25/04/2022
A tecnologia se tornou mais barata e acessível do que há quatro anos, mas o aumento de uso também exige atenção para suas consequências
Tiago Cordeiro
O mercado de inteligência artificial está mais concentrado, com um número menor de empresas recebendo um volume maior de investimentos para desenvolver soluções utilizando a tecnologia, que está mais barata e acessível do que nunca. Essa é a principal notícia do Stanford AI Report, um dos relatórios mais influentes da área, cuja versão 2022 foi publicada recentemente. Mas os autores do estudo chamam a atenção para uma consequência importante desse fenômeno: o aumento do uso da inteligência artificial fez disparar a preocupação com a ética aplicada a ferramentas que usam a tecnologia.
O número de modelos de linguagem que utilizam IA continua em franca ascensão, aponta o estudo. Ainda não alcançou a performance humana, mas está muito mais perto disso do que em 2019. Esse avanço carrega consigo uma dificuldade: o aumento de 29% na comunicação utilizando expressões tóxicas. A tecnologia está mais acessível, mas também mais enviesada.
“Nos últimos anos, sistemas utilizando IA começaram a ser aplicados a situações reais, e pesquisadores e usuários têm dado maior atenção aos danos que eles podem causar”, aponta o relatório. “Alguns desses danos incluem ferramentas comerciais de reconhecimento facial que discriminam com base na raça, sistemas de avaliação de currículo que demonstram preconceito de gênero e ferramentas de saúde, apoiadas em IA, que se mostram enviesadas seguindo critérios raciais e sociais.”
O professor André Filipe de Moraes Batista, coordenador técnico do Centro de Ciência de Dados do Insper, avalia: “A solução para evitar essas armadilhas é estabelecer o princípio de que é preciso explicitamente incluir a diversidade no processo de aprendizado de máquina, para que implicitamente não sejam geradas soluções de IA enviesadas”.
Neste contexto, o Insper, por meio do seu Centro de Ciência de Dados, estabeleceu sua política de governança e gestão de dados científicos, como mais um elemento norteador para as boas práticas de uso de dados. O documento é acessível publicamente neste link.
O Stanford Institute for Human-Centered Artificial Intelligence (HAI) produz o relatório desde 2017. O objetivo é coletar e organizar dados a respeito do uso da IA em diferentes frentes, incluindo universidades, empresas e organizações não governamentais, de forma a contribuir para que tomadores de decisão avancem na tecnologia, de forma ética e responsável. O estudo também atualiza informações sobre a legislação a respeito da tecnologia em 25 países diferentes.
O trabalho indica que os investimentos privados em AI, em 2021, alcançaram 93,5 bilhões de dólares, pouco mais do que o dobro dos 46 bilhões de dólares apurados no ano anterior. Os temas que mais recebem investimentos são, pela ordem, gestão de dados, processamento de dados e nuvem.
Por outro lado, o número de companhias financiadas seguiu uma tendência de queda, de 1.051, em 2019, para 762 em 2020 e 746 em 2021. Com mais dinheiro, destinado a um núero menor de empresas, em um ano o número de rodadas de investimentos com valores acima de 500 milhões de dólares saltou de 4 para 15.
Em reação, o volume de pesquisas sobre a transparência vem aumentando de forma expressiva: no último ano, cresceu 71% o total de pesquisadores que publicaram estudos sobre o tema com o apoio de grandes empresas do setor. Na mesma medida, aumenta o número de leis que buscam normatizar o uso da tecnologia: em 2016, apenas uma foi aprovada no mundo inteiro; em 2021, foram 18, com destaque para três diferentes textos legais aprovados por Espanha, Estados Unidos e Reino Unido.
Outra das preocupações do estudo é identificar as colaborações entre organizações de diferentes países. A China domina o cenário: as pesquisas em parceria com os Estados Unidos lideram o ranking global e cresceram cinco vezes de 2010 a 2021. Em segundo lugar vêm os trabalhos conjuntos entre chineses e britânicos.
Tamanho esforço vem mostrando resultados: o número de patentes utilizando AI cresceu mais de 30 vezes desde 2015. Desde 2018, o custo para treinar um algoritmo para classificar uma imagem caiu 64%, enquanto a velocidade para alcançar resultados satisfatórios aumentou em 94%, o que acelera a adoção da tecnologia. A disseminação do uso fica clara em outra frente: o preço médio de braços robóticos caiu 46% nos últimos cinco anos, de 42 mil dólares, em média, para 22.600 dólares.
O relatório também indicou que a busca por profissionais capazes de desenvolver ferramentas utilizando IA disparou. Os países com maior crescimento na procura são Nova Zelândia, Hong Kong, Irlanda, Luxemburgo e Suécia.
No Insper, a inteligência artificial faz parte da trilha de aprendizado dos cursos de graduação e especialização, das mais variadas áreas — afinal, a tecnologia está presente na formação de advogados, comunicadores, administradores e engenheiros, além dos cursos da área de tecnologia, incluindo a graduação em Ciência da Computação, além da pós-graduação em Data Science e Decisão, existente na escola desde 2019.