A morte precoce de Eduardo Campos não deixou órfãos apenas os cinco filhos do ex-candidato do PSB ao Palácio do Planalto. A queda do avião em Santos representa um baque no discurso de renovação da política brasileira, priva o PSB do seu principal nome — responsável pela coesão e pela ascensão política do partido no cenário nacional —, e deixa um vácuo de liderança política em Pernambuco, o sétimo maior colégio eleitoral do País, com cerca de 6,5 milhões de eleitores.
Paradoxalmente, o mesmo personagem político que encarnava, no imaginário popular, a representação concreta de uma nova forma de fazer política, acabou atuando de maneira centralizadora em sua trajetória, reforçando o sentimento de orfandade que agora domina as pessoas próximas a ele.
“Exceção feita aos dois ex-presidentes Lula e FHC, nenhum político atual tinha uma capacidade de prever situações, montar cenários e articular ideias e propostas como Eduardo”, compara Carlos Mello, cientista político e professor do Insper.
Ao longo da atual campanha, Eduardo criticava arduamente a atual gestão da presidente Dilma Rousseff, mas fazia questão de pontuar os avanços alcançados pelo País nos governos Lula e Fernando Henrique Cardoso.
“Ele era um líder extremamente inteligente, com uma visão de Brasil e com a capacidade de ressaltar tudo de bom que aconteceu no Brasil nesses últimos 20 anos”, declarou o senador e candidato ao governo do Distrito Federal pelo PSB, Rodrigo Rollemberg.
Rollemberg destacou que, no atual front em que a batalha política se desenvolve, são raros os personagens que focam a disputa apenas no campo das ideias, sem resvalar para as questões pessoais.
Essa qualidade de Eduardo também já tinha sido destacada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que ressaltou a ausência que o socialista fará ao debate. Eduardo também fará falta ao PSB, que perde seu maior expoente. “Ele era uma liderança nata, que aglutinou o partido”, disse Rollemberg. “Não temos alguém, em nossos quadros, com a capacidade de liderança, de definição de rumos e diretrizes como ele”, elogiou, emocionado, o deputado Júlio Delgado (PSBMG). Como presidente do partido, Eduardo conduziu com maestria — em vários momentos, com mão de ferro — os caminhos percorridos pela legenda que herdou do avô, Miguel Arraes. PÓLO OPOSTO Em 2010, quando Ciro Gomes queria ser candidato ao Planalto, Campos consultou as bases e induziu o partido a manter o apoio à eleição de Dilma Rousseff. Quatro anos depois, mais uma vez, colocou- se em polo oposto ao dos irmãos Gomes ao pavimentar a própria candidatura ao Planalto, enquanto os políticos cearenses queriam permanecer ao lado da petista.
Mais uma vez, venceu a batalha, com o apoio do partido que dominava. “Nem Arraes conseguiu fazer no PSB o que Eduardo Campos fez. Ele foi eleito presidente do partido com mais de 90% dos votos dos convencionais”, disse, certa vez, um dos mais próximos assessores dele. Pernambuco segue perplexo, sem acreditar que o “indestrutível Eduardo” está fora de cena. Eleito e reeleito governador com mais de 80% dos votos, três vezes escolhido como o administrador estadual mais bem avaliado do País, Eduardo Campos elegeu um secretário como prefeito do Recife (Geraldo Júlio) e consolidou outro — Paulo Câmara — com seu sucessor no estado.
“O vazio é muito grande. Estamos atordoados para saber como vai ser preenchido. A gente não sabe quantos anos vamos ter que esperar para Pernambuco ter um líder da dimensão, da disciplina e da vontade de Eduardo”, resumiu o ex-secretário e líder do governo na Assembleia Legislativa de Pernambuco, Valdemar Borges.
Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, Marcos Loreto lembra que Pernambuco tinha dois ex-governadores fortes — Jarbas Vasconcelos (PMDB) e Mendonça Filho (DEM) — e que, hoje, todos estavam ao lado do socialista.
“Na geração de até 50 anos, é difícil encontrar alguém como ele. Ele tinha uma convicção muito forte de que seria presidente da República. A convicção era tão grande que a gente acabava achando que ele ganharia no primeiro turno. Não era questão midiática. Ele realmente acreditava nele”, resumiu Loreto.
Fonte: Jornal do Commercio – 15/08/2014