11/10/2013
Parceria entre Campos e Marina pode romper a paralisação eleitoral entre PT e PSDB, afirmou Carlos Melo do Insper
Nesta terça-feira, Carlos Alberto de Melo, cientista político do Insper, participou como Special Guest no chat do Trading Brazil comentando as últimas movimentações da cena política e avaliou que o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, aparece como provável candidato a presidente na aliança com a ex-senadora Marina Silva. Para ele, a parceria que trouxe a ex-senadora para o PSB, pode romper a paralisação eleitoral entre PT e PSDB.
Melo também analisou as recentes trocas de partido com a mudança de parlamentares principalmente para os recém-criados Pros e Solidariedade. O especialista avalia que embora o Solidariedade caminhe para a oposição, o cenário parlamentar deve se manter parecido, com o PMDB seguindo como fiel da balança.
Confira a entrevista que durou cerca de 1h:
TRADING BRAZIL: Agora que Marina não conseguiu ter sua própria legenda e passou a apoiar o Eduardo Campos, acha que seria mais vantajoso como candidatura da oposição: Campos presidente com Marina vice ou Marina presidente com Campos vice?
CARLOS ALBERTO DE MELO: Acho que a questão, por ora, está colocada: Campos candidato e Marina com possibilidade de ser vice. Acho que Marina tem melhor “largada”, mas desconfio que na “chegada” Campos possa ter mais fôlego.
TB: Entendo… E isso acabou sendo uma surpresa para os cenários que se esperava com Marina independente?
CM: Não há “candidatura independente”, no Brasil. Ou ela sairia pela Rede, ou teria que buscar um partido de aluguel. Pagaria um preço por isso. A surpresa foi o certo desprendimento. O que não deveria ser surpresa. Mas, na política que se faz no Brasil de hoje, tem sido.
TB: Como o Sr. avalia o futuro do PSDB? Vai de Serra ou Aécio?
TB: O PSDB está dividido? Quando veremos uma oposição fortalecida, com bons argumentos? Há chances de o PSDB não ir ao segundo turno?
CM: O PSDB está dividido há algum tempo. Inclua aí também o governador Alckmin… As chances do PSDB ainda existem, é claro. Mas, a entrada fortalecida de Campos (com Marina), torna o caminho dos tucanos mais complicado.
TB: Boa tarde, se confirmado Campos como presidente e Marina vice, o senhor acredita em um possível apoio do PSDB, em caso de segundo turno?
CM: Acho que se Campos-Marina forem ao segundo turno, o eleitor do PSDB vota em bloco e a direção vai atrás. O contrário já não seria tão simples.
TB: O senhor acha que muda alguma no cenário do Congresso nacional com as filiações partidárias recentes, especialmente para Pros e Solidariedade, e quem fica em pior situação com a aliança Campos-Marina, Dilma ou Aécio?
CM: Acho que neste momento, muda pouco no Congresso. Dilma, depois de certo sufoco, se acertou com o PMDB e está, neste momento, protegida. Pelo menos enquanto o PMDB permitir.
TB: Se PSDB não for para o segundo turno, teremos uma disputa entre nomes que fizeram parte do ministério do PT. Você acha que o PSDB pode sair menor do que entrou na disputa e perder espaço como grande contraponto ao PT?
CM: Sérgio, se o PSDB não for para o segundo turno, sai sim, menor. E a polaridade de anos PT X PSDB fica superada. Faz parte… Outros aparecerão como contraponto ao PT. Não há vácuo.
TB: Há chances do PMDB mudar e seguir com Campos e Marina? O PT já está se movimentando preocupado com essa dupla?
CM: Com o PMDB tudo é possível. As pesquisas dirão. O mais provável é que uma parte vá, como tem sido de hábito no PMDB e outra parte fique. Dois pés, duas canoas…
TB: Como o Sr. vê o PT se organizando ou reorganizando após a chapa Marina Campos?
CM: O PT está sim, preocupado, e errado estaria se não estivesse… Não será tão fácil usar o “nós” contra “eles”. Exigirá um novo discurso. No segundo turno, sim. Mas, primeiro, precisa ter eleição, gente. A água ainda vai correr. Estamos há um ano do pleito e, na política, isso é quase uma eternidade. Então vamos acompanhar. Ainda teremos muito que conversar, meu caro.
TB: Como fica o Aécio e o FHC nessa história? Eles parecem ter “perdido a viagem”. Tem chance de vermos o FHC apoiando o Campos abertamente no segundo turno?
CM: Quando disse “no segundo turno, sim”, me referia a um possível apoio de FHC a Campos… Acho que não ficou claro.
