Dois grupos de executivos, em lados opostos, ficam debruçados sobre um tabuleiro. Não é uma brincadeira, mas uma aula de empreendedorismo na Saint Paul Escola de Negócios, em São Paulo. Vence quem faz uma companhia fictícia lucrar mais.
Simular o dia a dia das empresas é apenas uma das estratégias das escolas para formar novos empresários. Eles têm sido desafiados a roteirizar um negócio, criar start-ups e sair a campo para analisar a concorrência.
“A pergunta que um estudante precisa fazer é: o que as pessoas vão precisar amanhã?”, diz André Nardy, coordenador da Saint Paul.
“O empreendedor é um futurólogo que é ensinado a radiografar cenários para pescar oportunidades”, diz Alessandro Saade, da BSP (Business School São Paulo).
Foi de olho no futuro que o engenheiro eletricista Luiz Tangari, 40, cursou uma especialização em desenvolvimento empresarial e achou no agronegócio um nicho.
Ele criou um software que diminui o uso de agrotóxicos nas lavouras. “Minha start-up já tem 140 clientes e faturou R$ 3,5 milhões em 2015.”
O cientista da computação Walter Aranda Júnior, 27, procurou no curso uma outra solução. Epilético desde os 15 anos, criou um dispositivo que, conectado à cabeça, pode prever uma convulsão. “No ano passado, tive uma crise forte que me deixou imóvel. Depois disso, decidi que deveria agir.”
Aranda desenvolveu a ferramenta nas aulas do MBA em arquitetura de soluções, na Fiap (Faculdade de Informática e Administração Paulista). E só saiu de lá após montar uma start-up –tarefa que contou como trabalho de conclusão de curso.
A tecnologia foi apresentada ao Hospital Israelita Albert Einstein e aguarda recursos para ser aperfeiçoada.
Além de Aranda, quem se formou na Fiap receberá assessoria da faculdade para captar recursos e fugir de uma estatística que ronda o setor: cerca de 25% das start-ups “morrem” em menos de um ano, segundo estudo da Fundação Dom Cabral.
“Na fase da captação, o empreendedor não pode desanimar. Uma ideia convence o mercado quando tem grande aplicabilidade”, diz o executivo Antônio Melilo.
ADAPTAÇÕES
“A solução para em pé”? É exequível? Foi confrontada?” Essas são as questões que todo estudante precisa se fazer, segundo Sílvio Laban, gestor de MBAs do Insper.
Natália Mazur, 29, testou seu experimento, viu que não era estratégico e mudou de rumo no meio do MBA em novos negócios, da BSP.
Em vez de doces, ela optou por produzir biscoitos. Nasceu a Biscoiteca. “Você não pode esperar de um MBA a fórmula pronta. Lá você é levado a se adaptar”, diz.
Para Bruno Rondani, coordenador do Wenovate, grupo que liga empreendedores a investidores, se a ideia “for única demais, não faz parte do entendimento das pessoas, não vinga”. “É uma corrida. Tem muita gente trabalhando na mesma coisa.”
Carlos Arruda, coordenador da Fundação Dom Cabral, ensina um atalho. “Quanto maior o problema, maior a chance de ganhar com uma nova ideia”, afirma.
Fonte: Folha Online – 31/01/2016