25/05/2022
Os professores Fernando Schüler e Leandro Consentino destacam a importância de desenvolver a argumentação escrita dos alunos
Leandro Steiw
A primeira edição do Prêmio Pensamento Crítico de 2022 distinguiu quatro textos sobre liberdade de expressão, escritos por alunos da disciplina Pensamento Crítico e Ética, ministrada pelos professores Fernando Schüler e Leandro Consentino. Graduandos dos cursos de Economia e Administração do Insper, Mariana Damacena Ferreira Engel, Enzo Ambrozano, Felipe Perez Silvestre Puerta e Maria Fernanda Du Mont Lacombe foram premiados em suas respectivas turmas com a análise do filme O Povo contra Larry Flint, do diretor tcheco Milos Forman.
O desafio consistia em articular o tema a partir de um texto clássico do filósofo e economista britânico John Stuart Mill (1806-1873), que defende a liberdade de expressão. A tarefa foi precedida por um debate com a participação do advogado Marco Antonio Sabino, doutor em Direito Processual pela Universidade de São Paulo. “Obviamente, é um texto complexo, e isto também faz parte do desafio: ler um texto complexo e sistematizar adequadamente os argumentos, que podem ser refutados ou não pelos alunos”, explica Fernando Schüler.
Conforme Leandro Consentino, entrar em contato com materiais e métodos diferentes permite aos alunos desenvolver três competências fundamentais: o pensamento crítico, a visão sistêmica e a comunicação e expressão escritas. “Reproduzimos o velho adágio de que ‘aquele que lê bem escreve bem’”, afirma Consentino.
A seguir, os professores falam sobre a experiência e os resultados do primeiro prêmio deste semestre. Leia também, na íntegra, os quatro textos vencedores do Prêmio Pensamento Crítico.
Qual é a importância de estimular o pensamento crítico por meio da escrita, tomando como referência livros, filmes e documentários?
Fernando Schüler – O foco é a análise de temas aplicados em ética. Temas com alta complexidade, que não apresentam soluções unívocas. Isto exige que o aluno pondere argumentos, a favor e contra distintas posições, e seja capaz de pensar para além de suas próprias predileções ou hipóteses previamente formuladas. É disso que trata, em síntese, o pensamento crítico.
Leandro Consentino – O estímulo aos alunos nesse caso é fundamental. Ir além da mera aula expositiva e permitir que os alunos — futuros administradores e economistas de liderança em suas áreas — entrem em contato com materiais e métodos diferentes permitem que eles desenvolvam três competências fundamentais: o pensamento crítico, que permite a reflexão aprofundada de conceitos e temas da disciplina; a visão sistêmica, que compreende a intertextualidade e as relações dos temas com a realidade atual; e a comunicação e expressão escritas, reproduzindo o velho adágio de que “aquele que lê bem escreve bem”.
Poderiam explicar a escolha do tema deste semestre, o filme “O Povo contra Larry Flint”?
Consentino – O tema do Prêmio Pensamento Crítico I deste semestre está conectado com a discussão acerca da liberdade de expressão, bastante presente em nossa sociedade atual. Nesse sentido, o trabalho proposto consistia em articular este tema a partir de um texto clássico de John Stuart Mill com o filme O Povo contra Larry Flint.
O filme versa sobre um editor de publicações controversas nos Estados Unidos e o debate nos tribunais acerca da permissão ou proibição de que suas revistas continuassem a ser comercializadas, ainda na segunda metade do século 20. A decisão da Suprema Corte sobre o caso foi paradigmática e estabeleceu parte da jurisprudência naquele país sobre o tema.
O filme foi apresentado e o tema debatido em aula antes de os alunos apresentarem o texto?
Consentino – O primeiro passo consiste em propor o tema para os alunos e gerar o debate sobre o assunto. Em seguida, promovemos um debate com um convidado externo entre as quatro turmas da disciplina e, nesse caso, contamos com a presença de Marco Antonio Sabino, que tem doutorado e vasta experiência na área.
Findo o debate com os alunos, a ideia é que eles assistam ao filme e leiam a obra Da Liberdade, de Stuart Mill, a fim de construírem, cada um, o seu próprio texto, com a orientação dos professores e dos monitores da disciplina. Por fim, a etapa final consiste em escolher os melhores e reconhecer o mérito dos alunos em sala de aula, sendo o prêmio maior a publicação pelo portal do Insper, a qual os alunos valorizam bastante.
Schüler – Trata-se de um texto clássico de argumentação em favor da liberdade de expressão. Ele serviu como referência para a interpretação formulada pela Suprema Corte americana para a Primeira Emenda. Obviamente, é um texto complexo, e isto também faz parte do desafio: ler um texto complexo e sistematizar adequadamente os argumentos, que podem ser refutados ou não pelos alunos.
Poderia comentar os resultados obtidos nesta tarefa da disciplina?
Schüler – O resultado esperado, em primeiro lugar, é que cada aluno formule um texto coerente, com boa argumentação, mostrando que compreendeu os argumentos de Mill e soube aplicar no caso real relatado no filme sobre Larry Flint. Os alunos têm a mais completa liberdade para concordar ou discordar de Mill, e interpretar do modo como quiserem o episódio descrito no filme. Diria que o resultado mais palpável é a conclusão de que a liberdade de expressão não demanda apenas instituições que protejam o direito de fala das pessoas, mas uma cultura de respeito à diferença e ao valor do pluralismo.
Turma A
Mariana Damacena Ferreira Engel
Liberdade de expressão e pluralidade de ideias
Turma B
Enzo Ambrozano
Turma C
Felipe Perez Silvestre Puerta
A liberdade de expressão tem limites?
Turma D
Maria Fernanda Du Mont Lacombe
Existe limite para a liberdade de expressão?