indicador Coincidente Composto da Economia (ICCE) do Brasil que mede as condições econômicas atuais, avançou 0,6% no mesmo mês, registrando a marca de 127,6 pontos. O resultado também é posterior a retrações sucessivas de 0,5% nos meses de junho e maio. O economista do Ibre/FGV, Paulo Picchetti, comenta que os avanços, tanto no Iace quanto no ICCE, são notáveis, mas que, no entanto, “ainda é muito cedo para sugerir uma aceleração da atividade econômica”.
Ele afirma que se, por um lado, o resultado é animador, por outro, precisa ser ponderado por conta da fraca base de comparação, referindo-se ao efeito Copa do Mundo no segundo trimestre. “Uma recessão ainda não está no horizonte, mas, por outro lado, não pode ser descartada, principalmente à luz do desempenho do PIB [Produto Interno Bruto] no segundo trimestre ter sido fortemente negativo”, diz ele, referindo-se ao resultado do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), que fechou o segundo trimestre deste ano com queda de 1,20%.
“Vamos acompanhar os dois indicadores nos próximos meses para ver o que acontece com o ciclo econômico até o final de 2014”, complementa Picchetti. Ele explica o resultado de julho foi acompanhado pela desaceleração dos preços que, por sua vez, ajudou a melhorar as expectativas sobre o futuro da política monetária. “Os Índices de Expectativas do Consumidor e do Setor de Serviços também avançaram”. O professor de economia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Pedro Raffy Vartanian, avalia que o Iace de julho sugere uma recuperação gradual e lenta da economia. Ele também diz que a Copa foi efeito de desaceleração, como a queda da produção industrial, e que a atividade econômica começa a ser retomada nesse segundo semestre. “O último trimestre será relativamente bom em função das festas do final de ano”, diz Raffy. A expectativa dele, no entanto, é que o PIB de 2014 fique próximo de zero. Além disso, Vartanian afirma que a alta do Índice Bovespa (Ibovespa), nos últimos dias, deve ter influenciado o resultado do indicador de expectativa da FGV, já que é um de seus componentes. “Por conta disso, a recuperação da expectativa pode não ser tão precisa. A bolsa pode subir porque, de fato, as coisas estão melhorando ou por fatores especulativos. Então, é preciso analisar com cautela esse indicador”.
O professor de economia do Insper, Otto Nogami, também relaciona o resultado do IACE com a alta do Ibovespa e avalia que, na verdade, existe uma tendência de queda da atividade econômica, com baixas expectativas dos investidores.
Na sua projeção, o PIB deste ano deve fechar em 0,64%. “Diante da necessidade da economia dar uma freada por conta de ajustes, a projeção é que o ano que vem tenhamos um PIB aquém de 1%, podendo, inclusive ser negativo”, prevê Nogami. Já na avaliação do professor de Administração da Universidade Anhembi Morumbi, Marcello Gonella, não há expectativa de recessão para 2014. “Só é considerado cenário de recessão quando há queda de produção em dois trimestres consecutivos. O que está acontecendo hoje é uma desaceleração da atividade econômica, muito por conta da Copa e do período eleitoral”, diz Gonella. Ele diz que uma recessão em 2015, depende do choque de expectativas do próximo governo.
Fonte: DCI – 19/08/2014