10/10/2012
01/09/2012 – Pequenas Empresas & Grandes Negócios
Daniela Bouissou sempre sonhou em ser médica. Ao longo de seis anos, varou noites estudando disciplinas como Anatomia, Biologia e Farmácia na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Ela j á era uma ginecologista experiente quando, a convite do cunhado administrador, viajou para conhecer a célebre Universidade de Stanford, na Califórnia, nos Estados Unidos. A experiência foi marcante. Daniela saiu encantada com a possibilidade de estudar em uma das melhores escolas de administração do mundo e adquirir conhecimento naquela que, para ela, era a área mais crítica da saúde pública: a gestão. “Estava cansada de ver tantos problemas e não poder fazer nada.” Anos mais tarde, foi aceita no MBA de Stanford e voltou para casa com um diploma de gestão de negócios. Hoje, dona do portal g02Doc, voltado para a marcação de consultas online, ela sabe que sua formação em medicina, contudo, só ajuda na sua carreira empreendedora: “É o meu grande diferencial. Eu entendo os reais problemas dos clientes”, diz.
A história de Daniela ilustra bem um movimento que vem ganhando força entre os brasileiros: a carreira empreendedora. Muitos profissionais, das mais diversas áreas, sentem o desejo de empreender depois de atuar algum tempo no mercado, mas não querem deixar para trás o conhecimento adquirido durante duros anos na escola e também na empresa onde estiveram empregados. Na opinião do professor da Fundação Dom Cabral Fernando Dolabella, estudioso do tema e autor do livro O Segredo de Luísa, pessoas como Daniela têm mais chance de ser bem-sucedidas por conhecer profundamente o mercado onde estão atuando: “O empreendedor de sucesso sabe todas as variedades e práticas da área em que pretende mergulhar. Ele entende quais são os clientes, o perfil desses clientes e o problema que essas pessoas têm”.
O caminho que se apresenta para quem pretende seguir uma carreira empreendedora, no entanto, costuma ser permeado por dúvidas. Será que eu levo jeito para os negócios? Será que consigo ser líder? E as contas? Até há pouco tempo, quem ti-nha o desejo de abrir o seu próprio negócio e queria estudar acabava quase sempre em um curso de Administração de Empresas. Como a maioria empreendia por necessidade, e não por oportunidade – essa proporção se inverteu a partir de 2003 – ,ser empresário não trazia status imediato. Empreendedor era, para muitos, o “engenheiro que virou suco” – caso que virou símbolo da crise no mercado de trabalho nos anos 80. As profissões mais admiradas pela sociedade eram as convencionais engenharia, medicina e direito. Ter um diploma nessas áreas ou prestar concurso para um emprego público parecia muito mais promissor.
Hoje, não mais. Em um Brasil mais estável e com fartura de oportunidades, assumir o risco – e a satisfação – de empreender tem surgido como uma opção atraente e desejada tanto para quem já tem um tempo de estrada como para aqueles que estão iniciando os estudos de nível superior. Pesquisa recente conduzida pela Endeavor – a maior ONG de apoio ao empreendedorismo no mundo mostrou que a maioria dos estudantes universitários brasileiros (52%) considera uma boa ideia abrir seu próprio negócio. O estudo, de alcance global, revelou ainda que velhos estereótipos estão caindo por terra: 56% dos pais desses estudantes consideram positiva a ideia de os seus filhos serem empresários. São descobertas em linha com os dados colhidos pelo projeto Sonho Brasileiro, conduzido pela empresa de tendências Box 1824. Nele, o percentual de jovens de 18 a 24 anos de todo o país que apontam o empreendedorismo como sua profissão favorita (4%) é maior que todas as outras incluídas aí a engenharia, a medicina e o direito (2%), além de vencer disparado quando comparado a carreiras como as de funcionário público, músico, psicólogo ou jogador de futebol (todos com 1% das preferências). “A geração Y prefere empreender porque tem mais necessidade de inovar e ser independente, duas características típicas do empreendedor”, afirma Marcelo Nakagawa, coordenador do Centro de Empreendedorismo do Insper. “Além disso, esses jovens lidam melhor com o risco.” Para o diretor de educação da Endeavor, Juliano Seabra, o empreendedorismo não deve ser visto como algo restrito à área de negócios. “Empreender é uma capacidade de qualquer pessoa, de qualquer área, de qualquer carreira. Por isso, deveria fazer parte da formação de todas as pessoas”, diz ele. Atualmente, 50% dos empreendedores de alto crescimento em economias emergentes, come o Brasil, têm no mínimo ensino superior. Entre a população em geral de países emergentes, apenas 29% dos habitantes concluem o ensino superior.
O problema, no entanto, é que o empreendedorismo ainda não foi incorporado à grade curricular das universidades brasileiras. A mesma pesquisa aponta que apenas 31% dos estudantes que pretendem abrir sua empresa no futuro estão se preparando -lendo livros sobre o tema, por exemplo. “Ainda somos educados para sermos empregados”, afirma Afonso Cozzi, coordenador de empreendedorismo no Núcleo de inovação da Fundação Dom Cabral. Para Gilberto Sarfati, professor do Centro de Empreendedorismo e Novos Negócios da Fundação Getulio Vargas (FGV), despertar o empreendedorismo como opção de carreira é tarefa da universidade. “Percebemos que a maioria dos alunos entra na faculdade sem ter esse horizonte. Mas isso muda com o tempo”, diz. Em 2008, depois de constatar que 25% dos recém-formados tentavam abrir empresas, a escola implementou a disciplina Vivência Empreendedora nos cursos de Administração.
Basicamente, na opinião dos especialistas, existem dois tipos de conhecimento importantes para candidatos a empreendedor que não estão em um ambiente de negócios: o primeiro é aprender a planejar; o segundo, aprender a vender. A boa notícia é que esses aprendizados podem ser supridos por cursos de curta duração. Na opinião de Nakagawa, mais do que aprender a gerir uma empresa, estar na escola propicia uma rica oportunidade de aprender e se inspirar com os colegas: “Você vai conhecer pessoas com os mesmos medos e os mesmos sonhos”.
Nas próximas páginas, você vai encontrar uma seleção de cursos desenhados para atender às necessidades de quem quer fazer essa passagem com estratégia e preparo. Dos básicos oferecidos pelo Sebrae, até os de longa duração. Selecionamos também as histórias de profissionais que, a exemplo de Daniela, atravessaram a ponte das suas áreas de especialização e se tomaram empreendedores de sucesso. Inspire-se. E empreenda.
