Seminário do Núcleo Ciência pela Gestão Educacional — parceria entre o Insper e o Instituto Unibanco — discutiu os instrumentos de avaliação da gestão escolar na educação pública
Tiago Cordeiro
Em média, as nações integrantes da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o clube dos países ricos, investem 4,4% do PIB em educação. O Brasil sustenta um percentual maior: 5,6%. Ainda assim, ficou em 54º lugar no Pisa, a principal avaliação internacional de desempenho escolar, e ainda tem 6,8% da população acima de 15 anos analfabeta — a média mundial é de 2,6%.
A gestão pode contribuir para mudar esse cenário? Uma das principais conclusões do 1º seminário Instrumentos para Avaliação e Monitoramento da Gestão Educacional, realizado pelo Núcleo Ciência pela Gestão Educacional (NCGE), é que sim. Como explicou, durante o evento, o pesquisador Ricardo Paes de Barros, há indicadores que apontam que o desempenho do diretor da escola tem impacto direto sobre os alunos. “Um mau diretor faz o aluno perder desempenho. Um bom diretor faz o aluno ganhar”, afirmou. “O professor tem impacto duas vezes maior, mas o diretor atinge todos os estudantes de uma escola inteira.”
Ao levar os 10% diretores de pior desempenho para a média nacional, prosseguiu o pesquisador, o impacto na renda dos estudantes, até o fim da vida, é estimado em 70 bilhões de reais. “Ou seja, melhorar a gestão vale a pena.”
Durante dois dias, 7 e 8 de junho, os participantes do seminário debateram formas de identificar boas práticas de gestão e de liderança escolar. E apresentaram, em detalhes, quatro instrumentos de avaliação e de monitoramento da gestão educacional em escolas públicas.
Afinal, para melhorar o desempenho dos gestores, é preciso primeiro avaliá-los de maneira consistente — uma tarefa nada trivial, quando se considera as diversas dimensões que compõem a gestão educacional, e as especificidades da situação da educação em cada local. Segundo o Censo Escolar, o país tem 178,4 mil escolas de educação básica, frequentadas por 26,5 milhões de alunos.
Práticas aplicáveis
O Instituto Unibanco, com quem o Insper mantém o NCGE, apoia o desenvolvimento de dois dos quatro instrumentos de avaliação e monitoramento da gestão e da liderança escolar apresentados durante o evento por pesquisadores. O Itaú Social apresentou o desenvolvimento de outro instrumento voltado para as redes municipais, e a Fundação Cesgranrio apresentou um instrumento desenvolvido e utilizado no início dos anos 2000. Cada uma das metodologias foi apresentada, em seus objetivos, suas métricas e suas aplicações práticas, de forma que as experiências pudessem ser comparadas.
“O evento colocou à disposição dos gestores públicos diferentes formas e metodologias de mensurar a gestão educacional”, disse Laura Abreu, mestranda em Políticas Públicas no Insper e integrante da equipe de pesquisa do Centro de Gestão e Políticas Públicas do Insper, atuando no NCGE, no Centro de Evidências do Ensino Integral (CEEI) e no Núcleo Pop.Rua (Laboratório Arq.Futuro).
“O foco deve ser no direito à qualidade da educação, e não apenas à educação”, afirmou Alexsandro Santos, professor no mestrado e doutorado em Educação da Unicid. “Todos e cada um dos alunos têm direito a receber um pacote mínimo de direitos. Para isso, é estratégico construir um racional para que as secretarias de educação tenham a capacidade de desenvolver gestores.”
Experiência do Chile
Quando se trata de medir resultados em gestão educacional, e seus impactos sobre os alunos, o Chile é referência, desde que lançou, em 2017, o Marco para a Gestão e Liderança Educacional. Paula Louzano, diretora da Faculdade de Educação da Universidade Diego Portales, com graduação pela Universidade de São Paulo, mestrado em Educação Internacional Comparada pela Universidade Stanford e doutorado em Política Educacional pela Universidade Havard (2007), apresentou a experiência do país vizinho.
“A gestão pedagógica é onde está o maior nó, quando o assunto é a capacidade de monitorar e controlar a capacidade de aprendizagem dos alunos”, ela relatou, para lembrar que não basta desenvolver um marco, sem oferecer formação. “Quantos cursos de gestores educacionais existem no país? São suficientes? Esses profissionais precisam de suporte das instituições, incluindo as secretarias de ensino. Há também muito a aprender com boas experiências internacionais”, afirmou.
Para Esmeralda Correa, do Itaú Social, com frequência os gestores pedem por referenciais para evoluir em seu trabalho. “Eles sentem falta de um canal de diálogo para aprimorar suas práticas. Com multidisciplinaridade e diálogo, é possível apresentar referências para esses profissionais, tão importantes para o desempenho dos alunos.”