Em seminário que discutiu entraves ao crescimento do Brasil, o economista Ricardo Paes de Barros, do Insper, disse que a situação da produtividade do país é “dramaticamente preocupante”, caso os números sobre o desempenho nacional estiverem corretos.
No encontro que marcou o lançamento do centro de estudos FGV Crescimento & Desenvolvimento, no Rio, Paes de Barros lembrou que nos anos 80 a produtividade brasileira era a mesma que a da Coreia do Sul, que agora registra taxa três vezes maior.
O problema, afirma, é quando a China também passa a encostar no Brasil e não se pode justificar mais que “os coreanos são nerds, que não sabem viver”. “Quando os chineses nos passam é porque metade, ou quase um terço da sala, te passou, e não só os nerds. [O Brasil] vai ter um problema de inserção na economia mundial dramático, se um chinês produzir mais do que o brasileiro produz”, disse. Para o economista, a visão é mais “trágica” quando a comparação é com os países africanos, cuja produtividade tem crescido em média 2,5% ao ano, enquanto a do Brasil é pouco superior a 1%. “Só é maior que o Mali. Se você acreditar nesses números, vai chegar à conclusão que a situação do Brasil é dramaticamente preocupante.” Paes de Barros, no entanto, lançou dúvida sobre o cenário tão catastrófico, ao argumentar que ele é incompatível com a melhora espetacular de alguns indicadores econômicos e sociais, como o IDH, e o crescimento da renda per capita dos pobres (de 6,5%) e a dos ricos (2%), que geram uma média de 3,5% nacional, desde 2001.
“Parece que são dois países totalmente diferentes. Como se faz essa mágica social, sem aumentar a produtividade?” Para o economista, a explicação estaria na metodologia dos índices usados pelo IBGE, que levam a resultados que não convergem. “Ou nossa produtividade não cresceu tão lentamente, ou nossa pobreza não caiu tão substancialmente. E tudo depende de a gente entender qual o índice correto de poder de compra das famílias, IPCA e INPC, que andam juntos, ou o deflator implícito das contas nacionais. ” Presente no seminário, Arminio Fraga afirmou que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, “talvez não consiga ir muito longe” na tarefa de fazer o ajuste fiscal.
Fonte: Valor Econômico – 09/04/2015