HISTORIAS PARA SE INSPIRAR, DE A a V
Arquitetos, engenheiros, dentistas, publicitários e profissionais de outras 14 áreas contam a seguir como abriram seu negócio. Eles usaram diferentes estratégias para suprir as carências na área de gestão. Há quem buscou experiência no mercado de trabalho, procurou um sócio gestor ou simplesmente entrou num curso para complementar a formação.
AGRONOMIA
Bigma
SEDE: Casa Branca (SP) FUNDAÇÃO: 2008
FATURAMENTO EM ZOl1: R$ 450 mil PREVISÃO PARA 2012: R$ 700 mil
Mesmo antes de se formar na Universidade de São Paulo (USP), o engenheiro agrônomo Maurício Palma Nogueira, 38 anos, já pensava em ter um negócio. Ele só não imaginava que a oportunidade viria tão cedo. “Entrei como estagiário numa empresa de consultoria que passava por uma reestruturação. Com um ano de formado, me tornei sócio”, afirma. Nove anos depois, ele decidiu sair para fundar a própria empresa de informação e análise de mercado para a área de agronegócios, a Bigma. O investimento inicial foi de cerca de R$ 210 mil.
Depois de um 2010 complicado, o negócio retomou o ritmo de crescimento e projeta faturar R$ 700 mil neste ano – 50% mais do que em 2011. A equipe tem cinco pessoas, e as metas são compartilhadas. “Todos têm um salário fixo, mas podem ganhar mais se o faturamento crescer”, diz. Segundo
Nogueira, os erros e acertos na experiência prática como empresário foram a sua principal escola, mas ele não deixou de buscar formação complementar. Fez um MBA em Administração pela Universidade Federal de Lavras e costuma participar de cursos de curta duração, por exemplo, em marketing. “O fundamental é estabelecer metas e estruturar tudo em um plano de negócios. O planejamento tem de ser de longo prazo.”
ARQUITETURA
SuperfiCie.Org
SEDE: Belo Horizonte (MG) FUNDAÇÃO: 2005 FATURAMENTO EM ZOl1: não há PREVISÃO PARA 2012: R$ 300 mil
O escritório de arquitetura de Leandro Araújo, 30 anos, e Roberto Andrés, 31, funcionava havia cinco anos quando os sócios tiveram a ideia de criar um software. Os amigos, formados pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), perceberam que não existia um programa que ajudasse a elaborar orçamentos para obras e desenvolveram o plug-in Bim.Bon. Para ajudar nessa tarefa, contrataram um batalhão de conselheiros – uma consultoria na área de inovação, outra de tecnologia e uma terceira especializada em interface e relação com o usuário. “Na arquitetura, não temos uma formação voltada para o empreendedorismo“, diz Araújo.
O apoio desses parceiros foi tão importante que a consultoria evoluiu para um conselho de administração. Foi com o auxílio deles que os mineiros fizeram a primeira captação de recursos para o Bim.Bon – R$ 1,25 milhão, da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). O software foi lançado em novembro de 2011 e acabou mudando a vocação da Superfície.org, antes voltada para projetos de arquitetura. “Vimos que era possível nos dedicarmos a esse produto. Hoje, quase 100% da nossa receita vêm do software.” O Bim. Bon tem mais de 200 empresas cadastradas e três mil usuários. Os planos para 2013 são ambiciosos: os sócios querem chegar a um faturamento de quase R$ 1 milhão.
ARTES PLÁSTICAS
Elisa Stecca SEDE: São Paulo (SP) FUNDAÇÃO: 1993
FATURAMENTO EM zoa: R$ 600 mil PREVISÃO PARA 2012: R$ 720 mil
Foi só para agradar à família que a paulista Elisa Stecca, 49 anos, cursou seis meses de direito na USP, ao mesmo tempo que fazia a faculdade de Artes Plásticas na fundação Armando Álvares Penteado (FAAP). “Cresci ouvindo que artista não sabe ganhar dinheiro”, diz. Para provar o contrário, assim que se formou conseguiu um emprego na área editorial. Começou trabalhando como produtora de moda e foi galgando postos em publicações da área, como a revista Vogue. Depois de quase seis anos como editora de moda e beleza, Elisa percebeu que queria criar. Em 1993, lançou sua primeira linha de joias.
A empreendedora resolveu contratar um assessor para ajudá-la na administração da empresa, mas a estratégia não funcionou. “Acabei abrindo um negócio muito maior do que eu deveria. Já no primeiro ano, estava com um rombo fiscal enorme.” Três anos depois, Elisa decidiu recomeçar do zero. Fechou a antiga empresa e abriu outra menor, com dois funcionários fixos e 15 colaboradores externos – estrutura que mantém até hoje. “É difícil para um artista administrar um negócio, porque também é ele quem cria. Não adianta querer montar algo gigante se você não vai dar conta.”
CIÊNCIA DA COMPUTAÇÃO
Flyever
SEDE: São Carlos (SP) FUNDAÇÃO: 1993 FATURAMENTO EM 2011: R$ 2,3 milhões
PREVISÃO PARA 2012: R$ 2,5 milhões
Exatamente como aconteceu na história de várias das empresas de tecnologia famosas hoje, o primeiro “escritório” da Flyever foi o quarto de um de seus fundadores. Maurício Camevalli, 48 anos, criou o negócio com o engenheiro eletrônico Ilson Nakamoto, 53. Depois de se formar no curso de ciência da computação na Universidade Federal de São Carlos, em 1982, Camevalli trabalhou no mercado durante dez anos. Além de adquirir experiência para o negócio, conheceu o sócio nesse período. A dupla resolveu explorar um nicho na tecnologia, o do software e dos equipamentos eletrônicos para a indústria.
Sem dinheiro para investir, eles se apoiaram no capital a fundo perdido destinado a empresas inovadoras. O primeiro aporte veio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Depois, foi a vez da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) – em 2006, a empresa recebeu duas parcelas de R$ 500 mil e, agora, mais R$ 400 mil. A Flyever também levantou uma linha do Banco N acional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) de R$ 300 mil. Hoje, a empresa conta com 31 funcionários, e os sócios dividem as funções. Camevalli fica com a área administrativa e comercial, e Nakamoto com a técnica. “Não tive formação em empreendedorismo. Tudo foi feito na intuição”, diz Carnevalli. Em 2009, ele resolveu buscar um complemento: um MBA em gestão estratégica na Universidade Anhanguera.
