30/04/2017
Fonte: Estado de S.Paulo – 30/4/2017
A facilidade para lidar com números é um atributo que abre as portas para diversas carreiras e profissões como estão engenharia, finanças, contabilidade, gestão tributária, tecnologia, entre outras.
“No caso dos engenheiros, por exemplo, a facilidade do pensamento analítico e sistêmico faz com que esses profissionais sejam procurados por instituições financeiras e consultorias estratégicas, para que utilizem tais habilidades na solução de problemas de diversos setores”, afirma o coordenador do curso de engenharia da computação do Insper, Fábio Miranda.
Segundo ele, nada impede que o engenheiro use suas competências para resolver o problema de posicionamento de um produto no mercado. “Claro que para desempenhar essa atividade ele necessita ser acompanhado por profissionais específicos dessas áreas.”
Miranda diz que um dos maiores atributos do engenheiro é conseguir aplicar o domínio dos números a uma variedade de problemas de acordo com a sua engenharia específica. “O engenheiro de computação, por exemplo, atua em duas frentes”, afirma.
Uma dessas frentes envolve saber usar a matemática para compreender problemas de processos ou de sistemas que existem nas empresas. “Outra frente está relacionada à invenção de máquinas que pensam por nós. Eles inventam máquinas que executam programas que ampliam a nossa capacidade de raciocínio”, diz.
Por esse motivo, o coordenador afirma que a engenharia da computação é uma grande parceira no ganho de produtividade, por criar programas que realizam funções que antes eram consideradas intelectuais.
“Grande parte dos profissionais terá de se reposicionar no mercado, porque os sistemas estão automatizando tudo o que é possível, fazendo com que os técnicos se desloquem para funções mais estratégicas ou de consultoria”, diz.
Um exemplo que ilustra a afirmação de Miranda é a mudança na rotina de trabalho do gerente da Grandt Thornton – empresa que presta serviços de contabilidade –, Rafael Flora. Formado em administração, contabilidade e cursando economia, o jovem de 29 anos que sempre adorou matemática, afirma que a tecnologia é uma grande aliada.
Mudança. “Estamos deixando de ser fazedores para desenvolvermos um trabalho de análise. Hoje, o contador é muito mais um consultor. Quando falam que a tecnologia está tirando o emprego das pessoas eu discordo. Ela está aprimorando o trabalho. Ocorre que, infelizmente, nem todos têm vontade ou oportunidade para se aprimorar. Quem faz trabalho de valor agregado extremamente baixo perderá o emprego em todos os segmentos”, avalia.
No entanto, encontrar esse tipo de profissional não está fácil. Na pesquisa Escassez de Talentos 2016/2017, realizada pela Manpower Group, a dificuldade para ocupar posições de contabilistas, contadores e analistas financeiros aparece em sétimo lugar no ranking das dez profissões mais escassas no mercado brasileiro.
“Quando selecionamos esse tipo de profissional buscamos, além das competências técnicas, alguém que seja um consultor no negócio. Ele não pode estar limitado só à área técnica, o profissional tem de ser bom conhecedor do negócio para apoiar as áreas de venda e operacional na geração de valor para a empresa”, diz a diretora da Manpower Group, Márcia Almström.
De acordo com a executiva, no cenário atual, as vendas estão mais difíceis e as empresas atingem seus resultados gerenciando melhor os custos. “A gestão de custos e formação de preço, a inteligência que está por trás de uma ação comercial, de um olhar de negócio, envolve a questão de construção e análise de números. O profissional contábil e financeiro precisa entender do negócio para ocupar o papel consultivo.”
No mesmo estudo, ressalta Márcia, a área de tecnologia da informação aparece em décimo lugar em termos de escassez de mão de obra para funções como desenvolvedores, programadores e administradores de banco de dados. “Já tivemos ano em que a área de TI no Brasil ficou em segundo lugar como o cargo de maior escassez. Agora, o maior desafio da área está na Europa, com a quinta posição.”
Custos. A diretora prevê que TI é uma área que vai continuar contratando por muito tempo, porque a tecnologia oferece solução para reduzir custos e equilibrar os desafios do mercado.
A dificuldade para preencher posições de engenheiro aparece em nona posição no ranking. Mas os desafios para esses profissionais, segundo a diretora, é menor do que o enfrentado por profissionais da área financeira.