TB: Qual é a sua leitura sobre a atuação de grupos mais violentos como o Black Blocks? CM: Acho que esses grupos estão marcando gols contra. Ok, algum barulho; protesto. Mas, passar do ponto, em política, é sempre atirar no pé.
TB: Mas parece que passar do ponto é exatamente a intenção desses grupos – pois sua atuação esvazia as manifestações legitimamente populares.
CM: Pois, então, você intui que sejam “orquestrados”? Não saberia dizer. Creio que há descontentamento legítimo e há também uma grande dose de irracionalidade. Mas, claro, estou velho para descartar esse tipo de possibilidade, embora faltem-me elementos , às vezes, a postura da Polícia seja realmente muito estranha.
TB: Falava-se muito que a Marina e o Campos não tinham apoio em palanques regionais. Como você acha que eles poderão resolver esse problema? Fala-se de um apoio do PSDB no segundo turno, você acha que poderia haver alguma ajuda para os canais regionais?
CM: Apoio regional é sempre importante. Mas, Campos só é uma coisa, com Marina é outra. Ademais, a conjuntura ainda vai transcorrer. Não saberemos o que pode acontecer na economia, qual o desgaste do governo. O poder de atração da dupla Campos-Marina, a capacidade de reação do ex-presidente Lula. São variáveis para se acompanhar.
TB: O que pode-se esperar de propostas colocadas pela oposição? Acha que os protestos ainda terão efeito na campanha?
CM: Protestos sempre podem ter efeito. Mas, depende do seu apelo, do timing. Os de Junho já foram. Mas, não sabemos como será na Copa do Mundo. Não sabemos como pode ficar a conjuntura, por definição, volátil.
TB: Certo… E acredita que se necessário, o PT colocaria Dilma com Lula vice?
CM: Dilma vice de Lula? Não. Não creio. Seria assumir um erro e acabar com a credibilidade da escolha de Lula, em 2010.
TB: na verdade seria o contrário… Dilma presidente e Lula vice, mas acho que já respondeu da mesma forma…
CM: Lula vice emprestaria apoio mais explícito a Dilma. Mas, não vejo como fazer isto e como contentar o PMDB, nesse quadro. Se precisar disso, é porque as condições estão mesmos desfavoráveis e, então, os aliados já migrariam para outro barco.
TB: Como o Sr. vê o cenário político no RJ?
CM: No Rio, vejo o Cabral muito acuado e o Paes também. Há ali mais espaço para oposição do que em SP. Lembre-se que, lá, o Gabeira quase levou.
TB: O mensalão ainda pode atrapalhar o atual governo ou já é água passada?
CM: As fotografias, quando e se houver prisões, podem ser fortes. Mas, as condições da economia e a capacidade de sedução dos candidatos (com o futuro) tendem a ser mais importantes e determinantes.
TB: Aproveitando a pergunta anterior, mas em relação a indicadores econômicos, o que pode pesar negativamente do que já está no cenário uma candidatura da presidente Dilma Rousseff? E o que poderia aparecer…
CM: Tenho um defeito (ou qualidade, sei lá…): não sou economista. Mas, acho que a deterioração será lenta e, portanto, de alcance apenas relativo. Para afetar mesmo a reeleição, creio, apenas uma considerável piora dos índices de emprego.
TB: Aproveitando a pergunta anterior: Será que teremos uma conduta da equipe econômica, mais coerente, não cada um falando uma coisa?
CM: A coerência é uma questão de ponto de vista. Não vejo muito o que possa alterar a equipe econômica no curto e médio prazo. A não ser que haja uma piora ou mesmo um rebaixamento em termos de graus de confiança.
TB: A aliança de Marina com o Eduardo Campos, não fortalece o Serra dentro do PSDB, já que o argumento da candidatura Aécio era de aglutinar as forças da oposição, principalmente o Eduardo Campos? Pode-se afirmar que a candidatura do Aécio murchou?
CM: Depende. Haverá necessidade de um discurso mais duro do que o de Aécio. Se Campos ocupar a esquerda e Dilma vier para o centro, talvez haja espaço para uma candidatura mais contundente que a de Aécio. Não gosto desses termos: direita, esquerda, centro. Mas, ficam como referência.
TB: Duas perguntas: qual o nome mais óbvio hoje para compor como Vice de Dilma e, qual o direcionamento possível do Partido Solidariedade?
CM: O vice de Dilma será o Michel Temer. O Solidariedade vai para oposição — que pode ser Aécio ou Campos (se ele crescer e as condições, na Rede, permitirem).
