No comércio, um dos argumentos de venda mais tentadores pode acabar frustrando os consumidores.
Na vitrine, está a promessa: compras em até seis vezes sem juros. Mas será que é isso mesmo? O preço não muda dependendo de como for pago?
Na prática, muda sim. Vamos a um exemplo: um sofá está à venda em uma tradicional loja de móveis em São Paulo. Se o cliente pagar à vista, vai ser um preço; se parcelar, será outro.
“Se passou de três vezes, eu já tenho que passar para alguma instituição financeira. Eu sou obrigada a colocar os encargos em cima da venda”, diz a gerente Elaine Crespi.
É assim: no crédito, serão dez parcelas de R$ 286, no total de R$ 2.868 reais. À vista, a gerente dá um desconto de 18%, chegando a R$ 2.350. A diferença entre os valores é o custo dos juros, que vai ser de 3,8% ao mês.
“Isso representa mais que três vezes a poupança e mais que duas vezes a taxa básica da economia. Então, uma taxa considerável de ganho para as financeiras”, diz Michael Viriato Araújo, professor do Insper. “Não existe milagre. Ninguém dá dinheiro a ninguém sem cobrar nada em troca. O que é importante é descobrir o quanto ela cobra e negociar isso com um desconto para você”, explica.
Nas duas horas em que a reportagem do Jornal Nacional ficou na loja, apareceram três pessoas para entregar o currículo, procurando emprego como vendedora, e um casal para comprar móveis. É reflexo da crise que por um lado tem maltratado o trabalhador, mas por outro tem ajudado o consumidor na hora de negociar.
Para quem tem dinheiro para pagar à vista, é um momento confortável para negociar.
A empresária Terezinha de Jesus não se conforma com a proposta da vendedora e aí aparece a gerente para negociar. No fim da negociação, o sofá saiu com 18% de desconto – bem mais do que os 10%.
“É da natureza do comércio negociar, pechinchar. Quem não chora não mama”, diz Terezinha.
Fonte: Portal G1 – 07/03/2016