Apesar de manter a capacidade de crescimento superior à média do varejo, absorvendo parte do movimento das lojas de rua, o maior desânimo econômico e o aumento do custo do dinheiro no país trazem um novo cenário para os shopping centers, afastando os índices de expansão acelerados registrados nos últimos anos.
Para Marcos Romiti, presidente da Nassau Empreendimentos, a situação nebulosa do país se reflete em acomodação no consumo, com crescimento vegetativo comprometido e aumento do endividamento das famílias, levando a indústria a protelar os investimentos. Os juros são outro fator de inibição. “Novos projetos serão mais analisados que antes e o que está em andamento continua no forno”, avalia. “Com o risco maior, a taxa de retorno ficou mais alta.”
A boa notícia é que o segmento mantém o potencial de venda maior que o varejo em geral. Com participação em torno de 20%, a migração da rua para o mall deve se manter com apoio de diversificação, serviços, que hoje vão de Poupatempos a clínicas, e lazer, com crescimento de cinemas, boliches e games.
“Fatores como segurança, comodidade e estacionamento continuam favorecendo os shoppings frente ao varejo tradicional e de rua”, avalia Luiz Maurício Garcia, analista do Bradesco, que aponta como atrativo a ampliação do casual dinning, onde há poucos anos só havia fast food, a diversidade de opções de entretenimento e a chegada de grandes marcas internacionais.
“A venda em shopping prospera, mas não se pode imaginar que a performance fique descolada da economia”, acrescenta a analista do Credit Suisse, Nicole Hirakawa. “O que mitigaria o impacto é o componente de lazer, a característica que diferencia os shoppings no Brasil e mantém o fluxo em alta.” Para ele, embora a desaceleração seja inevitável, a magnitude ainda não é clara e deve ser amenizada pela melhoria do mix.
Para o professor especialista em varejo do Insper, Silvio Laban, depois do crescimento acelerado e da guinada para regiões com menor adensamento populacional, a tendência é de os consumidores usarem o 13º salário para pagar as dívidas.
Também deverão optar por produtos mais baratos, o que pode gerar alguma queda nas vendas de fim do ano em relação aos anos anteriores, embora com tendência de manutenção no tráfego dos malls. Além disso, para 2015, o cenário marcado por inflação mais alta, instabilidade cambial pode colaborar para diminuir o ânimo das pessoas e afetar o consumo. “Está difícil encontrar um indicador promissor“, avalia.
Laban diz que a tônica do próximo ano deve ser a de colocar ordem na casa e ver o que o crescimento ajudou a esconder. Isso inclui melhor gestão dos ativos, com identificação de aspectos efetivos de diferenciação e refinamento de indicadores como tráfego, alocação de mão de obra e portfólio de lojas, o que pode trazer nova luz a movimentos como a regionalização.
O bom desempenho no Nordeste pode ser atribuído aos programas sociais e isso, na opinião do professor do Insper, tende a arrefecer. “Quando tem demanda crescente é uma maravilha, mas quando cai é mais complicado.”
As empresas abertas do setor destacam o cenário desafiador, mas mantêm visão otimista. “Mantemos expectativa de crescimento anual de 15% a 20% para os próximos três anos, buscando novas oportunidades de crescimento”, afirmou o CEO da Sonae Sierra, José Baeta Tomás. “O ambiente é desafiador, mas o potencial de crescimento e preenchimento de vacância com aluguel mais elevado”, registrou Henrique Cordeiro Guerra, diretor executivo da Aliansce.
Carlos Jereissati, CEO do Iguatemi, também ressalta o perfil das operações. Segundo ele, valeu a pena investir em operações diferenciadas como joalherias e luxo, além de novas cadeias, que se destacam na medida do alargamento da base de consumo. A expectativa, diz, é que continue nos próximos trimestres. Mesmo assim, ficou para trás a pujança de anos passados, destaca a vice-presidente financeira Cristina Betts.
Para Carlos Medeiros, CEO da BR Malls, depois da desaceleração no terceiro trimestre os números devem voltar para a média registrada nos primeiros meses do ano. Para ele, a desaceleração ocorre há cerca de dois anos, mas ainda não está claro quanto os segmentos de renda mais alta foram afetados. “Por enquanto, a situação é de pleno emprego.”
José Isaac Peres, presidente da Multiplan, lembra que o crescimento de vendas de 12,5% até setembro, quando o varejo teve alta de 3,7%, mostra que as decisões tomadas pela empresa foram corretos, ao investir na ampliação do lazer e em ativos como torres de escritórios no entorno dos shoppings, ampliando seu potencial. “Do ponto de vista econômico o futuro do país é brilhante, afirmou. “Temos inflação alta, porém controlada. Temos projetos importantes. Sou otimista em relação ao futuro.”
Fonte: Valor Econômico – 27/11/2014.