TB: Faltando ainda um ano, parece que os principais candidatos serão Dilma, Campos e Aécio. Como o Sr. vê os cenários das coligações, importantes para definir o tempo de TV, por exemplo?
CM: As coligações são fundamentais; tempo de TV conta muito. Mas, neste momento, ninguém fecharia acordos com tranquilidade. Todos vão esticar a corda. Não se faz opções antes da hora.
TB: Nós aqui em SP conhecemos muito pouco o Eduardo Campos, se ele for eleito o que podemos esperar dele? Em termos econômicos a Marina me parece muito bem assessorada, acredita que a equipe dela pode ter força dentro dessa chapa?
CM: Acho que Eduardo seria uma volta ao governo Lula. Ou seja: uma postura de responsabilidade com fundamentos macro econômicos e preocupação social. Mas, as condições também lhe exigirão providências quanto às questões estruturais. Reformas que já parecem inevitáveis há muito tempo talvez voltem à cena. Tendo a acreditar que o pessoal que está com Marina, pelo menos, se disponha a ouvir Eduardo. Acho que até já têm ouvido. Voltando ao Eduardo Campos, em eventual governo: vejo ele como muito mais político (no bom sentido) do que Dilma. Portanto, pragmático. Não o vejo dando murros ideológicos em ponta de faca.
TB: Agora olhando um pouco a questão diplomática, como você enxerga a postura diplomática brasileira diante de tantas denúncias de espionagem americana, e agora também Canadense, sobre o Ministério de Minas e Energia?
CM: Quanto à diplomacia era preciso reclamar e externar o desconforto. Mas, não era o caso de fechar portas. Obama deve explicações, até para que o governo brasileiro não seja humilhado. Mas, mais que isso, me parece exagero. No mais, é cuidar para se proteger desse tipo de espionagem. Sempre houve e haverá; cabe buscar a maior segurança.
TB: Acredita ser o melhor debate eleitoral que vamos ter na história política brasileira?
CM: No Brasil, o fundo do poço é falso (heheheh). Então, nunca assino embaixo de coisas como o melhor ou o pior. Pode ser bom. Mas, já tivemos momentos melhores e piores. Tudo depende também da sociedade. Se ficarmos dando trela e exclusividade à questões sobre união homoafetiva e ou abordo — questões que julgo estão no âmbito do direito do individuo, perderemos o timing do processo de desenvolvimento nacional.
TB: Concordo, é esperar os programas de governo que depois perdem seu valor…
TB: O fato de Marina, uma mulher, muitas seguidoras femininas, candidatar-se como vice e não concorrer a presidência diretamente, tendo no Brasil as mulheres como maioria do eleitorado, será que manteriam o apoio em Marina-vice mesmo tendo um candidato a presidência masculino ou não existe essa preocupação?
CM: O eleitorado feminino é muito importante. Mas, essas mulheres não são importantes porque são “apenas” mulheres. São importantes porque são mães, porque conduzem famílias, têm responsabilidades e preocupações. O fato de ser mulher é apenas mais um detalhe; ficar só nisso é pouco.
TB: Eu sei que o Sr. ponderou que estamos a um ano do pleito e que, na política, isso é quase uma eternidade… Mas qual seria a sua aposta? Ou o seu cenário base para o resultado da eleição presidencial em 2014 considerando os elementos que temos hoje?
CM: Não faço apostas. Pelo menos, não com o meu dinheiro e muito menos em se tratando de Política. Aos olhos de hoje, Dilma é muito forte e possui os mais robustos recursos políticos. Será assim daqui um ano. Se você me responder e garantir; eu aposto.
TB: E pra encerrar… Acha que seria melhor para o país mudar o atual governo ou continuar com ele?
CM: Melhor ou pior na concepção pessoal não são categorias de análise de um analista político. Nossa questão é discutir se um ciclo político se encerrou ou não; se esgotou e se há elementos de renovação. Acho que este seria um bom tema para um novo encontro.
TB: O senhor acredita que após 3 mandatos, chegou ao fim o ciclo do PT? Principalmente após os protestos?
CM: Minhas categorias de raciocínio estão por aí: o Brasil precisa dar um salto; cumprir uma agenda de transformação política, econômica e social. Quem está mais apto para isto? Acho que há um desafio para o qual este mandato não tem apresentado respostas: a questão das reformas ainda é fundamental. Os protestos foram rapidamente incorporados por todos os partidos políticos. Qualquer um hoje se diz representante da massa que foi às ruas. O problema é que não são. Não todos. Há grande farisaísmo nisso.
Fonte: Reuters Brasil
Data: 08/10/2013