CONTABILIDADE
Insigne Consultoria SEDE: Rio de Janeiro (RJ) FUNDAÇÃO: 2007
FATURAMENTO EM 2011: R$ 1,8 milhão PREVISÃO PARA 2012: R$ 2,2 milhões
“Começar um negócio do zero pode ser arriscado, mas eu achava ainda mais arriscado ser funcionário”, afirma Sérvulo Mendonça, 34 anos, fundador da Insigne Consultoria. Formado em contabilidade pela Universidade Gama Filho, o carioca sempre ouviu do pai histórias sobre pessoas que haviam largado tudo para empreender. “Ele trabalhava por conta própria e me incentivou a fazer isso também”, afirma.
Em 2007, uma mudança na estrutura da consultoria em que trabalhava foi o empurrão que faltava para Mendonça. Com o plano de negócios estruturado, ele chamou o amigo e contador Alessandro Gonçalves, de’gz anos, e.juntos, abriram a empresa. Os sócios reuniram R$ 50 mil para a empreitada, dinheiro que conseguiria sustentar o negócio por apenas seis meses. “Era o tempo que tínhamos para dar certo”, afirma. Foi batendo de porta em porta e oferecendo um serviço porum preço menor do que o do mercado que os cariocas fizeram a consultoria de contabilidade vingar. “O primeiro ano foi o mais difícil. Quase desistimos. Depois, os clientes começaram a aparecer e fomos nos ajustando”, diz.
DESENHO INDUSTRIAL
AevoStudio
SEDE: Rio de Janeiro (RJ) FUNDAÇÃO: 2007
FATURAMENTO EM 2011: R$ 800 mil PREVISÃO PARA 2012: R$ 900 mil
Durante o último ano da faculdade de Desenho Industrial na PUC-Rio, Roberto Maia, 28 anos, começou a estagiar na Petrobras. Sua função era desenhar peças para motores dos aparelhos usados na extração do petróleo. “Eu sabia desenvolver projetos em 3D, o que não era tão comum na época Percebi que existia demanda por esse tipo de trabalho e pensei que poderia ser uma boa área para empreender”, diz.
Quando o estágio terminou, o carioca tinha um projeto na cabeça: abrir a Aevo Studio, uma empresa de construção de software em três dimensões. Juntou-se a um amigo e os dois começaram a oferecer o serviço – cada um trabalhando na própria casa. “Nessa época, reinvestíamos 80% do que ganhávamos.” Em um ano e meio, já tinham quatro clientes do setor energético, entre eles a Petrobras e a GDF Suez. Hoje, como único sócio, Maia conduz uma empresa de 14 funcionários. A maior parte do faturamento vem da criação de projetos de visualização em 3D para iniciativas que ainda não saíram do papel- para, por exemplo, conquistar investidores.
DIREITO
SABZ Advogados
SEDE: São Paulo (SP) FUNDAÇÃO: 2005
FATURAMENTO EM 2011: não divulga PREVISÃO PARA 2012: não divulga
A estrutura da SABZ Advogados nasceu muito antes de a empresa ser criada, em 2005. Paulo Araújo, 29 anos, Renato Butzer, 28, e Kléber Zanchim, 30, começaram a empreender quando ainda eram calouros da Faculdade de Direito da USP – abriram uma empresa júnior. Durante dois anos, eles assessoraram micro e pequenos negócios com a ajuda do Departamento de Direito Comercial. Depois, resolveram sair do negócio para estagiar em um grande escritório. “A ideia era ganhar experiência, mas vimos que não queríamos aquilo para nossas carreiras”, diz Zanchim. Quando se formaram, os amigos resolveram abrir seu próprio escritório.
A SABZ começou numa pequena sala alugada no centro de São Paulo, com as economias dos salários dos sócios. Vários dos primeiros clientes vieram da época da empresa-júnior. “O mais difícil era mostrar que, apesar de jovens, dávamos conta do trabalho. Fazíamos de tudo: de cobrança de cheque a entrada de ações.” Durante três anos, a SABZ não gerou dinheiro algum para os sócios. A virada veio com bastante trabalho e uma fusão com um escritório já respeitado – Marcelo Neves-em 2009. Lá, eles se reencontraram com um antigo colega de faculdade, Pedro Souza, 31 anos, que se tomou o quarto sócio do escritório. Hoje, a carteira de clientes conta com nomes como o banco BTG Pactual e a construtora OAS.
ENGENHARIA DE ALIMENTOS
CluBeer
SEDE: São Paulo (SP)
FUNDAÇÃO: 2011
FATURAMENTO EM 2011: não há PREVISÃO PARA 2012: R$ 2 milhões
Por anos, a engenheira de alimentos Kathia Zanatta, 29 anos, ficou com uma frase na cabeça: “Aprenda com o dinheiro dos outros para depois acertar com o seu”. O conselho foi dado durante uma palestra para alunos da Unicamp, onde estudava. Filha de empreendedor, a paulista cresceu tendo como plano de carreira abrir um negócio – o que fez em novembro de 2011, com a inauguração do CluBeer, um e-commerce de cervejas gourmet por assinatura.
Antes de dar o voa solo, Kathia seguiu o conselho: trabalhou na área de produção de cervejas. Quando ainda era universitária, passou por uma cervejaria em Munique, na Alemanha. Depois, pela área de pesquisa e desenvolvimento da Schincariol, em São Paulo. Saiu de lásommelier, professora e jurada de concursos internacionais. Com um investimento de R$ 200 mil, a CluBeer foi inaugurada em novembro de 2011, ao lado da amiga psicóloga Cristiana Bratt, 34 anos, que hoje cuida da parte administrativa da empresa. Desde o início do ano até junho, o faturamento mensal ficou em tomo dos R$ 150 mil.
ENGENHARIA CIVIL
Bid Corp
SEDE: Rio de Janeiro (RJ) FUNDAÇÃO: 2011 FATURAMENTO EM 2011: não há PREVISÃO PARA 2012: R$ 1 milhão
Foi durante um estágio na área de materiais de construção da Odebrecht que o pernambucano Ricardo Salazar, 32 anos, encontrou a inspiração para empreender. Ele observou que as sobras de materiais e equipamentos eram desperdiçadas ou vendidas por uma bagatela – um olhar que somou as habilidades desenvolvidas em duas faculdades: administração de empresas na Universidade Estadual de Pernambuco e Engenharia Civil na Universidade Federal de Pernambuco. Terminado o estágio, Salazar passou dois anos na Austrália e aproveitou para pesquisar o que as construtoras faziam com os ativos.
