23/05/2014
A disparada dos juros não diminuiu o sonho da casa própria para a maioria dos brasileiros que deseja fugir do aluguel. Apesar de os preços estarem se acomodando, é preciso ficar atento às taxas cobradas. Elas estão em alta e variam muito de um banco para outro. A Caixa Econômica Federal costuma ser a mais competitiva dado o tamanho de sua carteira: R$ 300 bilhões, fechando cerca de 5 mil contratos de financiamento por dia.
O diretor de habitação da Caixa, Teotonio Rezende, explica que, pelo Sistema Financeiro Habitacional (SFH), para valores até R$ 750 mil, a menor taxa efetiva é de 8% e a maior, de 9,15%, sem contar os custos administrativos e o seguro, que aumentam o percentual do custo efetivo total. Acima desse valor, os juros nominais variam entre 8,8% e 9,2%. Para os que se enquadram no programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV), a taxa é de 4,5% a 8,16%.
“O custo efetivo varia de acordo com o perfil do cliente”, diz Rezende. Neste fim de semana, a instituição realiza o 10º Feirão da Casa Própria, em Brasília. No primeiro dia do evento, na última sexta-feira, o público chegou a 8,5 mil pessoas, e o volume de negócios foi de R$ 149 milhões.
Alguns bancos têm conseguido ficar bem próximos dos juros da Caixa, oferecendo taxas de avaliação, de administração e seguros mais baratos. Para isso, é preciso ter um relacionamento com a instituição e negociar com o gerente. “O banco analisa o perfil do correntista. Se ele tem um relacionamento antigo com a instituição, é possível dar atendimento diferenciado”, explica o diretor de Crédito Imobiliário do Bradesco, Cláudio Borges.
“As taxas de financiamento imobiliário estão padronizadas. Vários bancos estão mais agressivos e querem ampliar suas carteiras de crédito”, comenta o professor de Finanças do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper) Ricardo Rocha. Ele acredita que essa concorrência poderá aumentar com as novas regras para a portabilidade de crédito. “Quem tiver crédito contratado acima de 10% vai conseguir negociar uma taxa melhor”, avalia.
Oscilações
Rocha aconselha ao consumidor a ficar de olho em todas as taxas e, principalmente, comparar o valor das parcelas. “Cada banco tem uma regra, mas sempre que fizer uma simulação, fique de olho no custo efetivo total e não apenas nos juros nominais”, orienta ele, lembrando que as taxas do banco e o seguro pesam no custo total. Elas variam muito e, dependendo da idade do cliente, a diferença é grande.
“É preciso tomar cuidado. Em alguns simuladores de banco, a TR (Taxa Referencial) é igual a zero, mas nos contratos são os juros mais a TR. É preciso ficar atento. A taxa pode mudar a longo prazo se a inflação continuar subindo e chegar, por exemplo, a 13% ou a 14% ao ano. Isso afetará a amortização do saldo devedor”, alerta. “Para evitar esse risco, é bom financiar em 15 anos, no máximo”, completa.
Os especialistas concordam que não existe um momento certo para a compra do imóvel. Cada caso tem sua particularidade. O consultor imobiliário da DXI Consultoria Vinícius Taveira Ribeiro avalia que o mercado imobiliário não está tão aquecido quanto no passado, mas o consumidor ainda pode fazer um bom negócio porque os preços de alguns imóveis, sobretudo os novos, estão em queda e a taxa de financiamento ainda está abaixo da Selic.
“Quem está decido a comprar vai comprar. Mas é preciso fazer o movimento acertivo, pesquisar e buscar aquilo de que precisa”, aconselha Borges, do Bradesco. “O importante é olhar se a prestação cabe no bolso”, diz ele, lembrando que a liberação do crédito pode ser rápida, mas isso depende da documentação. “Antes de assinar um contrato, é importante se certificar se tudo está correto e se os documentos do vendedor estão todos em ordem. Isso é fundamental”, conta.
Para Rocha, do Insper, o melhor momento para comprar o imóvel é sempre o da necessidade. “O aluguel hoje em dia está muito caro. E trocar isso por uma prestação de um imóvel não deixa de ser um bom investimento”, diz ele acrescentando que o mercado de crédito precisa evoluir muito. “As taxas podem ser melhoradas, sobretudo, se o cliente é bom pagador. Espero que o cadastro positivo melhore isso. O bom pagador não pode ter a mesma taxa que o mau”, defende.
Fator renda
Na hora de comprar um imóvel, independentemente do banco, o mais importante é saber se a prestação do imóvel não vai comprometer a renda da família. “Quando analisamos um financiamento, ele não é liberado se a parcela compromete mais de 30% da renda familiar. Portanto, o consumidor precisa ficar atento e destinar de 20% a 25% da sua renda para a prestação da casa própria”, orienta Teotonio Rezende, da Caixa.
Nesse sentido, o professor de educação física Ricardo Vilela Morais, 38 anos, e a esposa, a advogada Livia Ferreira Vilela, 32, seguem à risca essa dica. As parcelas da casa que compraram em 2012 e dos dois carros da família não ultrapassam 30% da renda. Quem cuida das finanças é Lívia, que controla as contas com mão de ferro, segundo o marido. “Ela não deixa entrarmos no cheque especial nem no financiamento do cartão de crédito”, diz.
O professor de educação física conta que ainda era solteiro quando se cadastrou no programa MCMV e foi contemplado com um imóvel no bairro Jardins Mangueiral, em São Sebastião. “Esperei três anos até ser chamado. Nem estávamos namorando e minha renda era menor”, diz ele, que assinou o contrato com a Caixa em maio de 2012. O casamento ocorreu em setembro daquele ano. “Quando mudamos, a casa estava do jeito que sonhamos”, diz ele, que paga prestação de R$ 1.190 no financiamento de 300 meses com juros totais de 9% ao ano.
Fonte: Correio Braziliense – DF – 18/05/2014