“O grande ativo do engenheiro é esse treino mental de forma estruturada, ele trabalha bem com processos e consegue ver causa e efeito claramente. Por isso, para o engenheiro o desafio é menor comparativamente à área financeira. Brincamos que o pessoal de finanças só entende de Excel e o mundo hoje é do PowerPoint.”
Segundo Miranda, hoje, a principal característica exigida do engenheiro da computação é ter empatia com o usuário e entender o que ele precisa para que, dessa forma, desenvolva o sistema da melhor forma possível.
“Ele também ser proativo e ter visão sistêmica. Claro que também precisa ter competência técnica. Aquele engenheiro fechado em seu nicho, que só desenha a parte técnica, ainda tem a sua utilidade, mas não consegue ter uma posição tão boa no mercado.”
Diretor das divisões financeira, tributária e jurídica da recrutadora Talenses, Alexandre Benedetti diz que por conta do atual cenário econômico desafiador, o executivo financeiro assumiu papel fundamental nas organizações, que buscam otimização da rentabilidade dos negócios.
“Nesse sentido, todas as profissões ligadas direta ou indiretamente às análises de KPIs (key performance indicator, ou indicadores-chave de performance) exigem que o profissional tenha facilidade para lidar com números. Ainda mais quando as empresas buscam intensamente previsões de cenários”, diz.
Segundo ele, para suprir essa necessidade o mercado procura profissionais para áreas como diretoria financeira e Big Data/ Analytics. “Essas funções podem ser ocupadas por pessoas com formação em matemática, física e estatística, por exemplo, além de cientistas de dados, uma das profissões mais promissoras do futuro.”
Benedetti ressalta que para atuar nessas áreas é preciso ter a capacidade analítica de manipular dados. “Eles têm de saber transformar elementos desestruturados em informação, seja para prever cenários, embasar a tomada de decisão, prever comportamentos etc. A usabilidade é muito ampla.”
Conforme o diretor, o grande problema é que a academia ainda não forma profissionais especialistas nas diversas funções que o mercado necessita. “Por exemplo, ao concluir a graduação, físicos e matemáticos não têm esse olhar para o meio corporativo e nem especialização para exercer essas atividades.”
A diretora do ManpowerGroup, Márcia Almström, afirma que esse tipo de problema ocorre porque vivemos um momento de mudança na forma como as profissões são exercidas.
Segundo ela, 45% das atividades desenvolvidas hoje serão automatizadas e no futuro próximo (dois anos), serão valorizadas competências que hoje ainda não são.
“Essa transformação vem ocorrendo há algum tempo. Mas a diferença agora, apontada por nosso estudo A Revolução das Competências, é que o ciclo de vida das competências é mais curto do que nunca e a mudança acontece em uma velocidade sem precedente. Por isso, a capacidade de aprendizagem do indivíduo será o grande diferencial para a empregabilidade. O que a pessoa sabe hoje pode ser descartável ou renovado muito rapidamente com o impacto da tecnologia.”
Márcia afirma que cada vez mais as competências comportamentais serão valorizadas. “Porém, existe realmente uma lacuna nas formações da área de exatas, bem neste aspecto”, diz ele, referindo-se às necessidades do mercado.
Para ela, esse é um ponto de atenção e também de oportunidade. “Com certeza, os profissionais deveriam olhar para esse tipo de desenvolvimento, porque existe essa expectativa por parte das empresas, atrelada às funções que irão exercer. Eles devem complementar a formação por meio de MBA ou especialização, para aprimorar as competências comportamentais.”
Outra informação que ela destaca apontada pelo estudo é de que 65% das carreiras que os jovens da geração Z irão ocupar, ainda não são conhecidas.
“A tecnologia automatiza tudo o que é transacional e rotineiro na esfera operacional. O que vai sobrar para o ser humano é tudo o que o robô não faz, ou seja, a área da inteligência emocional, da criatividade e da flexibilidade cognitiva, que é a nossa capacidade de questionamento. Para identificar novos postos de trabalho, teremos de enxergar onde o ser humano fará diferença”, afirma.
Segundo o coordenador do curso de engenharia da computação do Insper, Fábio Miranda, no curto prazo, a automatização da criatividade não é uma preocupação.
Fábio Miranda – A facilidade para lidar com números é um atributo que abre as portas para diversas carreiras e profissões como estão engenharia, finanças, contabilidade, gestão tributária, tecnologia, entre outras.