Quando voltou para o Brasil, ele decidiu montar uma plataforma de comércio eletrônico para negociar essas sobras. Com um colega da Odebrecht – Arthur Rozenblit, 27 anos -, abriu a Bid Corp, inicialmente incubada no Porto Digital, em Recife. A dupla ganhou uma terceira sócia, Isabel Wanderley, 30 anos, que ficou responsável pelo desenvolvimento de sistemas. Há três meses, os empreendedores mudaram para o Rio, pois foram aceitos pelo programa da aceleradora 21212. A empresa recebeu um aporte de R$ 200 mil- R$ 20 mil em capital e o restante em prestação de serviços. “A gestão é um dos maiores desafios para nós, mas o pessoal da 21212 nos ajuda muito nisso e nas negociações com investidores”, diz Salazar.
ABC (Atacado Brasileiro da Construção)
SEDE: Juiz de Fora (MG) FUNDAÇÃO: 1990 FATURAMENTO EM 2011: R$ 80 milhões
PREVISÃO PARA 2012: R$ 100 milhões
Assumir os negócios da família sempre foi uma opção de carreira para Tiago Mendonça, 31 anos. O pai é dono da construtora Forte Real e o avô criou a rede de lojas de material de construção ABC, ambas em Juiz de Fora, em Minas Gerais. “Eu sabia que não podia errar, porque o mercado está cheio de histórias de pessoas da terceira geração que quebram a empresa da família”, diz. Por conta disso, Mendonça foi se especializar. Cursou engenharia civil na Universidade Federal de Juiz de Fora, fez um MBA em finanças na PUC do Rio de Janeiro e um segundo MBA, em gestão de negócios, no Institut d’Administration des Entreprises, em Grenoble, na França.
Na volta, em 2006, Mendonça tinha as duas opções de negócio pela frente. “A construtora estava bem, mas a loja de material de construção andava meio de lado. Optei por ela”, afirma. “Entrei para repensar o negócio. Duplicamos o número de lojas e quadruplicamos o faturamento.” A rede tem 23 unidades em Minas Gerais e, em três anos, devem ser abertas de 45 a 50. “Como recém-formado, meu maior desafio foi controlar a ansiedade e transformar a teoria em prática”, afirma. Em 2011, o fundo FIR Capital aportou R$ 40 milhões e ficou com 30% da rede. Foram criados, então, uma diretoria profissionalizada e um conselho de administração.
ENGENHARIA DA COMPUTAÇÃO
Ideais
SEDE: Rio de Janeiro (RJ) FUNDAÇÃO: 2003
FATURAMENTO EM 2011: R$ 17 milhões PREVISÃO PARA 2012: R$ 25 milhões
João Machado, 34 anos, Manoel Almeida, 33, e Danilo Tuler, 35, eram funcionários de uma empresa de tecnologia quando mudaram de chefe – e não gostaram da experiência. Formados em engenharia da computação, os três começaram a pensar em alternativas de trabalho e surgiu a ideia de abrir um negócio. “Gostamos de fazer as coisas do nosso jeito”, afirma Machado. Em 2001, os ex-alunos de graduação e mestrado da PUC- RJ voltaram à universidade para participar do processo de seleção da incubadora Gênesis, com um projeto de consultoria de tecnologia e desenvolvimento de software. Foram aceitos.
Com a ajuda da incubadora, o investimento para fazer o negócio sair do papel foi de R$ 18 mil. Cada um trouxe seu próprio computador para o escritório. “Nossa principal dificuldade foi lidar com as áreas financeira e administrativa. Tivemos de estudar para aprender a conduzir a empresa”, diz. Hoje, com a Ideais consolidada, uma das maiores preocupações dos sócios é a qualidade do ambiente de trabalho. “Não queremos repetir o que aconteceu conosco em outras empresas.” O esfor-ço tem mostrado resultado: em 2011, a Ideais foi eleita um dos 30 melhores lugares para se trabalhar no Rio de Janeiro, segundo o ranking do Great Place to Work.
ENGENHARIA ELÉTRICA
Gigalink
SEDE: Nova Friburgo (RJ) FUNDAÇÃO: 2004 FATURAMENTO EM 2011: R$ 9.5 milhões
PREVISÃO PARA 2012: R$ 13 milhões
Mesmo antes de se formar no curso de engenharia elétrica de produção, na PUC-Rio, Osvaldo Lucho, 46 anos, já ganhava dinheiro montando computadores. Foi daí que veio seu primeiro negócio, que faliu. A segunda investida foi na área de software, e a terceira, em serviços. Dessa última empresa, a Solutec, é que surgiu a Gigalink, provedora de banda larga na região de Nova Friburgo e região, no Rio de J aneiro. O produto cresceu tanto que, em 2004, tornou-se uma empresa. “Desenvolvemos um novo tipo de cabo, não porque somos geniais, mas porque não tínhamos como comprar dos fornecedores”, diz Lucho.
Para tocar a produção, ele usou dinheiro do cheque especial, pegou empréstimos no banco e descontou duplicatas. Segundo o empresário, só nos dois últimos anos, com a participação nos programas da Endeavor, é que sua empresa entrou numa fase de profissionalização. “Melhoramos a gestão de pessoas, passamos a fazer planejamento estratégico e vamos implantar remuneração variável.” A Gigalink tem 20 mil assinantes e 140 funcionários. O faturamento cresce de 20% a 25% ao ano.
ENGENHARIA MECÂNICA
Pollux
SEDE: Joinville (se) FUNDAÇÃO: 1997
FATURAMENTO EM 2011: R$ 11 milhões PREVISÃO PARA 2012: R$ 22 milhões
Quando terminou o curso de engenharia mecânica na Universidade Estadual de Iowa, nos Estados Unidos, em 1992, José Rizzo Hahn Filho, 45 anos, estava decidido a abrir uma empresa. “Mas primeiro eu precisava de uma experiência corporativa”, afirma. Durante quatro anos, ele trabalhou na Empresa Brasileira de Compressores (Embraco), até que, em maio de 1997, veio a oportunidade de criar a empresa de automação industrial Pollux. “Comecei sem dinheiro, mas encontrei mercado na indústria farmacêutica ao explorar uma defasagem da indústria, o uso de robôs nas fábricas”, diz.
A falta de recursos para investir sempre foi um entrave para a Pollux – não havia ativos a oferecer como garantia para os bancos. Por isso, em 1999, Rizzo transformou a empresa em sociedade anônima e saiu em busca de aportes. O primeiro, de R$ 1,8 milhão, veio logo em seguida. O segundo, de R$ 5 milhões, chegou em 2002. “Os recursos dos fundos impulsionaram a Pollux. Hoje, até já recompramos a participação deles”, afirma. Um dos maiores desafios para a empresa, que tem atualmente mais cinco sócios, é contar com o melhor time. Para isso, foi criada uma política agressiva de benefícios para os funcionários. “No nosso processo seletivo, privilegiamos a inteligência em relação à experiência.”
