O erro mais comum de quem quer investir é deixar essa decisão para “quando sobrar um dinheiro”. Mesmo pessoas pouco endividadas, mas sem o hábito de poupar, acabam colocando a poupança em segundo plano diante das necessidades, supérfluas ou não, como uma emergência médica, uma viagem ou a compra de bens. É para essas pessoas que o débitos programados de investimento podem ser usados como uma importante ferramenta de educação financeira.
Esse tipo de débito é oferecido pela maior parte dos bancos e corretoras e para produtos que vão desde a caderneta de poupança até aplicações em ações. Tendo o objetivo em mente — uma poupança para emergência, para a aposentadoria ou para um plano a curto prazo —, o correntista pode optar pela opção que mais atenda às suas necessidades.
O superintendente executivo de Investimento do Santander, Christiano Ehlers, explica que esse tipo de ferramenta é adequado para quem tem recorrência de recursos na conta corrente, ou seja, tem uma data para receber um salário ou algum outro tipo de renda.
— É a melhor forma para se ter disciplina. É só fazer o cadastro que o débito vai acontecer. Se deixar para depois, o cliente acaba gastando. É um problema cultural a falta de hábito de poupar e tentamos trabalhar para que isso mude.
Ehlers explica que no banco é possível fazer programações para depósito em poupança com um débito mínimo a partir de R$ 10. Na previdência privada, há opções a partir de R$ 30 e, em fundos de investimento, o mínimo é de R$ 100.
Mesmo sem ter uma renda recorrente, o dentista Eduardo Miranda possui um débito programado em sua conta para aplicar na caderneta de poupança. A experiência teve início há quase dez anos e foi a saída encontrada para ter um dinheiro para emergências.
— Esse tipo de débito é uma boa opção para quem não tem muita disciplina. Com o débito programado, eu não preciso me organizar e é uma coisa fácil de trabalhar — afirma.
Mas o débito programado não significa deixar de cumprir algumas obrigações. Marcos Daré, diretor de Investimentos do Bradesco, lembra que se a opção for por um fundo, é preciso saber qual o perfil do investidor e, para isso, o cliente tem de responder a um questionário, conhecido no mercado financeiro como API (análise de perfil do investidor). É esse documento que irá mostrar qual tipo de risco o investidor está propenso a correr. A partir da definição do perfil, é possível programar o débito para o fundo adequado.
— Com a programação automática, o cliente define prazo, data das aplicações, mês de início das operações e valor a ser investido — explica.
O banco oferece ainda opções para o mercado de ações, através da Bradesco Corretora, e pela conta poupança, que pode ser inclusive programada para o investimento para outras pessoas — como o início da formação da caderneta dos filhos.
No Banco do Brasil, a programação para o investimento em fundos pode ser feita para até 48 meses. Já na Caixa Econômica Federal, há dois fundos de curto prazo que oferecem a opção de débito em conta a partir do valor de R$ 100.
Apesar da facilidade, o professor Michael Viriato, coordenador do Laboratório de Finanças do Insper, lembra que é preciso saber detalhes sobre em que está se investimento, como prazo, liquidez e rentabilidades.
Checagem periódica
Viriato também orienta o investidor a reavaliar, periodicamente, se essa aplicação está sendo a melhor possível.
— Esse tipo de débito ajuda a educar o investidor, mas ele tem que tomar cuidado para não insistir em um produto que deixou de ser interessante. O ideal é checar semestralmente como esse investimento está indo e, se necessário, mudar — recomenda.
Ele também afirma que esse débito, mesmo programado, deve ter o valor elevado a cada ganho de renda que o investidor tiver anualmente.
O autor do livro “Seu Bolso”, Dony de Nuccio também vê essa ferramenta como importante para disciplinar o investidor.
— Algumas pessoas têm dificuldade em poupar. A consciência de que é importante todo mundo têm, mas a disciplina é mais difícil. Mas a aplicação programada não é o único passo. É importante também escolher o investimento adequado — afirmou.
Fonte: O Globo – 08/12/2014