SÃO PAULO
As manifestações em torno do reajuste de tarifas de ônibus, que ao longo do tempo incorporaram outras demandas como a rejeição à PEC 37 – que retira o poder de investigações do Ministério Público – que tomaram as ruas de diversas capitais recentemente foram de alguma forma inspiradas não apenas pela chamada primavera árabe ou por movimentos semelhantes na Europa e em países da América do Sul, como Chile e Argentina, mas foi em especial a migração dos manifestos que já explodiam na internet e que foram para as ruas. A avaliação é do cientista político do Insper Instituto de Ensino e Pesquisa, Humberto Dantas, que conversou com o DCI ontem.
Dantas opina que desde muito tempo o brasileiro tem manifestado sua insatisfação sobre diversos temas pela internet e faz coro a outros especialistas e aos próprios manifestantes de que o reajuste nas tarifas de transporte acabou incorporando outras demandas.
Tivemos recentes manifestos, por exemplo, contra o presidente do Senado [Renan Calheiros], a gente teve coisas mesmo contra o [José] Sarney. A questão era o quanto que a gente conseguia converter essa lógica da internet para as ruas. E aí a gente pode dizer, em termos históricos, que tivemos no Brasil a maior capacidade de conversão das pautas da web em movimentos que foram às ruas’.
Dantas explica que o emprego da internet nessas manifestações consolidou um meio como um mecanismo para organização dos manifestos. ‘Se a gente olhar para o mundo, a gente vai ver que não existe ineditismo na utilização das redes sociais para a organização de manifestos. Então as redes sociais podem ser vistas como um mecanismo de representar uma tendência’. Ainda sobre os protestos da segunda-feira, Humberto Dantas expõe ainda que diante do fato de que o mundo está se manifestando, os internautas brasileiros se perguntavam ‘contra o quê e de que forma iriam para as ruas’.
Protestos são recados
Apesar de reivindicações heterogêneas, os protestos deram alguns recados claros à classe política e ao Poder Público, na avaliação do cientista político da PUC-Rio, Ricardo Ismael. Para ele, entre os pontos de convergência em meio a vozes dissonantes estão a questão do transporte público nas regiões metropolitanas, apontado como estopim das mobilizações, a defesa do direito de protestar e a reivindicação por aumento dos investimentos sociais.
‘A faísca dos protestos não pode ser esquecida: a população não quer o aumento das passagens para um meio de transporte com tarifas caras, qualidade insuficiente e que leva muito tempo para levar e trazer as pessoas, trabalhadores.’
Fonte: Jornal DCI – SP – 19/06/2013