ENGENHERIA MECATRONICA
Xmobots
SEDE: São Carlos (SP) FUNDAÇÃO: 2007
FATURAMENTO EM 2011: R$ 1 milhão PREVISÃO PARA 2012: até R$ 7 milhões
Giovani Amianti, 29 anos, entrou na faculdade de engenharia mecatrônica da USP com o sonho de ir para os Estados Unidos trabalhar na NASA. No segundo ano do curso, no entanto, se viu com uma ambição diferente: abrir uma empresa de tecnologia no Brasil e inovar. Estudando o mercado, o engenheiro encontrou um nicho ainda não explorado no país, o de veículos aéreos não tripulados. Em 2007, enquanto fazia o mestrado, ele se reuniu com outros quatro amigos da universidade para abrir uma empresa dentro do Cietec, a incubadora da USP. Em 2008, o grupo conseguiu fazer o seu primeiro voa e receber um investimento do governo, que injetou R$ 90 mil no negócio. “Aí começaram a acreditar na gente.”
No ano seguinte, os sócios apresentaram a Xmobots em uma feira do Rio de Janeiro com a ajuda do Sebrae – e conseguiram visibilidade na Marinha e na Aeronáutica. Logo surgiram os acordos com o governo. Dos quatr9 amigos que ajudaram Amianti a fundar o negócio, sobraram dois: Fábio Henrique de Assis, 29 anos, e Roberto Campos, 28.
Armtec
SEDE: Fortaleza (CE) FUNDAÇÃO: 2004
FATURAMENTO EM zon: não divulga PREVISÃO PARA 2012: não divulga
Numa de suas aulas na Universidade de Fortaleza (Unifor), o professor Antônio Roberto Macêdo mostrou aos alunos a foto de um robô desenvolvido no Japão para ajudar no combate a incêndios. A máquina era capaz de liberar 200 litros de água por minuto. O professor olhou para a turma e mirou seu filho, Roberto: “Consegue fazer um assim?”. Desafio aceito, Roberto disse que criaria um até o final da faculdade. Essa cena aconteceu em 2001, quando ele cursava o 5ºsemestre de engenharia mecatrônica. A promessa foi cumprida nos últimos três meses da faculdade: sozinho, Roberto criou o robô Saci como seu projeto de conclusão de curso. “Hoje, ele é considerado o robô com maior capacidade de vazão do mundo, de 8.400 litros por minuto”, afirma.
Com o sucesso do produto, o empreendedor foi convidado pela universidade para abrir a primeira empresa incubada dentro da instituição. A Armtec nasceu em 2004 e, desde então, recebeu R$ 20 milhões em investimentos (sendo R$ 1,57 milhão da Finep). Com o valor, Roberto, hoje com 32 anos, desenvolveu uma família de robôs brasileiros. São seis os mais conhecidos: Saci, Caipora, Samba, Sucupira, Siri e Mulata. Entre seus clientes estão universidades e empresas do setor de petróleo e gás e de reaproveitamento de resíduos.
ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
Prática
SEDE: Pouso Alegre (MG) FUNDAÇÃO: 1991 FATURAMENTO EM zon: R$ 60 milhões
PREVISÃO PARA 2012: R$ 75 milhões
O mineiro André Luiz Rezende, 52 anos, formou-se em engenharia de produção pela Escola Politécnica da USP em 1982. Trabalhou em diversas empresas até que, em 1987, decidiu voltar para sua cidade, Pouso Alegre, para abrir um negócio. Não acertou de cara. “Antes de criar a Prática, tive várias iniciativas que não deram certo”, afirma. A empresa começou fabricando estantes metálicas, mas, segundo Rezende, o mercado ficou “comoditizado” e ele teve de buscar alternativas – no caso, os fornos e máquinas para restaurantes e panificadoras. “Como minha família tinha experiência com padarias e os gastos de energia elétrica com os fornos eram absurdos, resolvi inventar um equipamento mais eficiente.”
Desde 1999, Rezende conta com a ajuda do irmão, o engenheiro mecânico Luiz Eduardo, 45 anos, como sócio. Com 270 funcionários, a Prática exporta para vários países da América Latina. A empresa acaba de receber um aporte de R$17 milhões do BNDESPar, braço de participações do BNDES, para tocar um projeto de expansão, que inclui o desenvolvimento de novos produtos.
FARMÁCIA
Dermage
SEDE: Rio de Janeiro (RJ) FUNDAÇÃO: 1990 FATURAMENTO EM 2011: R$ 65 milhões
PREVISÃO PARA 2012: R$ 70 milhões
Com dois diplomas em mãos farmácia e bioquímica -, Lizabeth Braun, hoje com 54 anos, foi trabalhar num hospital no Rio de Janeiro. “Era um bom emprego, mas eu estava infeliz. Não tinha perspectivas”, diz. Após fazer algumas viagens ao sul do país e à Argentina, ela notou o fenômeno das farmácias de manipulação, tipo de varejo que não existia no Rio. “Em 1982, abri a Dermatus, que fez sucesso entre os dermatologistas. Quando vi o mercado que tinha pela frente, saí da sociedade e resolvi partir para meu voa solo.”
O capital para a primeira empresa veio de uma Brasília, que ela vendeu para empreender. “Para a segunda, peguei empréstimos no banco para levantar o capital.” Assim, Lizabeth criou em 1990 a Dermage, especializada em dermocosméticos. O negócio tem 300 funcionários que se dividem entre a fábrica de cosméticos e uma rede de lojas – 12 próprias e 40 franquias. A empreendedora conta com a ajuda do marido, Walter, na área financeira, e da filha, Ilana, que cursou direito e administração de empresas e se prepara para assumir a empresa da mãe.
GASTRONOMIA
ShootersCocktail &. Food
SEDE: Riode Janeiro (RJ) FUNDAÇÃO: 2010
FATURAMENTO EM 2011: R$1,2 milhão PREVISÃO PARA 2012: R$ 1,8 milhão
Philipe Melo, 25 anos, tinha um destino planejado quando terminou o curso de gastronomia na Universidade Estácio de Sá, no Rio de Janeiro, em 2008. A ideia era trabalhar na pizzaria da mãe, Neusa, em Araruama, na Região dos Lagos. “Não deu certo. Eu não conseguia aplicar o que havia aprendido na faculdade”, diz. Melo decidiu então voltar para a capital. Fez um curso de coquetelaria e conseguiu um emprego numa empresa de eventos. Nas horas de folga trabalhava em bares. “Foi quando tive a ideia de abrir o meu.”
