Investidores correm em busca de papéis do governo corrigidos pela variação dos preços para garantir o patrimônio
Diante do cenário de juros em baixa e de um Banco Central mais tolerante com a inflação, os investidores têm aumentado as apostas em títulos públicos cuja rentabilidade está atrelada ao comportamento dos preços. De cada dez papéis do Tesouro Nacional ofertados em outubro, sete eram indexados ao Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e ao Índice Geral de Preços Mercado (IGP-M). A procura se explica ainda pela rentabilidade: alguns títulos têm apresentado valorização de mais de 40% no acumulado de 2012. Com tal desempenho, mais pessoas têm demonstrado interesse em aproveitar o bom momento. O problema, alertam os especialistas, é saber se não é tarde demais para entrar na festa.
A corrida por essas aplicações fez crescer o número de pessoas que detêm títulos do governo federal. Em outubro, esse contingente chegou a 321 mil. Para o Tesouro, são brasileiros cada vez mais preocupados com o futuro e que vão deixar o dinheiro investido entre cinco e dez anos. “Dos títulos de inflação vendidos, mais de 70% tinham vencimentos acima de cinco anos. Então, não acreditamos que as pessoas estão olhando para um ciclo tão curto, como o de 2013 ou de2014 (quando a inflação deve oscilar entre 5% e 6%)”, esclareceu Fernando Garrido, coordenador-geral de operações da dívida pública.
Na prática, quando o investidor compra um desses papéis, ele receberá a inflação acumulada até a data de vencimento do título mais juros. Na avaliação de especialistas, os títulos são indicados para momentos como o atual, em que a taxa básica (Selic) está no piso histórico, 7,25% ao ano, e os preços ao consumidor arrancaram, batendo em 5,45% no acumulado de 12 meses. “Se o processo inflacionário for controlado e o BC tiver sucesso em 2013, não está tão fim de festa assim”, explicou Ricardo Rocha, professor de finanças do Insper. “Agora, se a inflação não for controlada na faixa dos 4,5% e a taxa de juros vier a subir, a coisa muda de figura, o investidor pode até registrar perda”, ponderou.
Tradicionalmente, os fundos de pensão e de previdência privada são os que mais compram títulos de inflação. Eles utilizam esses papéis como proteção contra as perdas inflacionárias em longos períodos. Entretanto, como o cenário atual é de baixa rentabilidade em quase todas as aplicações, os pequenos poupadores também passaram a apostar nessas opções. De todas as aplicações em títulos de inflação feitas por pessoa física em outubro, 63% eram de valores inferiores a R$ 5 mil. “Esse papel é livre de risco de crédito, ou seja, não há dúvida de que ele será honrado. Porém, é preciso ficar atento ao comportamento da inflação e aos movimentos de juros, que vão determinar se o investidor vai ganhar ou perder”, explicou Jurandir Macedo, consultor do Instituto de Educação Financeira (IEF) e do Itaú Unibanco.
Segundo Macedo, para quem vai carregar o título até o vencimento – o mais longo vai até maio de 2035 -, não há qualquer risco de perda. Não serão pagos os 40% de alguns papéis, mas, na média, o retorno será positivo e acima da inflação. “Para quem está juntando dinheiropara a aposentadoria, por exemplo,é uma boa opção”, argumentou.
Ricardo Rocha diz que, para os que vão começar a juntar dinheiro, os títulos indexados à inflação devem ser considerado. “Não precisa colocar 100% dos seus recursos neles, principalmente se a pessoa usar os recursos em até quatro anos, mas é recomendável ter esse título na carteira”, disse. Há dois tipos de papéis disponíveis, a NTN-B, indexada ao Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA); e as NTN-Cs, ao Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M).
-Dívida caminha para R$ 2 trilhões
O endividamento do governo em poder do mercado, a chamada dívida pública mobiliária, atingiu R$ 1,943 trilhão em outubro, uma alta de 2,04% ante o já elevado patamar de setembro. O salto decorreu de uma série de emissões de títulos feitas pelo Tesouro Nacional, totalizando R$ 47,96 bilhões. Esse dinheiro foi usado para suprir as necessidades de caixa a União para custear a pesada máquina pública. Com a alta dos débitos no mês passado, a previsão é de que o passivo atinja a casa dos R$ 2 trilhões até o fim do ano, diante das emissões previstas para novembro e dezembro. Além de aumentar o endividamento, o governo também está pagando mais caro para se financiar com os investidores. Em outubro, o custo aumentou 0,39 ponto percentual, para 12,15% ao ano. Essa alta se deveu, sobretudo, à disparada da inflação que, em 12 meses, alcança 5,45%.
Fonte: Correio Braziliense – DF – 22/11/2012