26/05/2022
Livrarias e cinemas de rua — uma combinação perfeita — são espaços que devem ser valorizados, diz a professora Daniela Assofra
A literatura sempre foi uma grande fonte de inspiração para o cinema. Entre os incontáveis romances adaptados para a grande tela há desde clássicos como Romeu e Julieta (1591) e Os Três Mosqueteiros (1844) até obras mais populares como O Poderoso Chefão (1969) e Harry Potter (1997). Cinemas e livros, portanto, são uma combinação perfeita, e é essa a dica cultural de Daniela Assofra, professora da disciplina Ética, Computação e Sociedade no curso de Ciência da Computação do Insper.
“Cinema e livros formam uma dupla básica. No entanto, após o longo período de distanciamento e isolamento por causa da pandemia, minhas sugestões se voltam para as ruas”, diz Daniela, que tem graduação em Sociologia e Política pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo e é mestra em Estudos Culturais pela Universidade de São Paulo.
Uma de suas sugestões de programa cultural em São Paulo é conhecer as novas livrarias de rua que surgiram em plena pandemia, em meio à crise que levou as grandes redes a fecharem um grande número de lojas em shopping centers. “Recomendo uma visita à livraria Megafauna, que funciona no térreo do icônico Edifício Copan, e também à livraria Gato Sem Rabo, que surgiu perto do Minhocão em uma das tentativas de reavivar culturalmente a região”, diz Daniela.
A Megafauna foi aberta em novembro de 2020, sob a direção de um grupo de profissionais do meio editorial e literário. Sua proposta é se tornar um espaço de reflexão, curadoria e criação de conteúdo, promovendo lançamentos de livros acompanhados de leitura ou debate. O projeto arquitetônico da livraria optou pela instalação de amplas portas, para facilitar a circulação entre a rua e o interior do prédio de fachada curva, projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer e inaugurado em 1966.
Já a Gato Sem Rabo é uma livraria aberta em maio de 2021 em um pequeno prédio na Vila Buarque, também na região central da cidade, com uma peculiaridade: ela só vende livros escritos por mulheres ou que, de alguma forma, tenham relação com o universo feminino. São cerca de 1.700 títulos de 650 escritoras, publicados por quase 200 editoras. O nome da livraria foi inspirado em um ensaio da escritora inglesa Virginia Woolf (1882-1941) que mencionava um gato sem rabo, metáfora de algo que está faltando — a criadora da livraria, Johanna Stein, uma catarinense formada em artes visuais, julgava faltar no Brasil um espaço dedicado a livros exclusivamente escritos pelas mulheres ou sobre elas.
Além das livrarias de rua, Daniela Assofra sugere conhecer os cinemas de rua da cidade. Ela destaca o Cine Satyros Bijou, novo nome do cinema reinaugurado neste ano no dia 25 de janeiro, aniversário de São Paulo, depois de ficar 26 anos fechado. Localizado na Praça Roosevelt, no centro, o Bijou original foi aberto em 1962 e se tornou conhecido como um espaço de resistência cultural durante o regime militar. Exibia produções polêmicas ou tidas como “subversivas” pelo governo militar, além de “filmes de arte”, incluindo obras de diretores estrangeiros como Jean Luc Godard, Pier Paolo Pasolini e Ingmar Bergman. O Satyros Bijou leva esse nome porque foi reformado e reaberto por fundadores da companhia de teatro Satyros.
Embora poucos cinemas de rua tenham resistido ao avanço das grandes redes, que abriram suas salas privilegiando shopping centers, ainda é possível encontrar outros representantes fora da região central. Daniela cita o tradicional CineSesc, que funciona desde 1979 na rua Augusta, e o Cinesala da rua Fradique Coutinho. O CineSesc é conhecido por sua programação voltada aos títulos “cult” e também às mostras, com destaque para o Festival Sesc Melhores Filmes, criado em 1974.
Já o Cinesala está instalado em um espaço que funciona como cinema de rua desde 1962, mas recebeu o nome atual em 2014. Localizado próximo ao metrô Fradique Coutinho, o Cinesala oferece, além das tradicionais poltronas, alguns sofás mais confortáveis (por um preço ligeiramente maior).
Para Daniela, esses cinemas de rua são opções interessantes por exibir “filmes variados que fogem às regras das histórias de super-heróis”, comuns nas produções dos grandes estúdios de Hollywood. “Em síntese, minha sugestão é que as pessoas procurem caminhar, sair um pouco desses tempos mais reclusos da pandemia e busquem o fruir cultural da cidade com maior amplitude, valorizando os espaços culturais que não estão centrados na lógica de consumo”, diz Daniela.
SERVIÇO:
Livraria Megafauna – avenida Ipiranga, 200, loja 53, Edifício Copan. Terça a sábado, 10h às 21h, e domingo, 10h às 18h. WhatsApp: (11) 91015-0156.
Livraria Gato Sem Rabo – rua Amaral Gurgel, 338, Vila Buarque. Terça a domingo, 11h às 17h. Tel. (11) 99976-0011.
Cine Satyros Bijou – Pça. Roosevelt, 172, Consolação. Tel. (11) 3255-0994 e 3258-6345. (https://satyros.com.br/)
CineSesc – rua Augusta, 2.075, Cerqueira César. Tel. (11) 3082-0213. (www.sescsp.org.br/unidades/cinesesc/)
Cinesala – rua Fradique Coutinho, 361, Pinheiros. Tel. (11) 5096-0585. (www.cinesala.com.br)