O plano de Melo era montar uma casa especializada em um tipo de drinque chamado shot, para ser tomado numa única dose. Só que ele não tinha dinheiro. Tentou obter empréstimos bancários, mas foi a mãe que acabou entrando com uma parte dos R$ 175 mil que foram investidos no Shooters Cocktail & Food. O bairro escolhido foi Botafogo. “Na vizinhança, há vários bares que vendem pastéis e cerveja de garrafa. Nossa proposta é oferecer drinques individuais”, afirma. O cardápio do bar traz petiscos e alguns pratos criados por Melo. Na equipe estão 11 funcionários fixos – nos fins de semana são contratados freelancers para dar conta do aumento do movimento. Há dois meses, Melo chegou ~ conclusão de que a casa havia ficado pequena. Foi a um banco, tomou um empréstimo de R$ 80 mil e criou um lounge na loja anexa. “Tive aulas de empreendedorismo na faculdade, mas a prática é bem diferente”, diz. “A gente aprende mais na vida quando erra.”
JORNALISMO
Agência Ideal
SEDE: São Paulo (SP) FUNDAÇÃO: 2007
FATURAMENTO EM 2011: R$ 13 milhões PREVISÃO PARA 2012: R$ 21 milhões
Os amigos Eduardo Vieira e Ricardo Cesar, ambos de 35 anos, pensavam em montar um negócio desde os primeiros créditos da faculdade. Há 17 anos, enquanto cursavam jornalismo na Escola de Comunicação e Artes da USP, os dois abriram uma pequena editora para produzir revistas e jornais corporativos. Quando começaram a estagiar, decidiram fechá-la, mas mantiveram a ideia de empreender juntos – algo que os acompanhou mesmo depois de consolidar suas carreiras, trabalhando em grandes redações. Aos poucos, os sócios foram desenhando o projeto da Agência Ideal. Vieira e Cesar perceberam um vácuo no que as agências de comunicação ofereciam a seus clientes. “Com as redes sociais, o setor estava se transformando e as empresas não acompanhavam”, afirma Cesar. Em 2007, o Google começou a estruturar sua área de comunicação no Brasil. Diversas agências estavam disputando a conta, e os amigos viram aí uma oportunidade de apresentar a Ideal. “Não tínhamos uma empresa, apenas um projeto. Estávamos lá mais para aprender do que para ganhar o cliente.” Mas a estrutura de uma assessoria de comunicação com foco nas redes sociais agradou ao Google e os dois foram contratados. Pediram demissão de seus empregos e, com a primeira mensalidade recebida da empresa, começaram a estruturar a agência. Cinco anos depois, a lista de clientes passa de 60 – entre eles, o próprio Google, a L’Occitane e a Nike.
LETRAS
Grupo Maxx Educacional
SEDE: Rio de Janeiro (RJ) FUNDAÇÃO: 2004
FATURAMENTO EM ZOl1: R$ 10 milhões PREVISÃO PARA 2012: R$ 15 milhões
As primeiras aulas oferecidas pelo Grupo Maxx Educacional aconteceram em uma sala de aula para 25 alunos, no bairro do Recreio, no Rio. O professor Marcelo Portella, 42 anos, fazia todo o trabalho: a inscrição dos alunos, o atendimento e dava as aulas, direcionadas para as provas dos concursos públicos. Ele tinha um nome consolidado graças à sua carreira em colégios importantes da cidade, como o N otre Dame e o Miguel Couto. Não demorou muito para que o número de alunos começasse a aumentar.
Portella diz que a diferença do seu curso em relação aos dos concorrentes era o tempo. “Na época, a maioria dos cursos preparatórios começava após o lançamento do edital dos concursos. Você não consegue passar se estudar só durante esse período.” Formado em letras pela Universidade de Brasília, o professor administra o negócio com dois outros sócios, chamados para ajudar nas partes financeira e operacional: Ricardo Mello, 44 anos, e Alexandre Lopes, 39.
Hoje, a sala no Recreio é apenas uma entre as 58 que o Grupo Maxx tem espalhadas pela cidade do Rio de Janeiro. Além dos cursos preparatórios, a empresa abriu dois colégios, inaugurou um sistema de franquias e montou uma editora para produzir o material didático. No total, há três mil alunos matriculados.
MEDICINA
Pró-laudo
FUNDAÇÃO: 2007
SEDE: Rio de Janeiro (R~) FATURAMENTO EM 2011: R$ 2 milhões PREVISÃO PARA 2012: R$ 4 milhões
Seguir o caminho tradicional na radiologia não era um projeto que agradava aos médicos Felipe Nírenberg e Felipe Morais, ambos de 30 anos e formados respectivamente pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Normalmente, os profissionais com essa especialidade vão trabalhar em grandes empresas, avaliando exames. “É algo que faz você perder o prazer pela ciência”, diz Niremberg. Em 2007, durante um congresso nos Estados Unidos, os dois tiveram contato com a tele radiologia e encontraram um caminho. Nessa modalidade, a imagem é enviada pela internet e o laudo médico, elaborado a distância. “Fomos os primeiros a trazer essa técnica para o Brasil”, afirma Niremberg.
A ideia inovadora atraiu investidores. O empreendimento recebeu R$ 150 mil de um investidor anjo, R$ 120 mil da Finep e R$ 200 mil da Faperj. “Mas, apesar dos aportes, ainda éramos dois médicos sem nenhuma ideia de como se monta uma empresa.” Os dois amigos, então, consultaram Cesar Salim, um dos fundadores do instituto Genesiso Foi ele quem os apresentou ao carioca Alexandre Rimbemboin, 42 anos, um empreendedor serial, que entrou para o negócio. “Saímos dessa reunião com um novo sócio e mais duas palavras no nosso vocabulário: business plan”
go2Doc
SEDE: São Paulo (SP) FUNDAÇÃO: 2011 FATURAMENTO EM 2011: não há PREVISÃO PARA 2012: não divulga
Qual é o momento certo para contar uma novidade chocante a alguém? Foi no quarto do hospital, com o sobrinho recém-nascido no colo da irmã, que a mineita Daniela Bouissou, 38 anos, resolveu comunicar à família que pensava em parar de atuar como médica. “A minha irmã olhou para a enfermeira e perguntou se o que estava ouvindo era efeito da anestesia”, diz. Os planos da ginecologista estavam longe dos consultórios. Ela queria fazer um MBA em negócios na Universidade de Stanford.
