19/03/2021
Maria Elisa Moreira analisa o novo momento de restrições trazidas pela Covid-19 e dá dicas para lidar com os impactos sobre a mente
ENTREVISTA| CONTEÚDO SOBRE A PANDEMIA DE COVID-19 |ACESSE A PÁGINA ESPECIAL
Neste mês de março, a pandemia do novo coronavírus completou um ano de duração, em um momento crítico com o aumento de casos em todo o Brasil. Com as novas restrições de locomoção, pensadas para frear os contágios, voltou a ser importante prestar atenção aos sinais de cansaço mental enviados pelo nosso corpo.
No início da pandemia, a Organização Mundial de Saúde (OMS) publicou recomendações sobre como lidar com aspectos que afetam a saúde mental neste período. Entre elas, há a recomendação de buscar apenas informações verdadeiramente úteis, pois assistir, ler ou ouvir em excesso notícias sobre a Covid-19 pode gerar um aumento da ansiedade. O ideal seria buscar informações que ajudem a proteger a nós mesmos e as pessoas que amamos.
Para analisar o atual momento que vivemos e dar sugestões sobre como prestar atenção à saúde mental nesse contexto de isolamento social, conversamos com Maria Elisa Moreira, professora da Pós-graduação em Gestão de Negócios e Pessoas e em cursos de Liderança no Insper.
Confira algumas práticas eficientes e que podem melhorar a nossa saúde mental!
Estresse
Assim como o vírus pode agir de diferentes formas nas pessoas que se infectam, as respostas emocionais também podem ser muito distintas, dependendo de diversos fatores. Fisicamente, alguns dos sintomas mais comuns do estresse são:
– Mudanças na qualidade do sono;
– Perda ou aumento do apetite;
– Problemas gastrointestinais;
– Sensação de esgotamento;
– Tensão e dor muscular;
– Sentimento de perseguição e isolamento;
– Desmotivação;
– Ansiedade;
– Apatia.
A pandemia mudou a rotina pessoal e profissional de milhões de pessoas. Para Maria Elisa, seja pelo home office, até então não praticado pela maioria dos profissionais, ou pelo medo de perder o emprego, a Covid-19 se tornou motivo de preocupação dentro e fora dos ambientes corporativos.
“Temos passado por altos e baixos emocionais que intensificam nosso estresse. O estresse é fundamental para nossa sobrevivência, mas é importante interpretar até onde vai esse sentimento. É normal sentir medo, raiva ou frustração, ainda mais em um momento como esse, mas devemos focar no aqui e no agora, entendendo que o contato social, mesmo que virtual, ajuda a trazer calma e serenidade”, analisa a professora.
Bem-estar
Para Maria Elisa, existem algumas formas de ajudar nosso corpo no combate aos impactos do estresse na saúde mental. “Além de ficar atento às sensações provocadas pelo estresse na nossa saúde, também é possível reforçar ações cotidianas que impulsionem o sentimento de bem-estar em nosso dia a dia”.
Entre as atividades, ela cita: praticar atividades físicas, o que gera impacto positivo sobre a nossa saúde e pode ser realizada mesmo dentro de casa, usando a criatividade; manter uma alimentação saudável, priorizando o equilíbrio alimentar, com opções como hortaliças, vegetais, grãos, leguminosas, carnes magras e bastante água, garantindo uma boa resposta imunológica e funcionamento corporal; cuidar da qualidade do sono, momento no qual muitos processos biológicos acontecem. “Por isso, é importante ter regularidade na hora de dormir e tornar a experiência o mais relaxante possível.”
Além disso, a professora também ressalta a importância de não se isolar socialmente, buscando formas de se relacionar à distância com pessoas queridas, e buscar momentos de contato com a natureza e ambientes tranquilos, sempre prezando pela segurança.
Motivação
Outro aspecto que Maria Elisa ressalta é a manutenção da motivação, algo que tem se tornado um desafio cada vez maior quando estamos cerceados pela pandemia do novo coronavírus. “Em um confinamento que, inicialmente, duraria algumas semanas, mas já dura um ano, temos feito algumas reflexões importantes no que se refere ao tema. Lideranças estão ficando bastante preocupadas em como motivar e engajar as pessoas nos ambientes virtuais de trabalho, e, mais do que isto, como mobilizar as pessoas a realizarem projetos de longo prazo, tendo tão presente as oscilações de informações sobre os protocolos de segurança de saúde e distanciamento social.”
De acordo com a professora, a pandemia, de certa forma, aumenta a sensação de perda de desempenho. Pesquisadoras e pesquisadores acompanhados por Maria Elisa vêm apontando para um cansaço muito grande por parte de profissionais dos mais variados segmentos, não somente o cansaço físico, mas também o mental. “O ser humano por si só consegue encontrar forças mesmo diante das adversidades, no entanto, a carga que está sendo exigida é muito grande”, ressalta. Para ela, a saída parece ser a busca pelo equilíbrio, procurando envolvimento em atividades que tragam satisfação e nas quais é possível colocar energia de forma voluntária e valorosa.
Organização
Para finalizar, a professora abordou um assunto que desestabiliza muitas pessoas no home office: a organização para realizar todas as tarefas. Essa, que já era uma questão antes da pandemia, se tornou um tema ainda mais frequente nestes novos tempos.
“Podemos dizer que o mínimo de organização pode salvar as pessoas. Quando nos encontramos em meio a tantas tarefas a serem feitas, papeis para organizar, roupas espalhadas, misturando vida privada com a profissional, nos deparamos com um grande desafio. Não dá para fazer tudo ao mesmo tempo e, nesse caso, organizar significa parar, pensar e fazer, criando uma sintonia entre o pensamento e a ação. Porém, não adianta criar uma agenda se as atividades não tiverem uma escala de prioridades”. Entre os principais pontos de atenção neste momento, Maria Elisa destaca a falta de planejamento, desorganização pessoal, dificuldade em tomar decisões, dificuldade em dizer “não”, falta de prioridades e dificuldade para delegar.