10/06/2014
O investimento em inovação pode ser uma ferramenta importante para remover ou minimizar os gargalos de infraestrutura existentes no País. Resolver os problemas de logística é essencial para aumentar a competitividade da economia brasileira e permitir uma inserção maior das empresas locais no mercado global.
Para a vice-presidente para Assuntos Governamentais e de Políticas Públicas da GE América Latina, Adriana Machado, uma das principais lacunas da infraestrutura logística brasileira é o baixo investimento em ferrovias. “Nessa questão de infraestrutura, a gente sabe o que tem de fazer, há estudos que mostram as soluções,o que precisamos é acelerar a execução das coisas”, afirmou. Segundo a executiva, para competir de forma global é preciso velocidade. “O mundo não para e está girando cada vez mais rápido.”
A falta de decisão política para fazer as obras necessária sem infraestrutura também é, para o diretor de operações de negócios de centro de P&D da EMC, Fred Arruda, a principal barreira para o desenvolvimento brasileiro em pesquisa e inovação. “É preciso ter coragem de colocar o dedo na ferida e ciência e tecnologia não deve dar voto”, criticou Arruda. “É inacreditável ter uma Zona Franca de Manaus sem infraestrutura de energia e telecomunicações.” Ele também lamentou o fato de apenas 12% dos cursos de pós graduação no Brasil terem nível internacional.
O vice-presidente executivo de Engenharia e Tecnologia da Embraer, Mauro Kern, disse que, além de cobrar do governo, é preciso criar um ambiente de colaboração para que se avance em várias áreas, como infraestrutura e inovação. “Temos dificuldades e desafios monumentais a superar e precisamos pensar o que nós, em conjunto, podemos fazer melhor”, disse o vice-presidente da Embraer, lembrando ainda a contradição entre um País que é a sétima economia do mundo, mas tem apenas o 85.º lugar no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).
Segundo Kern,é de responsabilidade de todos – empresas, governo, universidades – criar iniciativas para o desenvolvimento do País.“ É possível a gente tomar iniciativas e construir soluções para questões estruturais. Iniciativa é uma ação que está na primeira pessoa”, reforçou o executivo.
Rodrigo Fonseca, diretor da Finep, afirmou que percebe um certo otimismo por parte de empresas para investir em inovação.“ A despeito de algumas notícias negativas, a demanda da Finep tem crescido muito e o interesse das empresas motiva a trabalhar muito mais.”
Lei do Bem. Os executivos comentaram ainda a existência da Lei 11.196/05, conhecida como Lei do Bem,que concede incentivos fiscais às empresas que investem em pesquisa e desenvolvimento. Para Arruda, apesar da existência da lei ser um instrumento importante para estimular a inovação “há um desconhecimento sobre o tema”.“ Há muitas empresas pequenas que poderiam investir mais.”
Além da comunicação, a executiva da GE ponderou que a Lei do Bem precisa também ampliar sua abrangência.“ Ela é ótima, mas precisa melhorar.”
Kern, da Embraer, ponderou que a questão tributária brasileira em relação à inovação e tecnologia“ tem evoluído mais rapidamente do que em outros setores”. “Mas ela ainda é muito complexa”, ponderou.
Investimento privado em pesquisa está em 0,5% do PIB
O esforço de inovação das empresas brasileiras ainda é pequeno, quando comparado ao investimento feito em outros países “No mundo, em países desenvolvidos, as empresas investem por volta de 2% a 2,5% do PIB em pesquisa e desenvolvimento. No Brasil, os empresários investem o correspondente a 0,5%”, afirmou a diretora do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Fernanda de Negri. “Se somarmos o montante investido pelo governo, chegamos a algo em torno de 1% do PIB. Ainda há um longo caminho para percorrermos.”
Gerson de Mello Almada, diretor da Airship, empresa do ramo aeronáutico, afirmou que o principal desafio brasileiro não está no financiamento. “A falta de recursos tem sido resolvida com mecanismos como os da Finep.” Para ele, o Brasil precisa, principalmente, definir em quais setores é competitivo para que se façam investimentos de forma mais assertiva.
Competição. Segundo o reitor do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), Carlos Pacheco, os investimentos em inovação são fundamentais para o aumento da eficiência e da competitividade. “E investimento é decisivo para aumentar a produtividade”, disse. Ele destacou não ser possível manter o crescimento do País, diminuindo a desigualdade e aumentando a renda real, sem ampliar a produtividade.
José Fernando Perez, presidente da Recepta Biopharma, empresa que desenvolve medicamentos, ponderou que a complexidade da cadeia de inovação exige, além de investimentos, uma visão global de pesquisas. “Não dá para fazer tudo no País, a cadeia de inovação é muito complexa e buscar parcerias é fundamental”, disse.
Internacionalização eleva competitividade, afirma secretário
O secretário de Inovação do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), Nelson Akio Fujimoto, afirmou no fórum que o processo de internacionalização das empresas brasileiras é fundamental para dar um salto de produtividade e inovação.
“A indústria brasileira tem olhado muito para o mercado interno, poucos são os que olham para o mercado externo. Quem atua no mercado externo é mais competitivo e inova mais”, afirmou.
Segundo o secretário, o Brasil aplica 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) em pesquisa e desenvolvimento e tem cerca de mil cientistas e engenheiros para cada um milhão de habitantes. Esse número de profissionais é bastante inferior a outros países, destaca.
“Temos profissionais excelentes aqui, mas a quantidade e a qualidade de alguns setores específicos não nos permitem dar um salto inovador”, afirmou.
Fujimoto destacou que, de 2000 a 2010, o investimento em ciência e tecnologia saltou de R$ 8 bilhões para R$ 32 bilhões. “Esses dez anos de aplicação de recursos foram fundamentais para criar uma estrutura básica de pesquisas nas universidades. Nosso patamar de ciência e tecnologia evoluiu.”
Fujimoto destacou também a importância de investimentos em startups e disse que elas precisam ser cada vez mais incorporadas nas políticas de inovação. “Nenhum país teve sucesso em inovação sem apoiar startups”, afirmou.
Resultado. O professor do centro de políticas públicas do Insper, Naercio Menezes Filho, afirmou que o governo precisa estimular mais a concorrência das empresas e que há muito dinheiro sendo gasto sem resultado. “Temos de permitir que pequenas empresas com novas ideias cresçam”, destacou.
O vice-presidente da Granbio, Alan Hiltner, ressaltou que as políticas brasileiras ainda têm restrições de acesso ao crédito por parte de pequenas empresas. “As garantias exigidas são tão altas que frequentemente não estão ao alcance das startups”, disse. “Acredito na vocação inovadora do Brasil e sabemos que ela depende mais de boa vontade do que de fatores estruturais.”.
Fonte: O Estado de S. Paulo – SP – 06/06/2014