Em 2006, depois de terminar o mestrado na UFMG, Daniela foi para a Califórnia. “Achei que seria o melhor jeito de resolver as deficiências que tinha sobre o assunto.” Quando terminou o curso, a mineira voltou ao Brasil e foi trabalhar em uma consultoria de contabilidade. “Queria solidificar tudo o que tinha aprendido para depois aplicar na minha empresa.” A oportunidade veio em março deste ano, com o g02doc, uma plataforma de busca e agendamento de consultas online. O portal foi lançado após cinco meses de planejamento ao lado dos sócios Adriano Fontana, 26 anos, Octavio Domit, 29, Victor Germano, 30, e Victorio Braccialli Neto, 25. O negócio recebeu investimentos do Valor Capital Group. Para 2013, a previsão de faturamento é de R$ 5 milhões.
OCEANOGRAFIA
SEDE: Rio de Janeiro(RJ) FUNDAÇÃO: 2010
FATURAMENTO EM 2011: R$ 145 mil PREVISÃO PARA 2012: R$ 1 milhão
Se o oceanógrafo Manlio Mano, 37 anos, pudesse dar um conselho a qualquer novo empreendedor que vem do mundo acadêmico, ele diria: “Aprenda a delegar”. Fundador da Oil Finder, empresa carioca que oferece soluções para exploração de petróleo, ele demorou a entender que não poderia ocupar todos os cargos dentro de seu negócio. A empresa de Mano nasceu de uma de suas criações: a modelagem inversa, fruto de sua tese de doutorado. É uma técnica capaz de identificar por satélite áreas no fundo do mar onde ocorrem escapes naturais de óleo.
Com um produto inovador nas mãos, o carioca saiu da academia para empreender em 2010. Juntou R$ 30 mil do próprio bolso para abrir a Oil Finder, mas logo descobriu que ia precisar de ajuda. “Como todo curso voltado para a academia, a oceanografia forma pesquisadores e técnicos. Não tive nenhuma matéria mais voltada para administração e negócios.” Para suprir as carências que tinha de conhecimento em gestão, ele trocou de sócio: o amigo geólogo deu lugar a Cintia Soares, 36 anos, formada em administração de empresas. Foi com a ajuda da nova colega que a Oil Finder fechou um contrato com a Petrobras no ano passado.
ODONTOLOGIA
Angelus
SEDE: Londrina (PR)
FUNDAÇÃO: 1993 FATURAMENTO EM 2011: R$ 12.6 milhões
PREVISÃO PARA 2012: R$ 15 milhões
A habilidade para criar produtos inóvadores transformou o cirurgião-dentista Roberto Alcântara, 49 anos, em empresário. Formado em 1984 pela Universidade Estadual de Londrina (DEL), ele trabalhou por dez anos como dentista. Mas não se conformava com a forma artesanal com que seus pares trabalhavam. Por isso, resolveu criar alguns produtos. O primeiro foi um pino que é colocado na raiz de um dente extraído para receber uma prótese. “Tínhamos de esculpir o pino em plástico, para depois fundir em metal. Então criei vários tipos de pinos de plástico, moldados em silicone”, afirma. “Uma tarefa que levava uma hora passou a ser feita em 15 minutos.”
Logo, o produto criado pelo dentista de Londrina ganhou mercado e ele não dava mais conta de suprir a produção. Vendeu o carro e empregou os R$ 14.800 na criação da Angelus, junto com a mulher, Sônia, 49 anos, também dentista. O início foi difícil. A empresa ficou um ano na Incubadora Industrial de Londrina, empreendimento da prefeitura. “Costumo dizer que tivemos o apoio de dois bancos. O do meu consultório e o do consultório da minha mulher.”
Hoje, a Angelus tem uma linha de 46 produtos e exporta para 70 países. São 65 funcionários, dos quais dez pesquisadores em tempo integral. Alcântara teve o apoio da Votorantim, fabricante de cimento. “Eles nos ajudaram a desenvolver um produto que representou nosso grande salto, o MTA (cimento reparador de perfurações de raiz)”, afirma. “Foi um marco na nossa história, porque nos permitiu entrar no mercado global.”
PUBLICIDADE
Biruta Mídias Mirabolantes SEDE: Rio de Janeiro (RJ)
FUNDAÇÃO: 2003
FATURAMENTO EM 2011: R$ 15 milhões PREVISÃO PARA 2012: R$ 18 milhões
“Você foi louco de ligar para a Biruta. Disque o ramal desejado ou aguarde para ser atendido.” É assim que os clientes são recepcionados pelo sistema de telefonia da Biruta, uma agência de comunicação criada por Rafael Liporace, 30 anos, com os sócios Alan J ames, 36, Rômulo Groisman, 29, e Matheus Meirelles, 27. “Comecei a me preparar para ter meu negócio na faculdade, quando fui presidente da empresa-júnior”, diz Liporace. Ele cursou publicidade e propaganda na ESPM do Rio de Janeiro.
Logo que se formou, Liporace foi convidado para trabalhar como gerente de marketing numa empresa de tecnologia. “Só que o trabalho não me completava, queria mesmo ter minha empresa.” Ele convidou os outros sócios, mas ninguém tinha recursos. “Começamos com dívidas de R$ 20 mil, no banheiro da Incubadora Inicial Jovem, da Shell. Compramos um anuário de publicidade e fomos atrás das agências.” O plano dos jovens empresários era preencher uma lacuna do mercado de comunicação, com mídias não tradicionais. “Vimos que, tecnicamente, esse seria o futuro da comunicação”, diz. Deu certo: na carteira de clientes estão nomes como Banco do Brasil, Petrobras, Ambev e Claro. A agência tem 70 funcionários e escritórios no Rio, em São Paulo e Fortaleza.
Dreams Arquitetura de Ideias
FUNDAÇÃO: 2003
SEDE: São Paulo (SP)
FATURAMENTO EM 2011: R$ 4 milhões PREVISÃO PARA 2012: mais de R$ 5 milhões
Visa, Amil e Johnson & Johnson são alguns dos nomes que compõem hoje a lista de clientes da Dreams Arquitetura de Ideias. A empresa, fundada pelas publicitárias Fernanda Lancellotti e Marcelle Comi – as duas com 32 anos e formadas pela ESPM – é especializada em brindes e presentes corporativos. A ideia para o projeto veio no final dos anos 1990, quando as sócias trabalhavam em uma agência digital de promoções. “Ficávamos incomodadas com o tipo de brinde oferecido para os clientes nas campanhas. Ninguém gosta de ganhar boné e caneta”, diz Fernanda. Diante dessa oportunidade, as amigas resolveram largar os empregos e abrir o negócio. O FGTS de Marcelle foi parte do investimento usado para dar início à Dreams na garagem da casa dos pais de Fernanda.
A primeira tarefa da empresa foi encontrar um brinde para a companhia aérea alemã Lufthansa – cliente da época em que trabalhavam na agência digital. “Criamos uma nécessaire personalizada. A estampa era o verso de um cartão-postal todo escrito e endereçado.” Para Fernanda, o que as duas fizeram de diferente foi enxergar uma tendência pequena, mas crescente no mercado. “Inauguramos a Dreams num momento em que as empresas começavam a se voltar para o cliente e procuravam se diferenciar.”
Casa de Marcas
SEDE: São Paulo
FUNDAÇÃO: 2008
FATURAMENTO EM 2011: R$1,5 milhão PREVISÃO PARA 2012: R$ 3 milhões
Economia era o lema dos primeiros meses da agência Casa de Marcas, fundada pelos publicitários Cacá Cid, 33 anos, e Rodolfo Carvalho, 30. Antes de chegar à sua sede atual, na Vila Madalena, em São Paulo, o negócio funcionou na casa de Cid, depois em um escritório alugado. “Economizávamos em tudo o que podíamos. Tínhamos uma vontade imensa de fazer o negócio dar certo”, diz Cid. Em busca de oportunidades em São Paulo, os dois haviam saído de suas cidades – Cid é de Vitória e estudou na Universidade de Vila Velha; e Carvalho, de Brasília, é formado pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). “Cheguei a trabalhar em algumas agências”, revela Cid, “mas queria fazer as coisas do meu jeito. Então conheci o Rodolfo, que tinha esse mesmo desejo.”
A ideia dos dois era criar uma empresa capaz de fazer campanhas inovadoras. Num primeiro momento, a Casa de Marcas funcionou como uma agência 360, fazendo um pouco de tudo. “Mas aquela estrutura não funcionava direito. Estávamos um pouco perdidos.” Foi quando um executivo da Unilever em Londres entrou em contato com Carvalho. Como tese de seu doutorado, ele procurava alguém para fazer coaching, e havia se interessado pela história do publicitário. A empresa acabou virando parte do trabalho do executivo – que ajudou os sócios a direcionar melhor os negócios. “Reposicionamos a agência. Hoje, somos um estúdio de ideias e experiência com marcas, com foco em ações de relacionamento.”
TECNOLOGIA E SISTEMAS DA INFORMAÇÃO
Fibra Óptica Rio Preto
SEDE: São José do Rio Preto (SP) FUNDAÇÃO: 2007 FATURAMENTO EM 2011: R$ 2,5 mil1’1ões
PREVISÃO PARA 2012: R$ 3.6 milhões
Durante o curso de tecnologia e sistemas da informação na Universidade do Noroeste Paulista (Unorp), George Fernando Longhi, 31 anos, conseguiu um estágio na prefeitura de São José do Rio Preto. Foi ali que desenvolveu suas habilidades na implantação de redes de fibra óptica Quando se formou, emzooz. foí trabalhar na área de TI dos Correios. Mas a cidade estava criando uma infavia e indicou Longhí para acompanhar o trabalho. “Adquiri a maior bagagem na minha área de atuação.”
Em 2007,Longhirevolveudeixar o emprego em uma empresa de cabeamento e se tornar um concorrente. “Vendi um Gol antigo, minha mulher, Karina, vendeu seu Palio, e meu pai entrou com R$ 20 mil”, afirma. O capital inicial somou R$ 40 mil- o dinheiro que ganhava era todo reinvestido em ferramentas e equipamentos. A Fibra Óptica Rio Preto implementa redes de fibra, redes e sistemas de segurança inteligente e tem 32 funcionários. “Eu não tinha experiência em administração. Mas criamos nosso próprio modelo de negócio.”
VETERINÁRIA
PetLove
SEDE: São Paulo (SP) FUNDAÇÃO: 1999
FATURAMENTO EM 2011: não divulga PREVISÃO PARA 2012: 250%
Márcio Waldman, 47 anos, alugou a plataforma que deu origem ao ecommerce PetLove em 1999. Foi durante um congresso no exterior, dois anos antes, que o veterinário deparou pela primeira vez com um modelo de negócio pela internet. “Sempre fui aficionado por tecnologia e achei a ideia incrível”, diz. Na época com 34 anos, ele começou a tocar a nova empresa ao mesmo tempo que atendia em seu consultório.
Só em 2005, quando o faturamento da clínica se igualou ao do e-commerce, Waldman decidiu se dedicar integralmente ao PetLove. “Doei todos os meus equipamentos do consultório para antigos estagiários, amigos e para a USP, onde me formei. Comecei a focar apenas no novo negócio.” Foi uma boa tacada Em setembro do ano passado, o PetLove recebeu aportes de três fundos de investimento: Kaiger, Monashees e Casec. Com o dinheiro, o veterinário trabalha hoje no reposicionamento e na divulgação da marca
O autodidata
APPI
SEDE: Rio de Janeiro (RJ) FUNDAÇÃO: 1993
FATURAMENTO EM 2011: R$ 19 milhões PREVISÃO PARA 2012: R$ 22 milhões
O carioca Alexandre Fi, 51 anos, montou sua primeira empresa, a Módulo Security, apenas dois anos depois de entrar no curso de engenharia civil na UFRJ, em 1984. Criou o negócio com um grupo de amigos, ao mesmo tempo que trocou o curso para ciência da computação. Como a tarefa de cuidar da startup exigia demais, acabou abandonando a faculdade.
Pi afirma que seu sonho era trabalhar com conectividade e integração de sistemas. Por isso, saiu da sociedade em 1993 para empreender sozinho, na APPI. “Eu tinha clientes e projetos. Os investimentos foram quase nulos”, diz. Ele alugou uma sala e comprou um laptop por US$ 16 mil, num leasing de 34 parcelas. Com a empresa estabilizada, voltou para a faculdade em 1996. “Mas a universidade entrou numa longa greve. Acabei desistindo!’
Sua maior dificuldade inicial foi ter a noção clara do valor de seus serviços. “Para mim era fácil fazer, mas não entendia que para os clientes não era um trabalho simples. Quando vi que não havia produtos similares, fui elevando o preço!’ A profissionalização da APPI veio em 2001, quando um fundo investiu R$ 1,8 milhão, em troca de 25% do capital. A empresa virou uma sociedade anônima de capital fechado e criou um conselho de administração. “O dinheiro do fundo, que já saiu da APPI, foi muito importante. Criamos um produto que ninguém queria, mas se mostrou uma ótima solução”, diz. É um aplicativo que integra as maquininhas de ponto de venda, pois cada fabricante usa um sistema operacional próprio que não conversa com os outros. Hoje, a APPI tem 90 funcionários e clientes como Cielo e Banco do Brasil.